Perguntei, por e-mail, ao autor do dossiê pela unificação dos títulos brasileiros se, de fato, como informa o diário “Lance” deste domingo, ele havia escrito que a revista “Placar” ignorara a história do futebol brasileiro antes de 1970, ano em que foi lançada.
Perguntei porque não acreditei que alguém que pretendesse ter feito um levantamento sério pudesse cometer tal infâmia contra uma publicação que sempre se preocupou com a história do nosso futebol, que não começou nem em 1970, quando a revista foi lançada, nem em 1959, ano da primeira Taça Brasil, mas muito antes disso.
A resposta do autor do dossiê não poderia ser mais clara:
“Isso não está no Dossiê. Não importa para o Dossiê por que a Taça Brasil e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa não foram valorizados depois. Creio que esse “esquecimento” se deveu a uma falha geral, dos dirigentes do futebol, das federações, dos clubes e da imprensa, na qual Placar se inclui”.
Insisti na questão em outro e-mail e o autor respondeu:
“Critiquei, numa única frase – que disse ao repórter do Lance, ontem, mas nunca colocaria no Dossiê – a negligência da imprensa esportiva em geral com relação a estas duas competições(…)”.
Não me convenci e recebi novo e-mail do autor do dossiê, ainda mais expressivo:
Pode ficar tranquilo. O Dossiê fala de coisas positivas para o futebol brasileiro e para a unificação. Não citaria negativamente a Placar.
Insisti em querer saber por que razão, então, a frase estava entre aspas, como se retirada do dossiê como me informara o repórter Daniel Leal, um dos responsáveis pela reportagem do diário “Lance!”, e obtive um último contato com o autor do dossiê:
“Pergunte a ele, por favor”.
Perguntei e, em seguida, mandei para o autor do dossiê a cópia do texto abaixo, obtido com o repórter do “Lance!”.
Eram 15h57 do domingo.
O autor do dossiê silenciou.
Talvez tenha morrido.
De vergonha.
Dá para entender a seriedade e o compromisso com a verdade do autor do dossiê, pago, por sinal, por Marcelo Teixeira, à época em que presidia o Santos FC?
Será esta gente que reescreverá a história do futebol brasileiro?
É risível. E patético.
Como é hilário culpar a ditadura que cometeu toda sorte de barbaridade, mas não esta.
Até porque foi apoiada por João Havelange, um dos avalizadores do dossiê, e pai tanto da Taça Brasil, quanto do Robertão quanto do Brasileirão.
Em tempo: considero correto que se unifiquem os quatro Robertões com o Brasileirão, o que faria do Palmeiras o primeiro penta e hexacampeão brasileiro, com direito, portanto, à taça de bolinhas.
Santos e Fluminense seriam tricampeões.
Não acho correto unificar com a Taça Brasil, que era um torneio de outro tipo, embora tenha sido dominado pelo melhor time de futebol de todos os tempos, o Santos FC de Pelé e companhia.
Como diz o historiador do futebol, este sim, Celso Unzelte, ninguém chama D.Pedro I e D. Pedro II de presidentes da República, embora eles tenham sido os homens mais poderosos do Brasil em suas épocas.
A razão é simples: o Brasil vivia sob o Império.
E Pelé não precisa ser chamado de campeão brasileiro para ser o Rei do futebol.
Quanto ao argumento de que o Brasil não poderia ter sido tricampeão mundial como foi até 1970 sem ter um campeonato brasileiro — raciocínio torto expressado ontem à noite na rádio CBN pelo autor do dossiê — nada mais falso.
Não poderia ter sido tri mas poderia ter sido campeão, como em 1958, um ano antes da primeira Taça Brasil?
Ora, bolas!