A trágica situação da alimentação escolar não é uma realidade apenas das escolas estaduais da Grande Aracaju, visitadas pela representante do SINTESE, no Conselho de Alimentação Escolar (CAE), professora Bernadete Pinheiro, no início do mês de abril (Veja aqui a matéria). O cenário desolador também faz parte da realidade dos estudantes das escolas da rede estadual, da região do Vale do Cotinguiba, em Sergipe.
Escassez de alimentos, falta de merendeiras, ambientes inadequados para armazenamento dos alimentos, falta de refeitórios, excesso de lanches prontos. Tudo isso pôde ser constatado em seis unidades de ensino visitadas pela representante do SINTESE no CAE, no início do mês de maio. As escolas visitadas foram: Escola Estadual Albano Franco (Riachuelo/SE), Escola Estadual João de Melo Prado (Divina Pastora/SE), Colégio Coronel José Joaquim Barbosa (Siriri/SE), Colégio Estadual Leandro Maciel (Rosário do Catete/SE), Colégio Estadual Felipe Tiago Gomes (Maruim/SE) e Escola Estadual Esperidião Monteiro (Santo Amaro das Brotas/SE).
Clique aqui e veja a situação da alimentação escolar em cada uma das escolas visitadas
Em todas as seis escolas faltam merendeiras, em pelo menos um dos turnos. Com isso, os lanches prontos como broa de milho; queijadinha e rocambole, acompanhados sempre de uma caneca de ‘suco de caixinha’ (bebida de baixo valor nutricional), estão presentes no dia a dia da alimentação escolar dos estudantes.
A Resolução 26/2013 do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que dispões sobre o atendimento da alimentação escolar aos alunos da educação básica, é clara ao colocar que é assegurado aos estudantes da educação básica o direito a uma alimentação escolar adequada e saudável, que compreenda o uso de alimentos variados, seguros, que respeitem a cultura, as tradições e os hábitos alimentares saudáveis. (Resolução 26/2013 – PNAE, Art. 2, parágrafo I).
A falta de merendeiras não contribui somente para o consumo exagerado de lanches prontos ou para um cardápio de valor nutricional incipiente, contribui também para a devolução de alimentos não prontos, como foi visto no Colégio Estadual Leandro Maciel, em Rosário do Catete. A diretora não tem condições de receber alimentos como arroz, feijão, legumes e carne porque não tem quem os prepare.
“A maioria destas unidades de ensino atende a crianças e jovens de comunidades carentes que a única refeição de fato é feita na escola. Broa, queijada e rocambole podem até enganar o estômago, mas não alimentam. Temos que ter em mente que o PNAE determina que a alimentação escolar deve contribuir para o crescimento e desenvolvimento dos estudantes e para a melhoria do rendimento escolar. De barriga vazia não há aprendizado”, lembra a diretora do SINTESE e conselheira do CAE, professora Bernadete Pinheiro
Falta do básico
Assim como apontado nas escolas da Grande Aracaju, os nutricionistas Departamento de Alimentação Escolar da Secretaria de Estado da Educação (DAE/SEED) não aparecem, em nenhuma das seis unidades de ensino visitadas para orientar as merendeiras sobre o cardápio, preparação de alimentos e acompanhar de todo o processo, conforme estabelece a Resolução 26/2013 do PNAE. Os cardápios nas escolas do Vale do Cotinguiba também são estabelecidos a partir dos alimentos que chegavam à despensa da escola e da disponibilidade de merendeiras naquele turno para preparar estes alimentos.
A falta de temperos básicos para o preparo da comida é algo constantemente vivido nas escolas visitadas pelo SINTESE, até sal falta. Por conta disso, muitas vezes alimentos como carne, feijão ou arroz deixam de ser preparados. Em algumas das escolas os professores, diretores e coordenadores chegam a fazer ‘cotinha’ para comprar cebola, tomate, sal e pimentão. Na semana da visita da conselheira do CAE às seis unidades de ensino do Vale do Cotinguiba o único tempero que havia chegado era cebola.
Frutas, hortaliças e legumes variados também são raros. De acordo com a Resolução 26/2013 os cardápios da alimentação escolar deverão ter, no mínimo, três porções de frutas e hortaliças por semana (200g/aluno/semana) nas refeições ofertas.
“O que podemos constatar é que em todas as escolas que visitamos, até agora, o Programa Nacional de Alimentação Escolar não é seguido. Não se pode encarrar isso como algo normal ou como um problema secundário. Alimentação escolar deve ser vista como prioridade dos gestores. O aprendizado é um processo que depende de uma série de questões que envolvem desde um ambiente adequado (e infelizmente estas visitas também nos mostram o quanto é precária a estrutura física das escolas da rede estadual de Sergipe) até o acesso a uma boa alimentação. Negar estas questões é negar a nossas crianças e jovens um aprendizado de qualidade”, reflete a representante do SINTESE no CAE, professora Bernadete Pinheiro.