México: 5.397 desaparecidos durante governo Calderón

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Reproduzido a partir do site Carta Maior

Dan Jeremeel Fernández era um contador de 35 anos, sem antecedentes penais nem nenhum outro problema em particular. No dia 19 de dezembro de 2008 saiu em seu automóvel para se reunir com sua mãe para as festas de Natal em Torreón, estado de Coahuila, no norte do país. Nunca chegou. Desde então, sua mãe Yolanda Morán está procurando-o. Durante sua busca teve que passar por múltiplas vicissitudes comuns a todas as mães de desaparecidos do continente: levantar de ombros, explicações insultuosas, extorsões.

Milhares de mães do México que não interessam aos meios de comunicação internacionais encontram-se como Yolanda. Quem afirma é a Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH), o organismo público financiado pelo Estado que se ocupa da violação dos direitos humanos, frequentemente criticada por sua cumplicidade com a política oficial, mas sem dúvida um passo adiante. Desde 2006 até hoje, ou seja, desde que o presidente Felipe Calderón declarou guerra ao narcotráfico, onde, segundo a maior parte dos observadores, o exército atua como uma das partes em conflito, 5.397 pessoas teriam simplesmente desaparecido no México. Deve-se agregar a este número 25 mil assassinados a partir do momento que o governo decidiu pela intervenção do exército. Ao todo, já são cerca de 40 mil vítimas de uma guerra negada de nosso tempo.

Pelos desaparecidos mexicanos – dois terços homens, quase sempre jovens, e um terço mulheres – ninguém jamais pediu resgate. São pessoas desaparecidas no nada em uma série de circunstâncias diferentes, mas que podem ser reduzidas a algumas poucas categorias típicas. Parte delas foi sequestrada na rua. Alguns, mas certamente não todos, tinham provavelmente um papel menor em algum cartel. Outros simplesmente desapareceram e a quantidade de jovens trabalhadores sem nenhum vínculo conhecido com organizações criminosas, sobre os quais ninguém tem notícia, vem apresentando forte aumento.

O destino de quase todos eles foi a morte, mas nega-se o luto a seus familiares. Yolanda, assim como provavelmente tantas outras mães, prefere imaginar que seu filho esteja trabalhando para os cartéis do que tenha simplesmente desaparecido. Em 2009, um membro do cartel dos irmãos Arellano Felix confessou que havia dissolvido em ácido pelo menos a 300 pessoas. Em outros casos foram encontradas fossas comuns, como a descoberta em Taxco, estado de Guerrero, com 55 corpos de pessoas assassinadas pelos cartéis. Em um país onde fazer com que se encontre o cadáver do inimigo assassinado, frequentemente após horríveis torturas, é parte da política dos carretéis, o desaparecimento de pessoas é uma variação sobre o mesmo tema.

As suas desaparições têm a mesma função codificada que tinham na Operação Condor: tortura permanente dos familiares, advertência, terror. É uma advertência que se estende à toda a sociedade civil: um terrorismo no qual não é fácil identificar a linha divisória – que, no entanto, existe – entre as organizações criminosas e o terrorismo de Estado propriamente dito. A ONU apoia as estimativas de várias organizações não governamentais que consideram que um número crescente de desaparecidos está na conta do exército federal.

Com 50 mil homens ocupando militarmente muitos estados do país, quase sempre participando ativamente do tráfico de drogas, além de extorqui-lo, praticar estupros e outros crimes é fácil pagar com a vida por uma palavra equivocada, uma propina não paga, ter visto algo que não se deveria ter visto. A CNDH teria poder de investigar todos os casos de violação dos direitos humanos nos quais se suspeita de envolvimento de órgãos do Estado, incluindo a polícia e o exército. A falta de fundos, o medo e a falta ou desaparição de provas, fazem com que tal poder seja somente virtual.

Fonte: http://www.giannimina-latinoamerica.it/archivio-notizie/658-messico-da-quando-calderon-e-presidente-5397-desaparecidos

Tradução: Katarina Peixoto