No dia 22 de dezembro, a presidenta Dilma Rouseff anunciou os dois últimos integrantes de seu ministério. A primeira constatação: trata-se de um governo de coalizão política, com ministros e ministras de 7 partidos diferentes, predominantemente do Partido dos Trabalhadores e do Partido do Movimento Democrático Brasileiro.
Em comparação com o ministério com que Lula iniciou seu segundo mandato, o PT ocupa mais pastas e gerencia maiores orçamentos. Com um detalhe importante: desta vez, as principais tendências do PT estão representadas (CNB, Mensagem ao Partido, Movimento PT e Articulação de Esquerda), diferente dos oito anos de governo Lula, de cujo ministério a tendência Movimento PT nunca fez parte.
A segunda constatação: com maior ou menor êxito, o ministério de Dilma buscou contemplar (além dos partidos) uma variável regional e uma variável de gênero. No quesito regional, a presença de petistas dos estados do Nordeste é menor do que a importância eleitoral desta região. Por outro lado, registramos com muita satisfação a presença de 9 ministras. E tomamos nota do seguinte: o PT foi o único partido da coalizão a indicar mulheres.
Uma terceira constatação: deste ministério não fazem parte representantes diretos do empresariado (como Furlan e Meirelles). Aliás, há que se comemorar que Meirelles não seja mais presidente do Banco Central. Ainda que se deva manter sob vigilância Antonio Palocci, o sinal é que parece que haverá mais harmonia na condução da política econômica. Por outro lado, alguns dos indicados pelos partidos aliados “prometem”: Rossi, Garibaldi etc. O caso politicamente mais preocupante é o caso de Nelson Jobim; já sabíamos que ele tinha uma postura conservadora tanto no tema “direitos humanos”, quanto no trato das forças armadas; agora o Wikileakis nos revelou que ele tricota com os gringos.
Um quarto ponto, positivo, é a presença de petistas a frente de pastas estratégicas para a disputa de hegemonia (tais como cultura e comunicação) e para o atendimento das grandes necessidades sociais (exemplos: saúde, educação, desenvolvimento social). Cabe ao PT, em sintonia com a presidente, orientar estes ministros para que cumpram as devidas diretrizes programáticas.
Entre as ministras petistas, comemoramos especialmente a presença da deputada federal capixaba Iriny Lopes, eleita pelo PT do Espírito Santo e militante da Articulação de Esquerda, convocada para ser ministra das Mulheres.
Nos próximos artigos que escreverei para esta coluna, farei uma análise mais detalhada de cada ministro, bem como da composição do segundo escalão do governo. Por enquanto, o fundamental é ter claro que o governo Dilma começa com uma grande expectativa popular, expectativa que foi criada por nós mesmos: a de que continuaremos mudando o Brasil e, portanto, que o mandato 2011-2014 será superior aos dois mandatos anteriores de Lula.
Para dar conta desta expectativa, é importante que este ministério sofra alterações ao longo dos próximos quatro anos, de preferência o mais rápido possível. Entre as mudanças, além das estritamente políticas, cito também a nomeação de mais negros e negras para o ministério.
A eleição de Dilma Roussef não encerra a luta contra a influência do neoliberalismo no Brasil; tampouco encerra a disputa entre a via conservadora e a via democrática de desenvolvimento. Ao contrário, ambas as disputas tendem a se aprofundar ao longo da gestão Dilma, por iniciativa da oposição de direita, da esquerda político-social ou do próprio governo.
A coligação governista possui uma ala esquerda, que deve ser encabeçada pelo PT. Esta ala esquerda deve continuar a luta contra o neoliberalismo e em favor do desenvolvimento com soberania, integração continental, aprofundamento da democracia e ampliação das políticas sociais. A ala esquerda da coligação governista também deve impulsionar a luta por reformas estruturais, articulando isto com nossa luta pelo socialismo. Bem como travar a disputa em favor de uma cultura de esquerda. Se tivermos êxito neste conjunto de frentes, o governo Dilma será superior ao governo Lula, assim como o segundo governo Lula foi superior ao primeiro governo Lula. Claro que isto dependerá, também, da atuação de Lula, já como ex-presidente; e também da atuação do Partido dos Trabalhadores, demais partidos de esquerda e movimentos sociais.
No que toca ao PT, um ótimo sinal foi dado pela bancada federal do Partido, no processo de indicação do candidato do PT à presidência da Câmara dos Deputados. Foi ótima a desistência de Cândido Vacarezza, précandidato tido como imbatível e que mesmo antes de eleito já fazia acenos para o PMDB e outros setores, incluindo nestes acenos uma vergonhosa entrevista na revista Veja. Esperamos que novos sinais sejam dados pela direção nacional do Partido e pelo congresso que o PT realizará em setembro de 2011.