Os turistas passam e a diversidade não fica

466

Porto de Galinhas, o mais procurado balneário de Pernambuco, recebe cerca de 500 mil turistas por ano. A maior atração é a praia, com areia branca e fina, sem a presença de dunas. A água é cristalina e a temperatura morna. O passeio mais procurado a bordo de uma das dezenas de jangadas é o passeio nos recifes com piscinas naturais. Um guia pode apresentar a natureza marinha e alguns pontos com maior concentração de peixinhos coloridos. Os efeitos desse vai e vem de turistas sobre os recifes foi ponto de partida da pesquisa, na qual a bióloga Visnu da Cunha Sarmento chegou a conclusão de que essa prática mata grandes quantidades do grupo de pequenos crustáceos Copepoda Harpacticoida e, pior, reduz a diversidade local.

Esses pequenos crustáceos compõem a meiofauna, pequenos animais com tamanho muitas vezes inferior a 1 milímetro e visíveis apenas através de microscópios. Eles estão na base da cadeia alimentar de peixes e crustáceos maiores. Em condições naturais são abundantes e apresentam grande diversidade. Mas, de acordo com o trabalho de Visnu, não foi esse o quadro encontrado nos recifes de Porto de Galinhas.

Para a sua pesquisa, chamada Efeito do pisoteio sobre a meiofauna e Copepoda Harpacticoida de fital nos recifes de Porto de Galinhas (Ipojuca, PE), a bióloga sob a orientação do professor Paulo Jorge Parreira dos Santos, do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), foi a campo no verão de 2009, logo depois do período de maior fluxo de turistas. Em seguida, realizaram um pisoteamento de três dias para avaliar o efeito de curto prazo e estudar o padrão de recuperação da fauna.

Verificaram que as caminhadas dos visitantes afetam negativamente essa meiofauna. Há redução na quantidade total e na diversidade de Copepoda Harpacticoida quando comparada com a área de proteção ambiental – onde os turistas não têm acesso. “As consequências dessa redução na meiofauna em toda a cadeia alimentar são imprevisíveis”, adverte a pesquisadora. Parte do trabalho foi publicado na revista Scientia Marina.

Visnu reconhece a importância econômica do turismo e propõe ações de manejo com intenção de conciliar a visitação dos recifes da praia de Porto de Galinhas e a preservação do ecossistema – tão necessário para manter o destino uma atração turística. No inicio do mestrado, por algumas vezes, tentou fazer contato com a Prefeitura de Ipojuca, mas não teve sucesso. “Depois, com os compromissos e o trabalho desisti de procurar a prefeitura”, conta a bióloga. As medidas para preservar essa riqueza de Porto de Galinhas não são complicadas. Se tivesse conseguido falar com as autoridades, suas recomendações seriam as seguintes:

•    Criação de áreas de proteção permanente com restrição total ao acesso das pessoas para garantir a preservação ambiental

•    Devem ser estabelecidos novos caminhos com áreas de rodízio. Os caminhos ficariam temporariamente abertos ao turismo, para depois seguir um tempo para “descanso” e recuperação. Esta medida associa educação ambiental à visitação turística

Em paralelo, projetos de monitoramento verificariam a saúde do ecossistema local.

Principal atração turística de Porto de Galinhas são as piscinas cheias de vida que os recifes, até então, oferecem. Crédito: Ricardo Ferreira