Por dois no médio significa mais no superior
Nivelamento exigiria mais dois anos de estudo
Os alunos do ensino médio público teriam de estudar mais dois anos para “alcançar” os colegas da rede particular de ensino. A conclusão é do professor Ocimar Munhoz Alavarse, da Faculdade de Educação da USP.
Geralmente, os alunos do ensino médio público saem do ensino médio com a formação que deveriam ter ao deixar o ensino fundamental. A conclusão é do professor Ocimar Munhoz Alavarse, da Faculdade de Educação da USP, diante da revelação de que 80% das escolas públicas não atingiram a média (553,73 pontos) nas provas do Enem. Segundo ele, o exame confirma a defasagem já apontada em outras avaliações, como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
“O governo e os estados, responsáveis por 97,5% da rede pública, precisam articular uma reforma profunda”, afirma. Para o especialista da USP, uma mudança amparada em três vertentes: injeção de recursos (incluindo melhoria salarial dos professores), reforma física e organizacional das escolas e melhoria da formação dos professores. “Outra solução seria a substituição do vestibular por um sorteio nas universidades públicas, para corrigir desigualdades.”
Alavarse alerta para riscos na comparação da rede pública com a privada, já que a primeira responde por 88,2% de um universo de 8,35 milhões de alunos. Para Nélio Bizzo, da Faculdade de Educação da USP, comparar é uma “perversidade”. “Você pode avaliar os alunos, mas não pode comparar as escolas porque é uma injustiça com as públicas. Elas não estão preparadas para que seus alunos façam o Enem, enquanto as privadas escolhem os melhores para fazerem as provas”, disse.
Para Alavarse e Bizzo, as escolas particulares perceberam que o ranking do Enem é uma propaganda forte e têm investido na avaliação. As melhores escolas, segundo eles, fazem um processo de seleção dos alunos, enquanto a escola pública regular trabalha com todo tipo de público, sem distinção.
Para Mozart Neves Ramos, conselheiro do Todos Pela Educação, o Enem foi criado para servir de impulso à mudança no ensino médio, que, segundo ele, está ‘estagnado desde 1999’. “O que temos visto na prática é que o Enem precisa mudar a formação do professor. Sem isso, o Enem vai ficar inócuo”.