Longa chileno expõe a monstruosidade de uma sociedade machista

793

‘Uma Mulher Fantástica’, de Sebastián Lelio, fica em cartaz em outubro no Matilha Cultural. Filme conta a história de Marina, que luta pelo direito de velar a morte de seu amor

 

DIVULGAÇÃO
Heroína

As violências que Marina sofre evidenciam a monstruosidade de uma sociedade machista e preconceituosa

Uma Mulher Fantástica, do diretor chileno Sebastián Lelio, estreou nas salas de cinema brasileiras na primeira semana de setembro e segue agora com exibições gratuitas na tela do Cine Matilha, projeto do coletivo independente paulista Matilha Cultural. Lá, todas as sessões são abertas aos espectadores e seus animais de estimação mediante a doação de um quilo de alimento não-perecível, roupas, brinquedos, livros ou produtos para higiene pessoal para crianças e adultos.

Já nos primeiros momentos em que a câmera revela Marina (Daniela Vega), não há dúvidas sobre quem é mulher fantástica do título. A presença arrebatadora e a voz da personagem já anunciam a potência do filme logo nos primeiros minutos. Ela é uma garçonete transexual que passa boa parte de seus dias batalhando pelo sustento, mas que nem por isso deixa de sonhar com a realização de seu maior desejo: ser, um dia, uma cantora de sucesso. É por isso que à noite Marina se apresenta em vários clubes de sua cidade.

O drama começa quando Orlando, seu namorado e maior companheiro, morre em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC) logo depois de festejar o aniversário da cantora. De uma hora para outra, Marina perde a casa, o carro, a guarda da cachorra Diabla, seus bens e até o direito de velar pela morte de seu grande amor. Orlando era vinte anos mais velho e ela foi a causa por ele ter rompido as relações com mulher e filhos.

Delicado e intenso ao mesmo tempo, o percurso que o filme faz ao acompanhar Marina chega a ser sufocante. A forma com que a heroína de Sebastián Lelio reage às violências que sofre mostram, além da integridade e resiliência de uma personagem extremamente rica, a hipocrisia e a monstruosidade de uma sociedade machista e preconceituosa que não aceita a diversidade que o amor abarca.

A protagonista do terceiro longa-metragem de Sebastián Lelio é, na verdade, uma cantora lírica, mas seu apelo na tela em Uma Mulher Fantástica é tão forte e expressivo que arrancou muitos elogios na última edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim. Além dos aplausos, o filme também recebeu a Menção Honrosa, o prêmio do Júri Ecumênico e o Teddy no mesmo festival e é o candidato oficial do Chile para concorrer ao Oscar.