Rian Santos
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Einstein era um velhinho sabido. Poucas verdades podem ser vividas de maneira tão sensível quanto a relatividade do tempo. Pois foi amparado por uma relação problemática com a passagem do danado que o fotógrafo Victor Balde concebeu a exposição “Sobre ansiedade e paciência”, que integra a programação do XXI Culturarte, entre os dias 18 e 20 de novembro, em Pirambu.
Em pouco mais de uma hora, Balde registrou a maneira como os participantes da última edição do Culturarte, realizada ano passado, se comportavam enquanto esperavam o momento de reivindicar a atenção do público. Nos ponteiros dos relógios, velhos e moços pendurados, cada um a sua maneira.
Foi mais ou menos o que Balde nos explicou, em conversa reproduzida abaixo. “As coisas estão se tornando cada vez mais efêmeras”.
Jornal do Dia – Não é quase irônico que profissionais dedicados a “eternizar” o momento se detenham com tanto cuidado sobre a maneira como as pessoas lidam com o tempo? É possível compreender a exposição “Sobre ansiedade e paciência” como mais um esforço nesse sentido?
Victor Balde – O “tempo” é algo sempre presente em meus pensamentos. Seja com a fotografia, ou com uma ampulheta tatuada, sigo tentando fazer cada dia durar mais do que 24 horas. Hora ou outra paro pra pensar sobre o assunto, sobre como muitas coisas estão se tornando cada vez mais efêmeras. Portanto, o objeto do ensaio é algo com o que me identifiquei bastante por já ter sido uma pessoa muito ansiosa. Hoje em dia estou muito mais paciente, e com certeza, uma característica inerente a grande parte dos fotógrafos é a paciência, a espera pelo momento.
JD – Ao que parece, as fotos que resultaram na exposição foram capturadas em um espaço de tempo muito curto (apenas uma hora). Como foi esse processo? Quando você sacou a câmera já tinha a idéia em mente, ou foram as fotografias, depois de reveladas, que sopraram essa história em seus ouvidos?
Balde – Recebi o convite da Jamyle Argolo, que trampa no Projeto Tamar, e é uma das responsáveis pela organização do Culturarte. Fui pra lá com a câmera, mas sem nenhum foco fotográfico específico. No processo da espera para o início das apresentações foi que percebi os diferentes tipos de reações das pessoas envolvidas e comecei a dar esse direcionamento às fotografias.
JD – Aracaju tem revelado uma galera massa, determinada a utilizar as lentes das câmeras para traduzir o próprio olhar em imagens. Como a reunião em coletivos, a exemplo do Trotamundos, está interferindo no amadurecimento da linguagem aqui na terrinha?
Balde – Acredito que a conversa/interação seja mais do que essencial no desenvolvimento de qualquer profissional. As iniciativas do Trotamundos são muito importantes, pois promovem a troca de idéias com os seus debates e ações, oferecendo a oportunidade necessária para conhecermos outras pessoas da área e discutir os diversos segmentos fotográficos.
JD – Você é uma vítima recorrente dos editores de periódicos, que costumam utilizar seu trabalho mas nem sempre lembram de atribuir os devidos créditos. Deve ser uma merda ser confundido com aquele cabra sem graça, que atende pelo nome feio de “Divulgação”. Como é se virar com a fotografia aqui em Aracaju? O fotógrafo é um profissional respeitado entre os nossos?
Balde – No caos diário de uma redação (falo pelo que ouço dos amigos que trampam na área) parece que foi adotada uma convenção infeliz. Na hora de creditar as fotos, quando não há certeza a respeito da autoria, basta recorrer pro “arquivo” ou “divulgação”, o que é uma bosta, visto que já não ganhamos quando as imagens da gente são utilizadas pelo jornal. O mínimo que merecemos é ter nossos créditos corretos. A negligência com o fotógrafo é uma realidade muito frequente aqui em Sergipe. Em publicações de centros como São Paulo P e Rio de Janeiro isso só ocorre raramente. E o pior, acho que pra mudar isso em Aracaju só depois de rolar um processo. Tomara que eu esteja errado.
JD – Parece que a exposição vai ser realizada em diversas etapas. Qual a importância de levar esse trabalho além de nosso umbigo? Que espécie de provocação está guardada nesse trabalho?
Balde – A possibilidade de acontecer essa exposição com o financiamento do Projeto Tamar veio em uma hora perfeita. Estava desde o ano passado com uma inquietação/paranóia de que as minhas imagens só atingiam pessoas com acesso à internet, ou quando rolava alguma publicação, ou em alguma galeria de arte. Mesmo juntando essas três possibilidades, a parcela da população atingida é mínima. Com a montagem da exposição em Pirambu, já foi possível ver pessoas comentando que nunca tinham visto uma exposição, e isso pra mim é fantástico. A melhor coisa que a fotografia tem me trazido é isso, poder conhecer pessoas simples que possuem uma essência linda. Senti isso no primeiro dia em que saí pra fotografar (no MST em agosto de 2007) e felizmente, hora ou outra, tenho essa sensação gratificante. As pessoas fotografadas nesse ensaio nunca imaginaram que fossem sair de casa e se ver em fotografias, compondo uma exposição. Isso é massa!