Na XI Conferência dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação o SINTESE inovou. A palestra de análise de conjuntura foi na noite do primeiro dia. Para tratar dos panoramas internacional, nacional e educacional foram convidados o sociólogo e diretor do Conselho Latino Americano de Ciências Sociais, Emir Sader e o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e Daniel Cara.
Emir Sader fez um panorama de como o neoliberalismo chegou a América Latina segundo ele a região foi a “vítima privilegiada” dos malefícios do liberalismo. Discorreu também sobre o papel da influência estadunidense (no aspecto cultural e social) na região. E que somente após a eleição de governos que ele intitula pós-neoliberais (Hugo Chávez, Nestor Kirchner, Evo Morales, Rafael Correa) começaram a abolir a subserviência aos ditames dos Estados Unidos da América e alteraram os rumos dos países da região. Pois ao invés de priorizar a questão econômica as políticas estão voltadas para o social.
No Brasil, Sader colocou que para a direita os problemas brasileiros são: o mensalão, corrupção, o Estado, a política, os partidos, o PT, o Lula e a Dilma. Mas faz a reflexão de que eles não estão preocupados com a corrupção, pois deixaram passar os maiores processos de corrupção que foram as privatizações do patrimônio público nos governos de Fernando Henrique Cardoso.
Ele afirmou que a preocupação da direita brasileira é com o Estado, que com os governos Lula e Dilma teve o seu papel renovado com a implantação de políticas sociais de distribuição de renda. Lembrou que ainda há problemas essenciais, mas o Brasil hoje é diferente do que era antes, tem uma distribuição de renda como nunca teve na sua história, afirmação de direitos sociais que nunca teve em sua história e por isso a direita foi derrotada em 2002, 2006, 2010 e será derrotada em 2014 e provavelmente em 2018.
Para ele a preocupação maior é saber como evitar a recessão e fazer o Brasil crescer. Pois existem dois aspectos que emperram o crescimento: o primeiro é a recessão no centro do capitalismo, pois com isso há menos mercados consumidores e países interessados em fazer investimentos. O segundo é a covardia da burguesia e empresariado brasileiros. “O governo federal dá excessivas facilidades aos empresários brasileiros e eles ao invés de investirem em produção preferem continuar ganhando dinheiro a partir da especulação financeira”, afirmou.
Daniel Cara começou sua fala parabenizando o SINTESE pela forma com que empreende a luta pela educação pública de qualidade social. “O SINTESE desenvolveu um sindicalismo comunitário. Tenho andado por todo o Brasil e a forma de organização sindical dos professores de Sergipe é inédita no Brasil” disse.
O coordenador da Campanha Nacional pelo Direito a Educação apresentou que o principal desafio, a partir das considerações do professor Luiz Carlos Freitas, da agenda educacional hoje é a luta entre os educadores profissionais e os reformadores empresariais da educação. Entre aqueles que se especializaram e construíram uma trajetória de vida na escola pública, no processo educativo do magistério e aqueles que trazem o pacote de soluções mágicas e acreditam que entendem de educação, mas nunca pisaram em uma sala de aula.
Para ele essa disputa hoje no Brasil pode ser sintetizada em três agendas que são complementares: a luta por mais recursos para a educação pública; que a esquerda tem que desenvolver um projeto de educação, remontando as experiências de Paulo Freire; centralidade do professor, para contrapor a investida de fragilização do papel do professor. Nesse último ponto, Cara lembrou que nenhum sistema de ensino avançou sem a valorização do docente.
Daniel também fez um panorama sobre como o financiamento da educação tem sido tratado. Ao contrário do que setores conservadores e que são aliados dos reformadores da educação, não há excesso de recursos e o problema não é de má gestão. Faltam recursos sim e precisamos avançar e aumentar no número de matrículas, pois apesar de todo o processo de universalização da educação básica, milhões de matrículas devem ser criadas. Ele afirma que com 5,3% do PIB não dá para garantirmos educação pública de qualidade e que a luta é para garantir os 10% pois esse é o patamar mínimo para que se possa avançar.