Três mil professores dos mais diversos municípios sergipanos aproveitaram a tarde para questionar as políticas públicas destinadas à educação. O ato desta terça-feira nos remete a outras manifestações em defesa de uma educação pública e de qualidade social para os filhos e as filhas da classe trabalhadora, tal como vem ocorrendo no Chile e semelhante à 1ª Marcha Pelo Direito à Educação de Aquidabã.
Sem Piso
As situações mais drásticas são vivenciadas pelo magistério de Salgado e Neópolis, que seguem em greve. Nessas cidades, o Piso Salarial Profissional Nacional (PSPN) sequer foi integralizado e as prefeituras insistem em ignorar as reivindicações da categoria. “O prefeito Marcelo Guedes quer nos empurrar um Plano da Vergonha, mas a sociedade nos apóia e nós continuaremos a resistir”, afirmou a professora da rede municipal de Neópolis, Benalva dos Santos, sobre a proposta apresentada pela administração municipal (e rejeitada) que reduziria a remuneração dos educadores em até 7%.
Gestão Democrática x Avaliação de Desempenho
Em vez de atender às demandas de professores e alunos das escolas públicas e implantar a Gestão Democrática, o governo prefere impor, sem compreender a realidade do sistema público de ensino em Sergipe, um modelo de avaliação de caráter meramente punitivo e controlador. A Avaliação de Desempenho copiada de Minas Gerais é regida pela lógica da competitividade e ao contrário do que deveria ser, trata a escola como variável independente.
Para piorar a situação, é destinada ao professor a função de trabalhar para manter a qualidade de ensino mesmo com ‘a escassez dos meios’. “Acreditamos que precisamos avaliar a educação pública, mas não dessa forma. Uma avaliação real deve ser sistêmica, compreender a dinâmica de cada local, de cada comunidade e das pessoas que dela fazem parte. Esse modelo não nos contempla, visa apenas punir o professor e constranger os alunos”, criticou Roberto Silva Santos (diretor do Dep. de Base Estadual do Sintese).
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica de Sergipe defende avaliações que sirvam para retroalimentar o projeto educacional, com responsabilidade efetiva de gestão política e pedagógica tanto da instituição, quanto do sistema. Pois compreende que “avaliação não deve ser um mecanismo de exclusão, demissão ou estigmatização”, explicou Lúcia Barroso, vice-presidenta da entidade.
Contra a Criminalização
Enquanto os trabalhadores lutam, os gestores recorrem à justiça. E, infelizmente, aqui em Sergipe o TJ tem uma resposta pronta para todo movimento grevista: a ilegalidade. “O judiciário precisa rever seu posicionamento. Criminalizar as greves, direito dos trabalhadores, não é o caminho”, lamentou Lúcia. Mas, a moda pegou. Bastaram os professores de Monte Alegre anunciar paralisação nos primeiros dias desta semana para que o Sindicato fosse notificado.
Os educadores retomam as atividades em sala de aula nesta quarta-feira (17). Exceto em salgado e em Neópolis, onde o movimento de greve continua até que as reivindicações sejam atendidas e piso implantado e reajustado.