A manhã do segundo dia da XVIII Conferência Estadual de Educação começou com a apresentação do Coral do SINTESE Professora Sonia Maria e do Grupo de Dança do SINTESE. Foi um momento lúdico para afagar a alma, já que tema de discussão da manhã foi tenso: Assédio e controle do trabalho docente e consequências. As palestrantes da manhã foram a pós-doutora Marcia Jacomini e a doutora Selma Venco.
Um ponto destacado pelas professoras é que o assédio tem ganhado novas formas, além da agressão verbal. “A gente precisa pensar o conceito de assédio de forma ampliada. Eu me pergunto: um professor dar aula de uma disciplina para a qual ele não foi formado a nível de graduação configura uma forma de assédio? Porque isso o coloca, inclusive, numa situação constrangedora diante de uma sala de aula porque ele vai ministrar conteúdos que ele não teve uma formação na graduação”, questionou a professora Marcia.
“Estou me referindo especialmente a este conjunto de disciplinas ou de componentes curriculares que entraram no currículo por meio da reforma do ensino médio, como o ‘Projeto de vida’. Quem fez curso na faculdade para trabalhar projeto de vida? Qual é o conteúdo científico de projeto de vida? Cada rede de ensino estrutura como acha que deve ser e atribui as aulas de projeto de vida, por exemplo, a professores das mais diferentes formações disciplinares. Isso não é uma forma de assédio?”, criticou.
“Se a gente pensa a política educacional como um todo, ela é uma prática de assédio moral ou não? Porque você estabelece metas homogêneas para contextos heterogêneos. Então ninguém quer saber se naquela escola tem problema X, Y ou Z que vai ser difícil de ser superado, mas a racionalidade da política vai dizer ‘cumpra-se tal meta’. Não tem aproximação com as realidades, é uma política de gabinete que desconhece a realidade de cada escola e nem faz questão de conhecer, gerando desilusão com a profissão”, observou a professora Selma.
“Você começa a ser constrangido já com as obrigatoriedades do dia a dia e aí você tem outros constrangimentos que são por parte dos alunos, das famílias, da gestão do trabalho. Ficou configurada uma situação de trabalho que a gente precisa se perguntar mesmo se é assédio ou não”, destacou. “E ainda temos que enfrentar o controle, através de relatórios, pessoas assistindo às aulas, avaliações em grandes escalas e tudo isso também são formas de constrangimento”, acrescentou.
Com todo esse assédio e controle é possível perceber alguns objetivos. “No trabalho industrial, a ideia é padronizar para substituir, para reduzir o número de operários nas fábricas e depois vem a automação e etc. Essa organização de trabalho demorou a chegar ao trabalho intelectual e todo esse conjunto de ações é uma tentativa de simplificar o trabalho intelectual porque será uma pessoa mais fácil de substituir, junto com essa ideia de plataformização, é uma intenção de reduzir o número de professores em sala de aula”, alertou a professora Selma.
“Um outro objetivo é um controle da formação das novas gerações. O capitalismo chegou num momento de seu desenvolvimento e crise que não podemos mais formar jovens que tenham a intenção de ser um servidor público, de trabalhar numa fábrica, de ter uma profissão, de ser um trabalhador de carteira assinada e ser um ser reflexivo, um estudante que tenha a ideia do coletivo como algo importante”, alertou também a professora Marcia. “Para alcançar esse objetivo, o capitalismo precisa que a escola precisa trazer outros conteúdos, outras formas de ensinar”, acrescentou.
Apesar do cenário pavoroso, há saída. “A saída está aqui, em atividades como esta Conferência. É a mobilização, a resistência, é a luta.Eu ouvi de uma professora que a revolução vem da escola. E isso me marcou muito e me faz refletir o quanto quem está determinando essa política de educação pública está interessado em que famílias, professores e comunidade façam essa transformação. Então, não podemos esmorecer”, conclamou a professora Selma.
“É preciso ter uma saída e ela passa pelo rompimento com a política neoliberal. É a primeira coisa que temos que fazer. Desde o Governo Collor, esta é a política que orienta as medidas econômicas e sociais em todas as esferas e que acabou sendo assumida pela classe trabalhadora e pelos sindicatos. Precisamos nos transformar, enquanto sindicatos, trabalhadores e sociedade, organizar a população na perspectiva coletiva, que se perdeu pelo neoliberalismo”, alertou a professora Marcia. “E como se luta contra o neoliberalismo? É recuando em nossas pautas ou é colocando-as como uma alternativa para a população, para os trabalhadores e nos organizando para isso? Precisamos entender que é lá na escola, lá no bairro, lá na fábrica, junto com os trabalhadores organizados que vamos construir uma outra possibilidade”, acrescentou.
A XVIII Conferência Estadual de Educação segue à tarde. Confira a programação em nosso site www.sintese.org.br