Por que a senhora votou contra o projeto de reajuste dos servidores?
Ana Lucia: Entendo que não é possível continuar aprofundando uma política que gere distorções profundas entre servidores públicos com a mesma formação profissional, o que resulta sempre em melhoria na remuneração para poucos em detrimento da maioria dos trabalhadores do serviço público.
O governo é do PT e a senhora deputada também do PT. Não é contraditório votar contra um projete de reajuste do governo que a senhora defende?
Ana Lucia: Essa lógica não é a da cultura democrática, mas a da submissão de um poder ao outro, ou seja, do alinhamento automático sem o exercício efetivo da ação parlamentar. Eu vou continuar defendendo o Governo do Companheiro Déda, mas para isso tenho que continuar sendo coerente com o que sempre defendi como princípios basilares de uma politica que efetivamente valorize o conjunto dos profissionais de carreira no serviço público. A população tem descrédito de políticos que possuem um discurso quando estão na oposição e outro distinto quando viram situação.
Os professores permanecem em greve. O que está inviabilizando as negociações com o governo?
Ana Lucia: Nós últimos 20 anos, o Déda foi o Governador que efetivamente possibilitou que os professores avançassem no aumento real do poder aquisitivo e possibilitou a recuperação de perdas. Entendo que a saída para a greve implica no Governo assegurar para o Magistério Estadual que a carreira da categoria será integralmente preservada, que o reajuste será igual para todos os níveis e que o parcelamento do retroativo será pago ainda em 2011. Eu reconheço as dificuldades do Governo, mas aposto na disposição do Governador Marcelo Déda para negociar com o SINTESE, pois essa tem sido a sua prática e agora não será diferente.
A senhora acredita que na próxima semana depois de uma nova rodada de negociações a situação seja resolvida?
Ana Lucia: A Comissão de Educação da Assembleia Legislativa vai realizar uma audiência pública na próxima segunda-feira, 30 de maio, cujo objetivo é ouvir a presidenta do SINTESE, Professora Ângela Melo, e o Secretário de Estado da Educação, Belivaldo Chagas. Creio que o SINTESE, O Governo de Sergipe e a Assembleia Legislativa irão trabalhar para que as negociações sejam concluídas em breve e a greve possa ser suspensa.
O governo do Estado propôs pagar a diferença a partir de janeiro de 2012 e o Sintese não aceitou. Está faltando por parte do Sintese confiança no governo de Marcelo Déda?
Ana Lucia: Nesse caso não se trata de uma questão de confiança, pois o Governador tem cumprido todos os seus acordos, porém o que os professores não aceitam é que seja institucionalizada uma bola de neve. Numa temeridade, caso isso se concretizasse, o que é devido para ser pago em 2011 será em 2012, os valores do Piso do Magistério de 2012 serão postergados para 2013 e assim por diante, de modo que o Estado passará a rolar sempre para o ano seguinte um passivo trabalhista com os educadores da Rede Estadual de Sergipe. Aí sim, teremos uma situação inadiministrável.
A senhora tem deixado claro sua preocupação com o tratamento diferenciado que vem sendo dado pelo governo a algumas categorias, a exemplo da Policia Militar com a Polícia Civil. Qual o temor da senhora?
Ana Lucia: A política de valorização das Polícias Militar e Civil foi correta, fruto capacidade de organização e mobilização dos policiais, como também da compreensão do Governador Déda que a segurança pública passa pela valorização dos membros das duas instituições policiais. O problema é que pouca gente sabe que um professor ganha menos que um policial militar não engajado ou de um policial da civil sem a formação de escolaridade exigida atualmente pela legislação. Porém, as distorções e disparidades estão em outros segmentos do serviço público.
Em 2012 acontece eleição para prefeito. A senhora defende que o PT tenha candidato a prefeito de Aracaju?
Ana Lucia: Dentro do PT esse tema será tratado na unidade. Isso quer dizer que todos apoiam que o PT tenha candidato a prefeito de Aracaju.
A tendência que a senhora faz parte, Articulação de Esquerda vai disputar a indicação do candidato do partido?
Ana Lucia: Existe um provérbio chinês que diz o seguinte: “não apresse o rio que corre”. Talvez nem seja preciso o PT fazer uso do mecanismo das prévias para escolha do candidato e tenhamos a unidade em torno do nome com maior densidade eleitoral e apelo popular. Caso, esse nome seja da Articulação de Esquerda ou de outra corrente do PT, a escolha será resultante das estratégias deliberadas pelo partido para a disputa eleitoral de 2012. Porém quero salientar, que caso o PT decida que o melhor caminho para a escolha do candidato seja o do exercício democrático das prévias partidárias, certamente também estará dando um exemplo para a sociedade sergipana de que o partido não é de cúpula e que as escolhas dos seus caminhos representam a vontade da maioria dos seus filiados. Efetivamente essa questão não está na lista das minhas preocupações.
Como é que a senhora ver as acusações do seu colega parlamentar Venâncio Fonseca, de que o Sintese é um braço politico dentro do PT?
Ana Lucia: A história de vida do deputado Venâncio é sempre em oposição à organização e a luta dos trabalhadores. O SINTESE faz a política do bem comum, aquela centrada na defesa dos interesses individuais e coletivos do Magistério Público, ao tempo que se constituiu numa instituição respeitada até nacionalmente pelo seu compromisso com a luta pelo direito à educação em Sergipe. O SINTESE é um sindicato educador, que tem proporcionado os grandes os debates educacionais em nosso Estado, atuado decisivamente na formação permanente dos professores, na busca incansável pela gestão democrática e batalhado para que ocorra regularmente a manutenção e a reforma dos prédios das escolas. O filme “Carregadoras de Sonhos”, uma produção do SITESE, é um excelente exemplo do trabalho da política sindical/educacional desenvolvido pelo sindicato, tendo sido exibido até agora em universidades de vários países. È visível que o trabalho desenvolvido pelo SINTESE contribui para formar cidadãos mais ativos, com mais senso crítico, conhecedores dos seus direitos e deveres, além de mais politizados.