“Há homens que lutam um dia, e por isso são bons (…)” Manhã calorenta de um sábado, nos idos dos anos 90, tinha acabado de sair do meu interior para, trabalhar, estudar e viver na capital. Sempre gostei de movimentos de luta, de contestações da ordem conservadora, de combater injustiças, sempre sonhei com outro “modelo” de sociedade.
Logo me identifiquei com pessoas e grupos que compunham um partido cujo programa apontava esperanças na realização de muitos dos sonhos das trabalhadoras e trabalhadores desse país, sonhados coletivamente, anunciados nas ruas, defendidos em praças, em assembléias e congressos. Outra Escola Pública, outro Projeto de educação para o povo. Esse é um grande sonho, um sonho de muitas mulheres e muitos homens que integram o magistério público brasileiro.
O título desse texto e a frase que o inicia são emprestadas do poeta revolucionário B. Brecht. Não foi por acaso que me serviu de inspiração para falar o que aqui expressarei. A primeira vez que ouvi esse poema foi em uma reunião partidária, na Galeria Girassol (anos 90), Rua Siriri, quase esquina com Rua São Cristovão. Um homem inteligente e de eloqüente oratória fazia uma fala muito interessante e nesse contexto, recitou “Os que lutam”.
Fiquei tomada por profunda reflexão sobre o conteúdo do poema e admirada com a força da interpretação do orador: O homem, meu povo, era Marcelo Déda, hoje governador de Sergipe. E para ele vou falar dos meus sentimentos de professora. Para onde vamos no ano 2011? O que será da educação pública em Sergipe? Fechar-se-á a primeira década do Século XXI, com índices vergonhosos, um dos piores IDEB,s do país. Somos o menor território, isso é um elemento facilitador na execução de políticas públicas. Cadê elas? E o Projeto de lei da Gestão Democrática? A Gestão Democrática não será a panacéia da escola. Todavia, não dá para prosseguir como está.
Governador, há pessoas (apadrinhadas) que a cerca de duas décadas, estão dirigindo escola! Isso sem jamais terem o trabalho avaliado, algumas com fortes indícios de práticas de corrupção com os parcos recursos repassados, as escolas, pelo FNDE. Não governador! Não dá para continuar assim. Estamos chegando ao fundo do poço. Quem tem compromisso ético com o seu fazer, está adoecendo, desistindo da profissão, embora continue no vínculo. Qual é a política educacional do Governo de Sergipe? Pré-vestibular? Não sou contra esse projeto. Sou contra e estou decepcionada e indignada com o abandono do “resto” da educação. Escolas caindo, sujas, feias, faltas de material, equipamentos didáticos, ausência de formação continuada de professor, relações pedagógicas burocráticas e autoritárias, desvalorização profissional. Cadê as bibliotecas escolares? O senhor defendeu “esse sonho” quando deputado estadual constituinte, lembra-se? O senhor finalizou 04 anos de mandato e esforço algum fez para intervir na caótica realidade da educação.
Achando pouco tudo isso, aponta a Gestão Democrática na pauta de negociação com o SINTESE, agora durante a greve! Não! Não há mais o que negociar. O projeto está pronto, o SINTESE já o encaminhou a Vossa Excelência, faz tempo. Agora é o senhor que deve ter a coragem de dizer aos parlamentares: pessoal, a festa acabou! Chega de “lotear” as escolas em capitanias hereditárias! Vamos votar o projeto e instituir a gestão democrática na Rede Estadual! A história registrará essa ação de coragem e de compromisso mínimo com a educação pública. A outra ação, é reconhecer que temos uma carreira, conquistada à base de árduas lutas, e definida em Lei Estadual.
O senhor deve, portanto, respeitá-la e cumprir o que estabelece a Lei Federal que instituiu o Piso Salarial. “Os que lutam toda a vida, é que são imprescindíveis” Cadê as suas lutas, governador Marcelo Déda?
* Professora da Rede Estadual de Sergipe e da Rede Municipal de Aracaju