No dia 12 de agosto uma tragédia atingiu a Escola Estadual Olga Barreto, localizada no conjunto Eduardo Gomes, em São Cristóvão. Um estudante de 17 anos, insatisfeito com a nota dada pelo professor de Biologia, Carlos Christian, o alvejou com três tiros. O fato abalou todo o magistério sergipano e fomentou o debate sobre a violência nas escolas e o processo educacional excludente que faz professores e estudantes vítimas.
Carlos Christian nasceu em uma família que dedicou a vida ao magistério. Sua mãe, pai, irmã, primas e tia são professores. A família não imaginava que um dia seria brutalmente atingida pela violência, fruto de mazelas sociais das quais, infelizmente, nem o ambiente escolar está livre. Em uma carta emocionada a tia do professor Carlos Christian, Margarida, que há 25 anos está em sala de aula e teve o sobrinho como estudante, pede desculpas a ele por não ter o ensinado a lidar com a violência.
“Perdoe-me por não tê-lo ensinado a lidar com a violência. Eu falo para você me reportando a todos os alunos que fizeram parte da minha vida durante estes 25 anos de magistério. Perdoe-me por não ter alertado que nossos grandes pensadores da educação nos dizem que temos que diminuir a distância entre os jovens e os adultos […]. Além disso, temos que desenvolver a nossa capacidade afetiva para que possamos aprender e ensinar a estabelecer vínculos”, relata em trechos da carta a professora Margarida.
Leia a carta na integra
Querido Christian,
Perdoe-me por não tê-lo ensinado a lidar com a violência. Eu falo para você me reportando a todos os alunos que fizeram parte da minha vida durante estes 25 anos de magistério. Ensinei-os a lidar com conteúdos, falei muito sobre ética, sobre responsabilidade e acima de tudo, incentivei-os a amar cada vez mais a profissão.
O magistério sempre significou para mim a porta de entrada para um país melhor, mais consciente. Somos uma família de professores. Sua mãe, seu pai, sua irmã, suas primas e eu. Muitas vezes quando você era pequeno, sua mãe, mesmo você febril, deixava-o sobre os cuidados de outros, pois os alunos dela estavam esperando-a. Sempre que meus alunos pensavam em desistir eu argumentava e mostrava outro caminho para eles continuarem. E de repente eu vejo você lutando a favor da vida por ter feito uma avaliação nesse processo de ensino e aprendizagem tentando mostrar ao aluno que ele precisava estudar e se dedicar mais.
Ele não entendeu e se revoltou e resolveu descontar em você todos os seus demônios sociais. Perdoe-me por não ter alertado que nossos grandes pensadores da educação nos dizem que temos que diminuir a distância entre os jovens e os adultos, de mostrarmos nossa capacidade intelectual unida à competência emocional e a ética, pois, isso, é um caminho certo para o sucesso pedagógico. Além disso, temos que desenvolver a nossa capacidade afetiva para que possamos aprender e ensinar a estabelecer vínculos . Mas…eu não lhe ensinei como lidar com um revolver.
Tia Margarida