A disputa pela paternidade do hospital do câncer entre os políticos sergipanos é vazia e conta com a desinformação da população sobre o tema. Todos, os “pais do hospital” quando defendem a construção como necessária para o povo sergipano, não aprofundam o que vem gerando tão grande número de pessoas acometidas dessa doença. Queremos deixar claro que somos a favor da construção do hospital, pois os sergipanos doentes têm sofrido com a falta de medicamentos e aparelhos quebrados. Entretanto, a centralidade do debate deveria ser: O que está gerando o aumento dos casos de câncer em Sergipe e no Brasil? e como pensar políticas públicas para diminuir os casos de pessoas acometidas desse mal?
Estudos de Universidades e Institutos Superiores, em todo país, têm denunciado a relação existente entre o crescimento do índice de pessoas com câncer e o uso de agrotóxicos, basicamente, através da alimentação. Não são só as pessoas que manipulam o veneno que estão sujeitas a adquirir doenças. Essas doenças têm aumentado, também, entre os consumidores como câncer de próstata, testículos, mama, ovário e tireóide. Portanto, o uso de agrotóxicos na agricultura está relacionado a diversos tipos de câncer, aí incluídos os cânceres hematológicos, do trato respiratório, gastrointestinais e do trato urinário, entre outros.
Relatório do Programa Nacional de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, divulgado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aponta contaminação de cerca de 40% do tomate, alface e morango consumidos pelos brasileiros. De acordo com o documento, os riscos à saúde, tanto de trabalhadores das lavouras quanto de consumidores, é decorrente do uso de agrotóxicos não autorizados ou acima dos limites máximos permitidos pela legislação.
A utilização de agrotóxicos na agricultura foi iniciada na década de 1920, mas somente depois da segunda guerra mundial tais produtos passaram a desempenhar, em nome do lucro, importante papel na agricultura que resultaram na Revolução Verde. Esse modelo agrícola, rotulada pelos defensores dos interesses da empresas multinacionais que controlam a produção de agrotóxicos de moderna e avançada trouxe sérias conseqüências ao meio ambiente, contaminando o solo, a água e ar. Além disso, a produção agrícola contaminada pelo uso indiscriminado desses produtos acarreta conseqüências ao conjunto da população que vem consumindo alimentos causadores de doenças e morte.
Contudo, agrotóxicos cada vez mais poderosos estão sendo desenvolvidos pelas multinacionais que vem provocando a morte, não apenas das pragas, mas dos organismos existentes na natureza. O resultado dessa ação é o desequilíbrio ambiental que vem provocando um ciclo vicioso: quanto mais se usa agrotóxicos, maiores são os desequilíbrios provocados no meio ambiente e maior é a necessidade de uso em doses mais intensas e com formulações cada vez mais tóxicas. Daí o aumento de pessoas doentes decorrente de constante aumento das doses nos alimentos que consumimos todos os dias. Infelizmente o combate ao consumo de veneno que inserimos diariamente não está na preocupação do debate político dos nossos representantes.
Para os estudiosos, é necessário que se criem políticas públicas que viabilizem uma produção agrícola sem o uso de agrotóxicos. O problema do agrotóxico não é mais só do agricultor, mas também do consumidor. O Brasil é o maior consumidor de agrotóxico do mundo. Atualmente, cerca de 451 produtos químicos estão registrados e mais de 1090 produtos químicos são comercializados em território nacional.
Diante do exposto, analisamos a Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2012. A Secretaria de Estado da Agricultura de Sergipe com um orçamento R$ 202.524.172,00 está prevendo um investimento de apenas R$ 50.000,00 para prestação de assistência técnica e controle do uso de agrotóxicos nos perímetros irrigados. Já o Plano Plurianual (PPA) 2012-2015 não há nenhuma meta que lida diretamente com o controle e políticas de superação do uso de agrotóxico na agricultura e pecuária sergipana.
Portanto, não temos dúvidas da importância do Hospital do Câncer, mas é fundamental que o debate central seja a formulação de políticas públicas para reduzir o uso de veneno na agricultura, orientação aos agricultores dos riscos para o meio ambiente e a saúde humana, bem como a intensificação da fiscalização e financiamento de estudos para buscarmos formas alternativas de plantio de alimentos saudáveis tanto para consumo humano quanto para o meio ambiente.