“Machete” investe na mistura sangue e humor

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São Paulo – “Machete”, o novo, sangrento e também divertido filme de Robert Rodriguez (“Sin City”) e Ethan Maniquis, é fruto de uma das habituais reciclagens do famoso diretor texano.

Na verdade, evoluiu de um trailer de “À Prova de Morte” (2007), de Quentin Tarantino, mas originalmente era uma ideia que Rodriguez havia imaginado 16 anos atrás, antes mesmo de fazer “El Mariachi” (92) – o marco inicial de sua carreira, como suposto filme de menor orçamento até então feito (7.000,00 dólares).

Na hora de fazer o trailer, há três anos, o diretor lembrou-se do personagem Machete, um mexicano, ex-policial, que enfrenta na ponta de seu machete (uma enorme lâmina, semelhante a uma peixeira) traficantes de drogas, políticos e agentes federais corruptos. No final, o projeto cresceu, incorporando até uma dose de crítica às duras políticas antiimigração ilegal do governo norte-americano. “Machete” estreia apenas no Rio de Janeiro e São Paulo.

Interpretado pelo veterano Danny Trejo (“Con Air – A Rota da Fuga”), em seu primeiro papel como protagonista, Machete torna-se um herói latino por excelência. Ele é um policial federal mexicano honesto que cai vítima da emboscada que uniu colegas corruptos e o megatraficante Torrez (Steven Seagal, o veterano de “A Força em Alerta”). O bandido assassina sua mulher e filho e acredita que matou Machete. Breve ele vai ressurgir bem longe, como um anônimo trabalhador braçal.

Machete cuida de sua vida mas, de algum modo, está sempre na mira dos piores tipos da sociedade, como um homem de negócios suspeito, Michael Booth (Jeff Fahey), que o procura com a proposta de matar, por uma soma muitas vezes maior do que o seu salário de trabalhador, um senador que concorre à reeleição, John MacLaughlin (o astro Robert De Niro).

Com uma campanha de combate radical aos imigrantes que atravessam ilegalmente a fronteira com o México, McLaughlin é a mais pura tradução da extrema-direita norte-americana, usando inclusive o termo “parasitas” para descrever os estrangeiros pobres que ele quer perseguir e expulsar a qualquer preço.

Mais uma vez, a trama é uma roubada para Machete que, apesar de não ter apertado o gatilho contra o senador, torna-se suspeito da tentativa de assassinato. Novamente, tem que fugir de tudo e de todos, especialmente da polícia – que, no filme de Rodriguez, é um dos maiores vilões.

Além de seu irmão, um padre nada convencional (Cheech Marin), Machete só pode contar com algumas mulheres – caso de Luz (Michelle Rodriguez, da série “Lost”), que lidera uma organização guerrilheira clandestina de defesa dos imigrantes; e também Sartana Rivera (Jessica Alba, de “Quarteto Fantástico”), uma honesta agente do FBI.

Um dos toques de humor da história está em transformar Trejo, um sessentão com cara de mau, todo tatuado e cheio de cicatrizes, num inusitado símbolo sexual, já que praticamente todas as belas mulheres que passam por seu caminho têm uma queda por ele.

No mais, o que há de cômico atende ao mais puro estilo Robert Rodriguez-Quentin Tarantino (que é, aliás, um dos produtores aqui): muitos tiroteios e sangue, com direito à exposição de algumas vísceras e até uma crucificação.

Outra marca registrada da dupla de diretores/produtores é a lembrança de alguns veteranos que andam meio sumidos – caso de Steven Seagal e também de Don Johnson, da série “Miami Vice”, na pele de um sádico policial da fronteira EUA-México que persegue e mata inclusive uma mulher grávida, repetindo um incidente real ocorrido nos EUA (que, a bem da verdade, aconteceu depois que o filme estava pronto).

Outra que dá o ar de sua graça é Lindsay Lohan, interpretando a filha doida e drogada do bandidão Booth – o que remete aos problemas com drogas que a atriz, de 24 anos, vem enfrentando na vida real.

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