Revista Paulo Freire: os negros não se deixaram escravizar

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A Revista Paulo Freire não podia deixar passar o mês de Revista_Paulo_Freire_18novembro – onde se lembra o dia 20 como o da Consciência Negra – para debater com mais intensidade um tema vergonhoso: o racismo. O professor Henrique Cunha Júnior, da Universidade Federal do Ceará, apresenta uma importante discussão sobre essa temática, chamando atenção para o ambiente comum de muitos leitores desta revista: a sala de aula. Ele afirma que a escravidão é tratada de forma inadequada, o que acaba inferiorizando a população negra. “As aulas de história têm um discurso que penaliza a população negra pelo escravismo sofrido; a vítima vira o culpado. O escravo nos livros didáticos de história do Brasil é tratado como o ser sem cultura, incivilizado, ser bruto do trabalho braçal. O escravizado não é tratado na história do Brasil como um ser pensante, com características humanas, como sujeito de uma história social. A forma que o tema do escravismo no Brasil é introduzido banaliza o crime contra a humanidade realizado pelo sistema de produção escravista”, escreve o professor. Ela aborda questões históricas relevantes, como o início da escravização dos africanos pelos portugueses e, em todo seu texto, há uma série de referências teóricas. Vale muito a pena ler, buscar outras fontes e debater com colegas e alunos.

Também nesta edição trazemos um importante texto. Um estudo do Ipea sobre a relação de desigualdade entre homens e mulheres no Brasil. São apresentados dados bem interessantes que devem servir para excelentes debates sobre a condição de gênero. Por exemplo, no Brasil, as mulheres são mais da metade da população e já estudam mais que os homens, mas ainda têm menos chances de emprego, ganham menos do que o universo masculino trabalhando nas mesmas funções e ocupam os piores postos. O porquê disso?
A Revista Paulo Freire anuncia que em 2013 o tema da Semana de Ação Mundial (SAM) será a valorização dos profissionais da educação. O que isso significa? Essa SAM ocorre no mês de abril e é uma iniciativa da Campanha Global pela Educação. São atividades que acontecem simultaneamente em mais de 100 países, desde 2003. O objetivo é fazer uma grande pressão internacional sobre líderes e políticos para que cumpram tratados e leis nacionais e internacionais para garantir educação pública de qualidade para todas e todos. No Brasil, a Semana é coordenada pela Campanha Nacional pelo Direto à Educação, que articula parcerias com organizações da sociedade civil, mobiliza os participantes, produz e distribui materiais de apoio e realiza inúmeras atividades junto com os diversos parceiros. Só para lembrar:  o Brasil possui quase dois milhões de professores na educação básica, sendo 82% (1,6 milhão) mulheres.

Ainda nesta edição, a Revista Paulo Freire apresenta um excelente artigo da professora Ana Lúcia, deputada estadual, que chama atenção para a história pouco conhecida de Manuel Bomfim. Diz ela: “Enquanto sergipana e professora, formada na militância política e sindical bebendo e me alimentando das teorias e leituras das escolas marxista e paulofreireana, é singularmente perturbador deparar-me com o quase total desprezo que é dado não só por aqueles que carregam consigo a tarefa de educar e formar as futuras gerações de sergipanos, mas pelo próprio Estado à figura, à história e à obra de um dos maiores pensadores de Sergipe, o  médico, psicólogo, historiador, ensaísta, político e pedagogo Manoel José Bomfim. É perturbador e causa-me profunda tristeza constatar o manto de invisibilidade que recai sobre este intelectual e o desconhecimento da nossa juventude – e mesmo dos nossos professores e intelectuais – acerca da vida e do trabalho acadêmico produzido por este aracajuano, nascido em 8 de agosto de 1868 e falecido no Rio de Janeiro, em 21 de abril de 1932”. A leitura do texto de Ana Lúcia é fundamental para nossa memória, reflexões e práticas.

Ainda temos nessa edição dicas de livros escritos por Carlos Nelson Coutinho e Eric Hobsbawm; os poemas de nossos colegas professores e as imagens de luta. Como sempre, boa leitura e excelentes reflexões, debates e práticas.

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