A prolongada crise econômica internacional evidencia como a tese da taxação e controle das transações financeiras é atual e óbvia como forma de bloquear minimamente a farra especulativa e suas consequências sobre o conjunto da economia mundial, com suas dramáticas consequências sociais e políticas. No entanto, salvo um manifesto de mil economistas ao G-20, pouco ou nada tem se concretizado nessa direção.
Da mesma forma que o drama humanitário da situação dos imigrantes, especialmente na Europa, requer uma renovação e uma atualização da solidariedade humana, que o FSM pretende expressar, mas que não tem repercussão significativa em quase nenhum lugar. E seria possível muitos outros temas em que teses levantadas pelo FSM se veem confirmadas dramaticamente pela realidade.
No entanto, nesse mesmo momento, o FSM se vê reduzido à intranscendência. Só existe praticamente a cada dois anos, quando se realizam eventos como o que do Senegal em janeiro deste ano. Porque o FSM teve um problema inicial, cuja gravidade não parecia ser tão grande para a maioria dos seus participantes, mas hoje se revela fatal para o destino do FSM. Ao centrar-se na chamada sociedade civil – sem nunca ter definido com certa precisão suas fronteiras.
Ao excluir a esfera política, não eram apenas os partidos que não eram contemplados, mas sobretudo os governos e os Estados. Em condições de que teses centrais do FSM – como a regulação da circulação do capital financeiro, as propostas de um comércio justo, a recuperação dos direitos sociais debilitados fortemente pelo liberalismo, a renegociação das dividas externas – para citar alguns casos – dependem centralmente de governos e Estados como atores. Salvo no último, que foi aberto por Evo Morales e por Gilberto Carvalho – com ausência mesmo de representantes de movimentos sociais, num viragem brusca -, os governos progressistas latinoameicanos viveram á margem dos FSM. No de Belém, as presenças determinantes eram as de Evo Morales, Hugo, Chavez, Lula, Fernando Lugo, Rafael Correa, mas ao invés de terem tido epaços para discutir a grande quantidade de temas conflitivos que existem em cada país entre eles, ficaram confinados a dois atos paralelos.
Quem vai realizar as propostas que o FSM levantou? Para alguns, poderes locais, desvinculados da luta politica nacional, para outros, uma força globalizadora em escala mundial, que não encontra nenhuma expressão institucional. Mas nenhuma dessas vias – seja personificada pela teses zapatista de “mudar o mundo sem tomar o poder”, que se mostrou absolutamente infértil na prática, seja nas teses de Toni Negri, que foram desmentidas pelo fortalecimento dos Estados nacionais e seu papel progressista na América Latina.
As teses do FSM – uma parte delas resgatáveis, outras ainda sem capacidade de provar sua efetividade – encontram em políticas governamentais lationamericanas – como a Alba, o Banco do Sul, as campanhas contra o analfabetismo, a Escola Latinoamericana de Meidicina, o Conselho Sulamericano de Defesa, entre outras, sua concretização. Assim se avançam nas políticas, através de governos e Estados progressistas lationoamericanos, mas o FSM perde transcendência por não incluí-los centralmente nos seus espaços e por não existir senão a cada dois anos, sem iniciativas mais permanentes fora desses momentos.