A primeira imagem ao abrir a porta e entrar no auditório não poderia ser mais oportuna: Paulo Freire, estampado em um quadro que ocupava o centro de uma das paredes. Nome irretocável quando o assunto é educação crítica e libertadora no Brasil, Paulo Freire era referência também em comunicação popular, comunicação a serviço da transformação radical da sociedade.
Em oposição ao modelo de educação combatido pelo próprio Paulo Freire, a disposição dos participantes no auditório era em semi-círculo. Assim, não havia “um alguém”, uma única liderança que dirigia palavras aos demais. Ali, a comunicação era multidirecional, em rede, todos se comunicavam com todos, no mesmo nível de importância. Ou melhor, ali a comunicação era verdadeiramente COMUNICAÇÃO. Afinal, como nos ensinou o educador pernambucano que inspirava aquela reunião “comunicação é diálogo, na medida em que não há transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos seus significados”.
Ali, a comunicação era a necessária em tempos de supervalorização das formas de comunicação eletronicamente mediadas. Era a comunicação do “olho no olho”, a comunicação do debate aberto, a comunicação participativa, a comunicação sem filtros inibidores.
Estou falando da reunião de planejamento do Departamento de Comunicação do SINTESE, sindicato de maior base social do estado de Sergipe, que teve nesse sábado (17) a participação de diretores do sindicato, assessores políticos, jornalistas sindicais, comunicadores populares, professores e professoras de todas as partes do estado. Eram mais de 30, abdicando do descanso numa manhã de sábado, discutindo como potencializar os instrumentos de comunicação do sindicato. Eram mais de 30 debatendo os caminhos para facilitar a troca de informações entre os quase 25 mil professores e professoras filiados/as e as formas de melhorar a comunicação do sindicato com a sociedade.
A auto-crítica sobre as fragilidades, o nível de aprofundamento dos debates e a qualidade dos encaminhamentos definidos na reunião atestam: para o SINTESE, a Comunicação é prioridade. Tanto é que ano após ano, sem medo de ser feliz, o sindicato resolve explorar mais possibilidades de meios de comunicação: revista, jornal, boletins, panfletos, cartazes, banners, outdoors, faixas, mensagens instantâneas por celular, site, redes sociais na internet, programas de rádio, fotografia, vídeo…
E se não há “um alguém” na reunião que centralize os trabalhos, no dia-dia a comunicação também não deve ser verticalizada. Por isso, o sindicato estimula que os próprios professores e professoras sejam protagonistas do processo de produção das informações, a partir da realidade do chão da escola pública e dos seus cotidianos de luta. Para isso, cursos de oratória, radiojornalismo, produção de notícias e outros serão realizados nos próximos anos, de forma a qualificar técnico-estético-politicamente a comunicação feita pelos próprios educadores e educadoras.
Dá gosto de ver. A Comunicação do SINTESE é, sem dúvidas, uma das melhores do país. Deve servir como um farol para inspirar e guiar outros sindicatos a construir a comunicação de forma planejada e articulada. Acha que estou exagerando? Sugiro perguntar à equipe do Núcleo Piratininga de Comunicação, no Rio de Janeiro, que há mais de duas décadas presta serviços de assessoria e formação a sindicatos de todo o país, o que pensa sobre a comunicação sintesiana.
Como diria o cientista político italiano Antonio Gramsci, “sem o apoio da opinião pública, a organização dos trabalhadores não consegue transpor a barreira da sua própria arena, o termômetro da sua atuação está na prática do convencimento que ela consegue exercer sobre si mesma, para com a população e para o coeficiente disso”. E esse convencimento a que se referia Gramsci só é possível com a utilização de instrumentos de comunicação adequados que possam fazer a disputa de ideias na sociedade. O SINTESE está no caminho certo…