O TCE merece Susana?

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Desde o escândalo da Operação Navalha, que desvendou uma pequena parte da mais podre política de Sergipe del Rey, que a briga pela vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, em lugar de Flávio Conceição, teve início, mesmo antes dele ser generosamente aposentado. Lembram-se da coluna de ontem sobre a impunidade? O certo é que até hoje esse processo sequer foi finalizado. Faltam detalhes para que o conselheiro possa deixar aquele lugar com recompensas, afinal de contas se o doutor Flávio resolvesse falar o que sabe e o que viveu, até as pedras podiam rolar nesse reino. Tudo bem que não ia dar em nada, mas provocava um reboliço daqueles.

A disputa pela vaga no TCE, que era de bastidores, começa a ganhar os holofotes. Aqui e acolá pipocam alguns pretensos candidatos. Decidiu-se que quem escolhe o novo conselheiro é a Assembléia Legislativa, mas como esse poder não se faz como poder, na prática, é o governador que tem o controle e comando desse processo. Assim sempre foi. No caso concreto, nem toda vontade do governador se concretiza na sua integralidade se não existir uma mediação com a bancada do PSC, comandada pelo empresário da política, Edvan do Amorim. O preço da escolha, ou melhor, a sorte da escolha está lançada.

Estariam surgindo nomes como o do advogado e secretário de Estado Clóvis Barbosa, do deputado federal José Carlos Machado (DEM) e da deputada estadual Susana Azevedo (PSC). Fala-se que o governador teria preferência pelo seu secretário. Dizem que além de blindar seu governo no TCE, em tese, a nomeação ainda servia de uma espécie de prêmio de consolação a Clóvis Barbosa. Quem não se lembra? Clóvis seria desembargador do Tribunal de Justiça tranqüilo tranqüilo, mas recuou em favor do cunhado do governador, o hoje desembargador Edson Ulisses. Foi uma prova de fidelidade a Déda que agora, Clóvis, deve ver retribuída. Independe dessas relações antidemocráticas, a possível ida de Barbosa ao TCE poderá elevar e muito o nível naquele lugar.

O deputado José Carlos Machado, ao lado do advogado Clóvis Barbosa, teria todas as condições técnicas de ser conselheiro. Certamente, o mais preparado entre os três. Mas na história, ele estaria no lugar em errado e na hora errada. Apesar de uma “boa relação” com o governador, afinal de contas Machado é seguidamente coordenador da bancada federal de Sergipe na questão do Orçamento da União, o deputado é identificado, rotulado, carimbado – coisas de estado pequeno – como homem de extrema confiança do ex-governador João Alves Filho, hoje uma cômoda oposição a Marcelo Déda. Resultado: dificilmente José Carlos Machado deve ir para o TCE, mas como vivemos num Governo de Mudanças, tudo pode acontecer.

O surgimento do nome da deputada estadual Susana Azevedo para conselheira do TCE pode ser apenas um blefe bem pensado, um balão de ensaio para valorização de passe, uma estratégia política que obriga a uma série de negociações, afinal de contas ela está no PSC. Mas se não for isso, bem que ela poderia ser mesmo conselheira. Entraria no tribunal como uma luva, na medida. Depois que as gravações da Operação Navalha mostraram os prazerosos diálogos, ela bem que poderia ser a pessoa certa para aquele lugar. Ela conhece como aquilo funciona em suas entranhas. Com experiência que tem, Susana Azevedo julgando contas de gestores municipais e estaduais. Imagine?

É bem verdade que o conselheiro presidente Reinaldo Moura, recém empossado, tem feito um esforço significativo para mudar a imagem pública do TCE. Vai conseguir alguns avanços, não duvide. Como bom comunicador que é, ele propõe uma comunicação mais aberta, um processo amplo de transparência, uma exposição mais didática daquele lugar, mas tudo isso pode cair por terra com a ida de Susana Azevedo para lá. Não é apenas por conta da deputada e nada, absolutamente nada sobre ela, mas porque o presidente sabe muito bem que o buraco é mais embaixo, e olhe como é lá embaixo. Querer mudar aquele lugar ou mesmo tentar deixá-lo “simpático” diante da opinião pública seria mexer com estruturas políticas profundamente viciadas e carcomidas por um tipo de ação que já não deveria ter mais espaço na vida pública em Sergipe, mas que infelizmente, apesar das mudanças, consolida-se cada vez mais.