O 1º de maio no Jornal Nacional

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Imagine um trabalhador brasileiro, no centro da sua casa – onde geralmente fica a tv – na noite da última sexta-feira, dia 1o de maio, feriado e relaxado, assistindo ao Jornal Nacional, da TV Globo. Não há como não passar a crise pela cabeça.

Além das reportagens sobre a gripe suína e dos 15 anos da morte de Ayrton Senna, que o levam do pânico às lágrimas, ele recebe informações de uma longa matéria (formada por três longos blocos) sobre as “comemorações” do 1o de maio no Brasil, Dia do Trabalho. É assim que a Globo trata a data: comemorações e dia do trabalho, e não do trabalhador.

Todo ano é assim. A grande mídia segue o mesmo roteiro. E neste, não foi diferente. A reportagem do Jornal Nacional começa mostrando que no Brasil o 1o de maio é comemorado com muita festa em São Paulo. Muita festa promovida pela Força Sindical. Esta é uma central sindical que nasceu e se firmou como o braço público dos empresários, isto é, uma central apoiada abertamente pelos patrões e pelo capital.

São milhões de pessoas a chorar de emoção com os principais e mais caros cantores brasileiros no palco da Força Sindical. A multidão via aos céus quando sobe ao poderoso palco o padre Marcelo Rossi. Os líderes da central sindical, de braços dados com os patrões e com os governos, pedem a redução dos juros, que beneficiam principalmente os empresários.

Depois da ampla reportagem com a Força Sindical, mostrando a estrutura, a tecnologia, à segurança, e ainda festejando o sorteio de carros, foram 20, e apartamentos (meio milhão de reais em prêmios) para os trabalhadores que gritavam com o cantor Leonardo, a reportagem mostra o ato da outra central, a CUT nacional.

”Este ano a CUT resolveu fazer uma festa diferente”, dizia a repórter. Em vez de mostrar atos públicos e as festas com cantores, a reportagem mostra que a central virou uma grande prestadora de serviços: no 1o de maio, trabalhadores fizeram massagens relaxantes, tratamento de beleza, participaram de jogos, fizeram exames e tiraram documentos. Nas imagens, meia dúzia de gente e nenhum ponto de reivindicação. Para quê? A nova aparência fará o milagre do emprego aparecer.

Calma, mas o 1o de maio no Brasil que o Jornal Nacional mostrou não se deu apenas em São Paulo e nem apenas com centrais sindicais. A reportagem, no segundo bloco, exibiu cenas das festas do 1o de maio em outros lugares, mas em todos eram missas, atos religiosos e festa mesmo.

Em um trecho da matéria, os fiéis (e não trabalhadores) entregavam a Deus suas carteiras de trabalho. Uns pediam proteção divina para que não sejam demitidos e outros, também com as carteiras de trabalho sendo bentas, pediam que caísse do céu um emprego. A reportagem ainda mostrou no Paraná o 1o de maio comemorado com um gigantesco churrasco.

Para finalizar a grande matéria do Jornal Nacional, foi mostrado no terceiro e último bloco o 1o de maio pelo mundo: protestos, caminhadas, ações violentas, confronto com a polícia, etc, etc e etc. Na Turquia, na Grécia, no Japão enormes manifestações e embates com a polícia. Na França mais de 1 milhão de pessoas reunidas por oito centrais sindicais.

Mas claro, a rede Globo não podia deixar de mostrar o 1o de maio na Venezuela. Diferente dos outros países onde ocorreram manifestações violentas e confronto com a polícia e os governos locais não foram responsabilizados, na Venezuela, dizia o texto da reportagem, o presidente Hugo Chavez reprimiu manifestantes da oposição e dos sindicatos.

Diante dessas informações, do som e das imagens a que conclusão chega o trabalhador brasileiro? Que o 1 de maio aqui é…?

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PARA FAZER JUSTIÇA

Para fazer justiça, a CUT/SE fez uma grande caminhada em Aracaju para lembrar o Dia do Trabalhador. Mesmo diante da forte e insistente chuva, os trabalhadores saíram às ruas com suas bandeiras vemelhas e mantiveram acessa à luta por uma outra sociedade.
Veja a pauta que mobilizou os trabalhadores sergipanos:

– o trabalhador NÃO vai pagar a conta da crise econômica;
– pela correção do reajuste dos servidores públicos de Aracaju;
– pela volta das atividades da Mesa de Negociação Permanente;
– contra a tarifa abusiva de ônibus urbano em Aracaju;
– redução da jornada de trabalho sem redução de salário;
– reforma agrária e urbana com construção de moradias populares;
– defesa do serviço público: educação e saúde pública, gratuita e de qualidade para todos;
– defesa do meio-ambiente, contra os transgênicos;
– NÃO à transposição do Rio São Francisco;
– valorização do salário mínimo e das aposentadorias;
– reposição das perdas salariais;
– reforma agrícola com investimentos na agricultura familiar;
– contra todas as formas de discriminação e opressão racial, homofóbica e sexista;
– pela anulação do leilão da privatização e pela reestatização da Vale do Rio Doce;
energia com tarifa social;
– pela democratização dos meios de comunicação;
– o fim da impunidade e da corrupção;
– NÃO à violência no campo e na cidade;
– contra o imperialismo e pela autodeterminação de todos os povos do mundo.