Crianças chorando de fome. Este foi o cenário encontrado por dirigentes do SINTESE e do SINTRASE (Sindicato dos Servidores Públicos de Sergipe) na Escola Estadual Alceu Amoroso Lima, localizado no bairro Aeroporto, conjunto Santa Tereza, em Aracaju.
Após denúncia sobre o fornecimento irregular de alimentação escolar na unidade de ensino, a diretora do SINTESE, professora Bernadete Pinheiro, e a diretora do SINTRASE, Erika Santana, que são membros do Conselho de Alimentação Escolar do estado (CAE), decidiram ir a Escola Alceu Amoroso Lima, na última quarta-feira, 18, para averiguar os fatos.
Ao chegarem a Escola as dirigentes sindicais foram informadas que naquele dia a alimentação escolar não havia sido servida para todos os estudantes. A alimentação servida para alguns foi apenas cuscuz com leite. Não havia carne na unidade de ensino. Três crianças do 2º ano ‘A’ (turma que não comeu) choravam e diziam que estavam com a barriga doendo de fome.
A professora da turma do 2º ano ‘A’ comunicou à direção que não havia condições da dar aula com as crianças reclamando de fome e que não iria submeter seus pequenos alunos àquela “tortura”. A professora pediu que a diretora ligasse para os pais e mães e dissesse para eles irem a escola buscar seus filhos. A diretora por sua vez, ignorou o que foi dito pela professora, mandou que ela continuasse normalmente com sua aula e disse ainda que as crianças estavam inventando tudo aquilo.
“A diretora disse que era tudo mentira, que a gente não estava com fome”, contou uma aluna de 8 anos.
“A diretora falou para a gente que é obrigação do aluno comer em casa e que só iria liberar a gente no horário normal”, relatou outro aluno de 7 anos. As crianças são liberadas às 11h:30.
“A diretora disse que a dor não era fome, era doença na barriga”, narrou um aluna de 8 anos.
“A alimentação é ruim. Quando como broa de milho passo mal”, afirmou uma aluna de 11 anos.
A diretora assumiu o cargo na Escola Estadual Alceu Amoroso Lima há aproximadamente um mês e meio e tem adotado diante dos alunos e professores uma postura autoritária e intransigente. Ao ser questionada por um estudante da Educação de Jovens e Adultos (EJA), do turno da noite, sobre a falta de alimentação escolar naquele turno, a diretora respondeu que a escola não era um restaurante e que os alunos deveriam comer em casa.
Ao afirmar para um do estudante que “é obrigação do aluno se alimentar em casa”, e para outro que “a escola não é restaurante e que os alunos devem comer em casa” a diretora demonstra desconhecimento do estabelecido pela Resolução 26/2013, no artigo 2 , parágrafo I, do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE):
“É assegurado aos estudantes da educação básica o direto a uma alimentação escolar adequada e saudável, que compreenda o uso de alimentos variados, seguros, que respeitem a cultura, as tradições e os hábitos alimentares saudáveis. Esta alimentação deve contribuir para o crescimento e o desenvolvimento dos alunos e para a melhoria do rendimento escolar, em conformidade com a sua faixa etária e seu estado de saúde, inclusive dos que necessitam de atenção específica”.
De acordo com relato de professores da Escola Alceu Amoroso Lima os estudantes reclamam muito da repetição excessiva de lanches prontos, como broa e rocambole, e que verduras e legumes não chegam à unidade de ensino. A Escola conta apenas com uma merendeira, no turno da manhã.
“A alimentação não é nutritiva, não desenvolve. Sempre mingau ou broa com goiabada. É muito doce”, colocou um aluno de 11 anos.
Vale ressaltar que grande parte das crianças e adolescentes que estudam na Escola Estadual Alceu Amoroso Lima são moradores de comunidades extremamente carentes – Santa Maria, 17 de março, Bairro Novo, Vila Verde e adjacências.
Para a diretora do SINTESE, professora Bernadete Pinheiro, a forma como a diretora resolveu encarrar a situação é absurda e espantosa. “A visita do SINTESE e do SINTRASE a Escola Alceu Amoroso foi muito triste. É doloroso ver que estudantes da escola pública choraram porque estavam com o estomago doendo de fome por não terem se alimentado ainda naquele dia. O que mais espanta é que a direção da escola fez pouco caso desse fato ao dizer que existiu um exagero por parte dos estudantes”, analisa Bernadete Pinheiro.
Alimentação escolar na rede estadual
Um grande número de denúncias têm chegado ao SINTESE sobre a falta de alimentação escolar nas unidades de ensino da rede estadual. A irregularidade no fornecimento da alimentação escolar tem sido comprovada por diretores do SINTESE a cada nova visita a escolas estaduais, em todas as regiões do estado.
O SINTESE levará as denúncias recebidas ao Ministério Público Federal e ao Ministério Público Estadual para que os órgãos cobrem do governo do estado medidas imediatas para solucionar os problemas da alimentação escolar na rede estadual.
*Os nomes dos estudantes foram preservados para que eles não sofram qualquer tipo de constrangimento ou retaliação.