Professores, estudantes, diretores de escolas, representações estudantis, dirigentes sindicais, autoridades e demais atores que compõem o cenário da educação em Sergipe tiveram a oportunidade, na tarde desta quarta-feira, 11, de debater sobre as formas de violência presentes no ambiente escolar. O debate ocorreu na Assembleia Legislativa de Sergipe (ALESE), durante a audiência pública “A violência na sociedade e seus reflexos na escola”, promovida pela Comissão de Educação e Cultura da ALESE, que tem como atual presidente a deputada estadual, professora Ana Lúcia.
Para aprofundar e contextualizar a tão frutífera discussão, compuseram a mesa de debate os professores doutores e pesquisadores da área de criminologia Andréa Depieri (Universidade Federal de Sergipe) e Riccardo Cappi (Universidade Estadual de Feira de Santana e Universidade do Estado da Bahia). Presentes na mesa para contribuir com o tema estavam também a presidente da SINTESE, professora Ângela Maria de Melo; a Superintendente da Secretaria de Estado da Educação, Marieta Falcão e o representante da União Sergipana dos Estudantes Secundaristas (USES), Jan Victor.
O professor Dr. Riccardo Cappi abriu as explanações e colocou que a violência está presente onde não há espaço para o conflito, onde não há espaço para enxergamos o outro. “Por isso espaços com estes são importantes, para que as diferenças possam emergir. A violência se dá quando não há espaço para o outro”. Para o professor o contexto social violento que vivemos é fruto da negação de direitos a população, de uma violência estrutural, que também é vista dentro das escolas. “As escolas também são espaços de reprodução da desigualdade social, temos a escola do rico e a escola do pobre com seus problemas estruturais graves”, afirmou Riccardo Cappi.
Em seguida foi a vez da professora Drª Andrea Depieri contribuir com a discussão. A professora apontou que a escola é o primeiro local de sociabilidade do ser humano e por tanto deve ser um espaço de resistência. “A escola deve ser um espaço de resistência onde deve haver a mediação do conflito, pois não temos muitos outros espaços para experimentar outros modelos de sociedade”, acredita.
“Bem-vindo ao inferno”
Enquanto a Comissão de Educação e Cultura da ALESE promove um debate que se preocupa em refletir e discutir, com os mais diversos atores sociais, sobre a violência nas escolas. Não perdendo de vista que as escolas estão dentro de um contexto social, um contexto que diariamente submete mulheres, criança, homens e jovens a negação de direitos, a desigualdade e a discriminação.
Enquanto estudantes, professores e militantes sociais tentam encontrar formas e propor encaminhamentos para que o poder público e as comunidades escolares andem lado a lado na busca por minimizar a violência dentro das unidades de ensino, o Secretário de Estado da Educação, Jorge Carvalho, ao receber um dos novos integrantes de sua equipe, profere a seguinte frase: “Bem-vindo ao inferno”.
Em sua fala durante a audiência, a presidente do SINTESE, Ângela Maria de Melo, fez questão de expor o triste episódio e a partir de questionamentos mostrar quão negativa e reforçadora de estereótipos foi a colocação do secretário. “Qual mãe, qual pai quer matricular seu filho na escola estadual se lá, de acordo com o próprio Secretário de Estado da Educação, é um inferno? Professores, estudantes, funcionários todos nós estamos no inferno? A frase do secretário é emblemática e é uma forma de violência simbólica. Todos nós estamos convidados ao caldeirão”, concluiu a presidente do SINTESE.
Articulação
Após o termino das falações dos debatedores o público pôde se manifestar e contribuir com a discussão. Presente na audiência o diretor do SINTESE, professor Roberto Silva, fez uma fala apontando a urgente necessidade de uma articulação política entre os órgãos do governo, na busca por medidas que visem combater a violência nas escolas.
“O debate da violência na escola não pode passar apenas pela Secretaria de Educação e pela Secretaria de Segurança Pública, a violência na escola precisa ser vista como uma política de Estado que envolva desde o governador até outras secretarias que possam transversalmente debater com a Secretaria de Educação”, visualiza o professor Roberto Silva.
A deputada Ana Lúcia, que coordenou o evento, pontuou que os desafios e possíveis soluções que cercam a questão da violência nas escolas devem ser encarados de forma coletiva. “A solução não pode ser individual, mas advém da construção de políticas públicas, e passa sim pela responsabilização, mas não apenas por isso”, destacou a deputada, que de antemão colocou que outras audiências sobre o mesmo tema serão realizadas em outras cidades de Sergipe.
Presença
Esteve presente na audiência o professor de biologia Carlos Cristian, que em agosto do ano passado foi atingido por três tiros disparados por um de seus alunos. A tragédia aconteceu na Escola Estadual Olga Barreto, em São Cristóvão. O fato abalou todo o magistério sergipano e fomentou o debate sobre a violência nas escolas e o processo educacional excludente que faz professores e estudantes vítimas. O caso do professor Carlos Cristhian se tornou emblemático no estado, não só pelo grau de violência que o atingiu, mas pela omissão da Secretaria de Estado da Educação diante do ocorrido.