O processo de avaliação foi o destaque do debate na manhã do 3º dia da X Conferência. Na mesa a professora do departamento de Educação da Universidade Federal de Sergipe, Sônia Meire Azevedo de Jesus e o professor das redes estadual e municipal de Aracaju, Iran Barbosa apresentaram elementos para que a discussão da avaliação seja aprofundada entre os professores.
No início de sua fala Sônia Meire ressaltou que é importante antes de qualquer discussão sobre avaliação, que os professores compreendam que a escola não está isolada, mas sim inserida num processo e em uma política mais ampla.
Ela fez um histórico da avaliação no Brasil e como as teorias de cada década “contaminaram” o processo e as discussões. Nos anos 60/70 a avaliação é baseada nas teorias mecanicistas, controladoras e tendo como ponto de atração o incentivo salarial. Já nos anos 80/90 entra no processo de avaliação os valores de mercantilização da vida, travestida de discurso democrático.
Na discussão de avaliação nos anos 2000 o projeto neoliberal se aprofunda na Educação com modelos de Educação, que têm a sua versão mais conhecida nos pacotes instrucionais para todos os níveis da educação. Há um processo de privatização da cultura escolar e os pacotes são um exemplo claro disso. ”Estamos perdendo nosso principal objeto de luta, que é o nosso conhecimento”, disse Sônia Meire.
Sônia alertou que é preciso tomar cuidado com certos discursos de que a escola de antigamente era boa. A escola antigamente era fundamentada na exclusão, pois nem todos tinha acesso. Para ela hoje há um discurso de se retornar a escola de outrora, mas aquela escola era excludente e elitista. Temos que melhorar a escola no que ela é hoje, ampla.
“Para isso a escola não pode ser o espaço da repressão, facismo, autoritarismo, não pode ser um espaço de negação dos sujeitos. A escola deve ser o espaço da vida, pois a sociedade ainda a respeita”, ressaltou.
Avaliação Institucional
Na sua contribuição para o debate, Iran apresentou as discussões acumuladas pelos trabalhadores da Educação sobre avaliação.
Para Iran realizar a avaliação do ensino não pode ser focada exclusivamente na escola. É necessário avaliar a estrutura e o funcionamento da sociedade; o modelo de Estado e o projeto de governo em andamento; a forma como o Sistema Educacional se organiza e funciona e fazer Avaliação Institucional da Escola. “Não podemos aceitar avaliações que não responsabilizem governos, parlamentares, pois suas ações influenciam nas escolas”, afirmou Iran.
A avaliação não se pode deixar-se levar por modismos ou pelo senso comum. Ela deve ser processual, que envolva os sujeitos que atuam internamente e externamente no ambiente escolar, tecnicamente competente, e, principalmente, ser politicamente legítima. “Não me venha falar de avaliação aquele que contribui para a destruição da escola pública”, disse.
Iran também colocou que iniciativas inconseqüentes de avaliação resultam em: não oferecer elementos para a melhoria da instituição e do sistema; não beneficiam os estudantes, estimulam a mercantilização do ensino, aprofundam a competitividade, aprofundam a seletividade e contribuem para a resistência à avaliação.
O estudo “A qualidade da Educação sob o olhar dos professores” mostra que 45% dos professores são favoráveis a avaliação. Para Iran é descabido o governador afirmar que os professores têm medo de avaliação. “Os professores não têm medo de serem avaliados, mas querem que essa avaliação seja do sistema e que sirva para a melhoria da Educação pública e não para assediar a punir”, apontou.