Depois do carnaval com o bloco Siri na Lata, a Central Única dos Trabalhadores – CUT/SE – promove uma manifestação de protesto também na Semana Santa. Na manhã do Sábado de Aleluia, 11, será realizada a tradicional Queima do Judas, no Calçadão da João Pessoa, centro de Aracaju.
O objetivo é mandar ao fogo todas as injustiças sofridas pelo trabalhador que é quem paga o pato sempre. Também, denunciar toda a corrupção política do Estado, bem como fatos que marcaram a vida na capital e no interior.
De acordo com o presidente da CUT/Sergipe, Antônio Carlos da Silva Góis, após pesquisa democrática às diversas entidades afiliadas, o ato revelará os Judas sergipanos eleitos neste ano. Quem ou o quê será que vai para a fogueira? Diversas pessoas, empresas e situações foram citadas e receberão a merecida lembrança diante da comunidade. Sem dó nem piedade, Judas será queimado.
A história de Judas
*No folclore
A ‘Malhação de Judas’ ou ‘Queima de Judas’ é uma tradição vigente em diversas comunidades católicas e ortodoxas que foi introduzida na América Latina pelos espanhóis e portugueses. É também realizada em diversos outros países, sempre no Sábado de Aleluia, simbolizando a morte de Judas Iscariotes.
O ato consiste em surrar um boneco do tamanho de um homem, forrado de serragem, trapos e jornal, pelas ruas de um bairro e, em seguida, atear fogo, normalmente ao meio-dia.
Cada país realiza a tradição a seu modo. Alguns queimam os bonecos em frente a cemitérios ou perto de igrejas. No Brasil, é comum enfeitar o boneco com máscaras ou placas com o nome de políticos, técnicos de futebol ou mesmo personalidades não tão bem aceitas pelo povo.
Algumas cidades fazem da Malhação de Judas uma atração turística, como a cidade paulista de Itu, famosa por seus objetos de tamanhos avantajados. Os moradores da cidade aumentam o tamanho do boneco a cada ano, mas com um diferencial: no lugar de atearem fogo é usando até mesmo dinamite. Costuma-se chamar o ‘Estouro de Judas’.
No Brasil, é costume antigo fazer-se o julgamento de Judas, sua condenação e execução. Antes do suplício, alguém lê o ‘testamento’ de Judas, em versos, colocado especialmente no bolso do boneco. O testamento é uma sátira das pessoas e coisas locais, com graça oportuna e humorística para quem pode identificar as figuras alvejadas.
Com esta tradição de queimar o Judas – o Apóstolo que atraiçoou Cristo e que O vendeu por 30 dinheiros, como se afirma no Evangelho – o que se pretende mesmo, para além do convívio, é descobrir o podre, vilipendiar o mal e purificar as consciências através do fogo.
Entretanto, e antes propriamente da queima do boneco, não escapam à má língua os acontecimentos mais picantes da vida local, testamentados pela voz do Judas, desnudando algum caso mais misterioso e brincando com algumas personalidades locais.
*Na religião
Judas Iscariotes foi um dos 12 apóstolos de Jesus Cristo que, de acordo com os evangelhos, veio a ser o traidor que entregou Jesus Cristo aos seus capturadores por 30 moedas de prata. Era filho de Simão de Queriote. Judas, em grego Ioudas, é uma helenização do nome hebraico, palavra que significa “abençoado” ou “louvado”, sendo, inclusive, o nome de apóstolo que mais vezes aparece nos evangelhos (20 vezes), depois do de Simão Pedro.
A traição
Judas teria entregue Jesus por 30 moedas de prata que, provavelmente seriam siclos e não denários como freqüentemente se julga e afirma. Esse era o preço de um escravo. De acordo com o autor do evangelho de Mateus, os principais sacerdotes decidiram não colocar essas moedas no Tesouro do Templo de Jerusalém, mas, em vez disso compraram um terreno no exterior da cidade para sepultar defuntos.
Segundo Zacarias, profeta do Antigo Testamento, a vida e o ministério do prometido Messias (ou Cristo) seria avaliado em 30 moedas de prata. Isto significava que, segundo a leitura dos acontecimentos feita pelo evangelista Mateus, os líderes religiosos judaicos foram induzidos a avaliar a vida e ministério de Jesus de Nazaré como dotada de bem pouco valor.
A motivação da sua ação é justificada ou explicada, nos evangelhos, de diferentes modos. Assim, nos evangelhos mais antigos, os de Mateus e de Marcos, tal deveu-se à sua avareza. Já nos evangelhos de Lucas e de João o seu procedimento é subordinado à influência direta de Satanás sobre as suas ações.
A morte
Os autores do Novo Testamento, relendo à luz da sua Fé as escrituras do Antigo Testamento, procuraram, de algum modo, mostrar que a morte de Judas fora análoga à que as Escrituras apresentavam para o ‘desesperado’ e para o ‘ímpio’.
Assim, no caso do Mateus 27:5 se relata que Judas Iscariotes ao sentir remorsos decide suicidar-se por enforcamento: «E Judas, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar», e no livro dos Atos 1:18, o seu autor conta que caiu de cabeça para baixo, rebentando ruidosamente nos rochedos pelo meio: «Adquiriu um campo com o salário de seu crime. Depois tombando para frente arrebentou ao meio e todas as vísceras se derramaram». Procurando-se harmonizar e combinar os dois relatos da sua morte pode-se dizer que Judas se terá enforcado, mas que a corda – ou o ramo da árvore onde esta estava atada – se terá quebrado. A vaga por ele deixada – segundo Atos 1:26 – foi preenchida por Matias.