Del Vilela*
O artigo. 22 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, lei 9.394 de 1996, determina qual deve ser a finalidade da Educação Básica Nacional. A lei assim define: “A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”. O texto da lei aponta, portanto, três finalidades para o ensino básico: exercício da cidadania, progredir no trabalho e nos estudos posteriores. Entretanto, apenas o terceiro item está sendo levado em consideração pelas escolas públicas e privadas.
Qualquer aluno do ensino médio ao menos já ouviu falar de Machado de Assis ou de José de Alencar, nomes frequentes nas listas de livros cobrados pelos vestibulares. Mas é difícil encontrar quem já tenha lido Cristovão Tezza ou Luiz Ruffato, só para citar dois ganhadores do Prêmio Jabuti nos últimos anos. Os professores de história e literatura têm dificuldades em trabalhar com seus alunos. Um dos motivos, segundo os mesmos, é a falta de tempo, pois o ensino da história e da literatura segue uma ordem cronológica que é cobrada pelas provas.
O mais contraditório desse processo são as universidades públicas que estimulam esse modelo de ensino ”capenga”. Entretanto, as orientações curriculares do Ministério da Educação para o ensino médio já dizem que a ordem não precisa ser seguida, mas os professores e alunos seguem pelo fato de as universidades públicas exigirem nos concursos.
As listas de conteúdos para o vestibular tornam o ensino médio desestimulante para aqueles alunos que não querem fazer o vestibular e sim a conclusão da educação básica para conseguirem emprego. Além disso, o modelo predominante no país aponta para uma questão extremamente grave: o ensino básico está cada vez menos preparando os estudantes para o exercício da cidadania. A ausência de acesso as leituras diversificadas, a pesquisa, a produção de texto, está transformando crianças, adolescentes e jovens em pessoas individualistas, consumistas e alienadas, adaptadas aos padrões de “Malhação”.
Entendemos que uma das alternativas para superação dessa situação no ensino de história e de literatura é comparar as diferenças entre as estéticas de escritas sobre temas literários, bem como os períodos históricos. Entender a história para compreender o presente tornaria as leituras mais prazerosas. O uso de filmes ou peças teatrais pode ser um caminho para que entendam o contexto e os estimulem a ler. Todavia, continuar com esse modelo de preparação para o vestibular é um erro – e as escolas devem repensar. Além disso, cabe destacar também o papel que as Universidades públicas poderiam (deveriam?) ter de alterar o formato das provas a fim de estimular outra formulação de aprendizagem para o Ensino Médio no país.
Há muitos brasileiros que podem se beneficiar de uma melhor qualificação já no ensino médio e que, além disto, estão insatisfeitos em reproduzir práticas conservadoras aprendidas na escola. Afinal, um mundo melhor não deve ser privilégio de quem passou no vestibular.
* Del Vilela é o acrônimo de Adelmice Vilela de Almeida; Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas, Licenciada em Letras/Português e Especialista em Pedagogia Empresarial.
Texto foi publicado no Jornal da Cidade no dia 20/04/11 ed 11.629 p.B-6