Inda outro dia, durante a votação do Código Florestal no Plenário da Câmara de Deputados, ouvi uma pérola inimaginável e fiquei algo entre estupefato e atônito.
A certa altura, a ex-Senadora Marina Silva, que se encontrava presente na Câmara Baixa, fez publicar, através de uma rede social da internet, um comentário desairoso em relação ao Deputado Aldo Rebelo, dando conta de que ele teria fraudado o texto final que fora acordado entre as lideranças partidárias, para fazer incluir dispositivo que os ambientalistas entendiam como benéfico aos desmatadores.
Emocionado e profundamente magoado, o Deputado do PC do B de São Paulo, postou-se diante do microfone à sua frente e passou a explicar que não havia perpetrado nenhuma fraude, pois o texto modificado que apresentara, fora acordado com o Deputado Vaccarezza, Líder do Governo na Casa de Leis.
Mas não parou aí, seguiu dizendo que fraude cometera o marido da ex-Senadora, quando se encontrava à frente do órgão ambiental federal, o IBAMA, na Amazônia e, cobrando a ingratidão da ex-Parlamentar, asseverou que ela não poderia falar mal dele, pois fora ele quem, mesmo sabendo da fraude, articulou junto aos demais Deputados para evitar que o Congresso convocasse o consorte da, então, Ministra do Meio Ambiente.
A um tempo, Sua Excelência delatou o desvio de conduta do ex-dirigente da instituição federal, assegurando ser verdadeira, e confessou a prática de dois crimes praticados por ele mesmo: prevaricação (aquele no qual o servidor público, tomando conhecimento da prática de ilícito, deixa de adotar a providência legal cabível) e favorecimento pessoal (consistente no auxílio ao autor de algum delito para que ele não se apresente a autoridade pública). Ou seja, todo o Brasil, através da TV Câmara cuidou em assistir a confissão de prática criminosa por parte de um Deputado, como se dizia outrora, “ao vivo e a cores”.
Para o meu espanto maior ainda, enquanto o ilustre parlamentar confessava os delitos, os seus pares o aplaudiam entusiasmados, saudavam-no efusivamente. Uma cena deveras surreal. Transmudava-se e confundia-se o torpe com heróico. Era a expressão encarnada de Macunaíma.
E tudo isso tinha o objetivo de afastar do grande público a certeza de que a Câmara votava algo ruim, desviando o foco para o ataque feito a um Deputado cujo mal que perpetrara tinha sido o da lealdade à ex-Senadora e ao seu marido.
Essa semana, os Deputados Estaduais, liderados pelo Deputado Francisco Gualberto a pretexto de explicitar indignação pelo ato praticado pelo SINTESE na “queimação” de bonecos de pano representando os parlamentares que votaram a favor do projeto de lei complementar encaminhado pelo Governo do Estado para reajustar os vencimentos dos professores fragmentando a carreira, tentaram postar-se como verdadeiras vítimas de uma atrocidade. Não se pejaram, vários deles, em relatar fatos inverídicos e alterar a verdade. Foram pródigos em acusações infundadas.
A tentativa de autovitimização fez-me recordar o discurso de Aldo Rebelo – não que aqui alguém tenha confessado a prática de algum delito criminalmente passível de punição. Tal tentativa de ocultar o dano que os parlamentares haviam praticado à Educação e aos educadores sergipanos, desviando o foco das atenções do grande público para o suposto ataque a pessoas que apenas cuidaram em reajustar salários, foi fulminada pela efemeridade e pelo descrédito.
A manobra, aqui, como alhures, parece ter resultado infrutífera. Em ambos os casos as pretensas vítimas não conseguiram convencer o respeitável público.