Com morte de outra jornalista, crime organizado do México tenta amordaçar as redes sociais

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A última mensagem na Internet de quem se fazia chamar de NenaDLaredo foi: “Caçada aos ratos – se veem para onde correm, DENUNCIEM já!” [tudo escrito em linguagem abreviada de internet]. Isso foi na última quinta-feira. Na sexta, 24, a jornalista María Elizabeth Macías Castro, como na realidade se chamava NenaDLaredo, 39, desapareceu. No sábado foi encontrada morta, seminua e decapitada no monumento a Cristóvão Colombo em Nuevo Laredo, no estado de Tamaulipas. Junto a seus restos havia teclados de computador e uma mensagem que, entre outras coisas, advertia: “Estou aqui por causa das minhas reportagens e das suas”.

Caso se confirme que o assassinato foi cometido pelos grupos do crime organizado, ficaria constatado que a mordaça do terror que os cartéis do crime impuseram em regiões inteiras do México, conseguindo silenciar jornais, rádios e televisões, está chegando aos sites da web e às redes sociais, uma esfera que até agora escapava a seu controle.

Macías era chefe de redação do jornal “Primera Hora”, de Nuevo Laredo. O diário pertence ao prefeito dessa cidade fronteiriça com o Texas. Nenhum dos diretores do órgão se dispôs a fazer comentários. A notícia do assassinato da jornalista não foi publicada por vários veículos da região. O mais longe a que chegaram alguns deles foi publicar que havia sido encontrado o corpo de uma mulher assassinada.

Além de seu emprego no “Primera Hora”, Macías Castro participava do “Nuevo Laredo en Vivo”, um portal online onde a primeira coisa que chama a atenção é o logotipo, com imagens de patrulhas e elementos da polícia federal e das forças armadas. No site da web estão destacados os telefones das autoridades federais pelos quais é possível denunciar crimes. Em homenagem a NenaDLaredo, na segunda-feira se colocou no cabeçalho do site uma faixa de luto com a legenda: “NenaDLaredo Q.E.P.D. 1972-2011. Sempre estará PRESENTE”.

“Nuevo Laredo en Vivo” é um site que promove a denúncia através de fóruns de participação. NenaDLaredo moderava alguns deles e publicava coisas como: “Ontem a SEDENA [exército mexicano] resgatou seis sequestrados, ficando detida uma praga. CONTINUAMOS DENUNCIANDO. Obrigada por seus relatos”.

Na página são dados conselhos para evitar ser vítima dos criminosos. No nº 8 sugerem: “Seja reservado. Feche a boca em lugares públicos e não fale que ‘está cansado do crime’ … ou que ‘sabe onde estão os Zetas’ … de que ‘quer fazer algo para parar a criminalidade’… não amigos… você não sabe mais quem está ao seu lado no restaurante, na missa, no parque… é melhor reservar seus comentários e deixar que as autoridades façam seu trabalho”.

O assassinato de Macías ocorre dez dias depois que, também em Nuevo Laredo, os corpos de dois jovens foram pendurados de uma ponte com mensagens que advertiam que os que usassem as redes sociais para denunciar criminosos teriam o mesmo destino. Em ambos os casos as advertências eram assinadas pelo grupo criminoso dos Zetas.

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) criticou na segunda-feira o presidente Felipe Calderón por sua “falta de compromisso” diante desse novo assassinato de um jornalista no México. Em um comunicado, o presidente da SIP, Gonzalo Marroquín, expressou sua frustração ao lembrar que há um ano o presidente lhes “afirmou que redobraria esforços para garantir a segurança dos repórteres e aceleraria uma reforma para que os crimes contra jornalistas fossem considerados crime federal”.

A situação dos jornalistas no México é crítica. Tamaulipas, território disputado por diversos cartéis, não é o único estado onde os meios de comunicação reduziram ao mínimo sua cobertura do crime organizado. Em posição semelhante de silêncio forçado estão jornalistas de Nuevo León, Coahuila, Durango, Michoacán e Veracruz. Diante disso, surgiram sites, blogs e contas no Twitter onde os cidadãos denunciam crimes, o que poderá retroceder depois do assassinato de NenaDLaredo.

Assédio à imprensa

– Onze jornalistas foram assassinados este ano no México, segundo a Repórteres Sem Fronteiras. É o país mais perigoso da América Latina para os comunicadores, e o segundo do mundo depois do Paquistão. Desde 2000, um total de 81 repórteres foram assassinados. O número se eleva para 102 segundo os cálculos de organizações locais. Em dois meses quatro jornalistas morreram assassinadas.

– 26 de setembro. Tamaulipas. María Elizabeth Macías, 39 anos, redatora-chefe do jornal “Primera Hora”, foi decapitada.

– 31 de agosto: México, DF. Rocío González Trápaga, ex-repórter da Televisa, e Ana María Marcela Yarce Viveros, fundadora da revista “Contralínea”.

– 26 de julho: Veracruz. Yolanda Ordaz de la Cruz, redatora de informação policial do jornal “Notiver”.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves