As cinco escolas da rede estadual de Itaporanga d’Ajuda foram visitadas pelo SINTESE, no último dia 3 de março. Os problemas estruturais e abandono são visíveis assim que se atravessa os portões de entrada de cada uma das escolas.
O SINTESE está visitando escolas da rede estadual nos 75 municipais sergipanos com o objetivo elaborar o dossiê ‘Perfil das Escolas’, documento que vem sendo feito anualmente pelo Sindicato e que retrata, através de fotografias, a realidade estrutural das escolas da rede estadual de Sergipe. Realidade esta que o Secretário de Estado da Educação, Jorge Carvalho, insiste em mascarar para a sociedade.
Fezes de animais
No Colégio Estadual Felisberto Freire, lixo e fezes de animais se acumulam na entrada. No dia da visita do SINTESE duas vacas pastavam tranquilamente na área da frente do Colégio.
Nas salas de aula os ventiladores são ligados por gambiarras. Na maioria dos banheiros a descarga está quebrada. Próximo aos banheiros, em um pequeno beco, várias carteira velhas estavam amontoadas.
O muro da quadra de esporte da unidade de ensino caiu o que facilita a entrada de qualquer pessoa no local. O entrono da quadra é tomado por um enorme matagal, que pode servir de esconderijo para bandidos, além de contribuir para a proliferação de ratos, cobras e insetos.
É através do muro quebrado que vacas e cavalos entram na unidade de ensino. No dia que o SINTESE esteve no loca, estudantes jogavam bola usando apenas um lado da quadra, pois no outro lado havia um monte de fezes de vaca. As fezes também se acumulavam atrás de uma das traves.
A caverna
A área interna da Escola Estadual Hélio Wanderley Sobral de Carvalho resume-se a um corredor e uma pequena área em comum para os seus estudantes.
A área reservada para os banheiros femininos e masculinos é claustrofóbica, o teto é bem baixo, o que torna o local muito quente e abafado. O local lembra uma caverna é mais escuro do que as demais áreas da escola. O corredor estreito, o teto baixo, o calor e a pouca luminosidade, rementem a um cenário de filme de terror.
O único espaço de recreação e lazer é a quadra de esporte que fica na entrada da unidade de ensino. A quadra não é coberta, ou seja, a atividades físicas na quadra se tornam praticamente inviáveis no fim da manhã e durante à tarde devido o forte sol e o calor intenso.
Das cinco escolas apenas a Escola Estadual Hélio Wanderley Sobral de Carvalho e o Colégio Estadual Felisberto Freire possuem quadras de esporte e as mesmas não estão em condições plenas de uso.
Copos coletivos
A Escola Estadual Francisco Sobral possui apenas três salas que atendem a estudantes do 4º ano do ensino fundamental. A escola não tem estrutura para receber as crianças. O pátio se resume a mato e a um chão batido de cimento com buracos, ou seja, um espaço completamente inadequado para as brincadeiras da hora do recreio.
Os copos para as crianças beberem água são de uso coletivo e ficam em cima do bebedouro, o que pode contribuir para a transmissão de doenças, que podem ser passadas de criança para criança pelo contato com a saliva.
As salas de aula são escuras, húmidas, com paredes descascando e cobertas por um velho telhado. Nos banheiros, tanto no feminino como no masculino, infiltrações podem ser vistas para todo lado. Além disso, não há descarga nos vasos sanitários.
Cinza
Concreto e só concreto. Está é a Escola Estadual José Sobral Garcez. No pátio não há árvores, não há espaço com sombra e bancos para os alunos se reunirem na hora do intervalo. A área da escola é pequena e não há local adequado para brincadeiras e recreação. O chão do pátio é esburacado e os muros estão com a pintura velha, suja e descascando.
Na sala de aula, as carteiras são antigas e os quadros estão danificados. O telhado da unidade de ensino também é velho. Nos banheiros existem infiltrações, na paredes e nos canos da descarga, que em sua maioria estão tortos, fora do lugar.
Espaço mal aproveitado
Apesar de ter uma área externa bem grande, a Escola Estadual Pedro Almeida Valadares, como as demais escolas estaduais de Itaporanga, não possui um espaço para lazer e recreação dos estudantes. Onde poderia ser um parque, uma quadra e até uma grande horta, é um local tomado por mato.
Há um pequeno espaço usado para cultivar ervas medicinais e poucas hortaliças, mas é muito pequeno em relação ao tamanho do terreno que poderia ser utilizado para diversos fins.
A parte interna da escola onde ficam as salas de aula, a direção, secretária, salas dos professores é pequena e não tem espaço para recreação, nem para as crianças fazem refeições, assim como as demais escolas de Itaporanga.
Um dos box do banheiro feminino é usado como despensa para guardar matérias de limpeza. Em um canto do mesmo banheiro estão entulhadas cadeiras. As caixas de descarga estão tortas e parecem que podem cair a qualquer momento.
Para os filhos dos trabalhadores: NADA!
A sensação ao entrar nas escolas da rede estadual, não só nas cinco escolas de Itaporanga d’Ajuda, mas em diversas outras escolas visitadas pelo SINTESE, é de abandono e descaso. São cenários desoladores, que não tem condições de receber dignamente crianças, jovens, funcionários e professores. São espaços sujos, fedorentos, feios, largados a própria sorte. Locais que ao invés de crescer a esperança, proliferar o conhecimento e a vontade do saber, cresce o mato, proliferam-se insetos e ratos.
Os espaços internos são ruins, as salas são ruins, os banheiros são ruins, os espaços para recreação e interação praticamente são inexistente. Nenhuma das cinco escolas estaduais de Itaporanga d’ Ajuda têm refeitório, ou seja, as crianças e jovens ou lancham dentro da sala, ou comem em pé ou sentam no chão para comer.
O conjunto de fatores negativos encontrados nas escolas da rede estadual são assustadores e desestimulam qualquer pessoa que entre em um ambiente tão problemático e triste. O sentimento neste cenário é: para os filhos das camadas sociais mais pobres, qualquer coisa serve.
“As escolas da rede estadual de Sergipe não proporcionam um ambiente adequado para o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem. E por mais esforço que professores, coordenadores, diretores e funcionários façam nada adianta se a Secretaria de Estado da Educação não cumpri as suas obrigações e deixa a escola abandonado a própria sorte. Naturalizar que escola pública é assim mesmo, é um crime. Aceitar que crianças estejam usando banheiros sujos e fétidos; que não tenham alimentação escolar adequada; que não tenham espaço para recreação em suas escolas, que em dias de chuva se molhem dentro das salas de aula é desumano. Chega de tampar o sol com a peneira. O SINTESE continuará a denunciar e espera que os órgão competentes tomem medias enérgicas e imediatas. As crianças e os jovens sergipanos não merecem tamanho desrespeito e descaso”, afirma a diretora do departamento de base estadual, professora Claudia Oliveira.