Diocese de Propriá: O clamor da Deputada Ana Lúcia é o clamor dos pobres!

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“Quero trazer a memória, aquilo

que me pode dar esperança”

(Jeremias-Lamentações, 3-21)

Quero através deste me somar à deputada Ana Lúcia neste momento em que ela torna público a situação de terror causado pelas ameaças feitas por fazendeiros no município de Brejo Grande.

A nossa Diocese sempre esteve junto aos excluídos do Baixo São Francisco e, desde 2005, tem priorizado sua presença junto aos pobres de Brejo Grande cujo IDH é um dos mais baixo do Estado. Aos pobres, por completo, nunca lhes fora dado o direito de uso da propriedade, a não ser como meeiros – que é um regime de semi-escravidão – até meados dos anos 80, quando foram expulsos das lagoas naturais que são da União. As águas do rio São Francisco e do Mar são a salvação para quem quer permanecer no município. O retrato do município lembra um bolsão de miséria como se estivéssemos nas favelas das grandes cidades. O descaso em relação à execução de políticas públicas nos mostra um retrato do tempo do Brasil colônia, no tempo da casa grande e das senzalas: aos escravos, pobres, só os restos; aos senhores, os donos das terras e dos poderes políticos, tudo.

E como isso esmaga a dignidade humana! Como isso causa indignação. Os Bispos da America Latina, reunidos em Aparecida/SP, em maio de 2007, declararam que os “Os rostos sofredores dos pobres são rostos sofredores de Cristo”. Eles desafiam o núcleo do trabalho da Igreja, da pastoral e de nossas atitudes cristãs. Tudo o que tenha relação com Cristo, tem relação com os pobres e tudo o que está relacionado com os pobres reivindica a Jesus Cristo: ‘Quando fizeram a um deste meus irmãos menores, fizeram a mim’ (Mt 25,40). João Paulo II destacou que este texto bíblico ‘ilumina o mistério de Cristo’. Porque em Cristo, o maior se fez menor, o forte se fez fraco, o rico se fez pobre”.

O povo pobre de Brejo Grande, o Jesus pregado na Cruz, humilhado e esquecido ao longo da nossa história, está sendo descido do madeiro, curtindo o gosto da Ressurreição que já começou a acontecer desde o dia em que acreditou. Espera o dia de sua libertação desta miséria infernal (toda miséria é infernal!) desde 1976, quando a CODEVASF desapropriou 02 fazendas e não as entregou aos pobres e, absurdamente, as vendeu a fazendeiros da cidade… e de lá até 2005 nada foi feito para incluir socialmente o povo trabalho daquele município. A partir de agosto de 2005, lideranças antigas e mais algumas novas daquele lugar assumiram seu protagonismo e voltaram a se organizar. Foram aos diversos órgãos dos governos estadual e federal. As ameaças foram intensificadas: um fazendeiro usou de trator, acompanhado por policiais (sem ordem judicial), para derrubar casas dos moradores; construíram cercas uma área de mais de 10 mil tarefas onde antes era em aberto, incluindo cancelas e mata-burros em estradas públicas, como se fossem deles; queimaram barracos de pescadores à margem do rio que é de domínio público; outros colocaram cachorros para impedir dos pobres pescarem nas lagoas marginais, que também são da União… e tudo já denunciado pelos próprios posseiros, vítimas, em audiências públicas, que já tomaram providências. As cancelas já foram retiradas, as malditas cercas ainda não. As terras da União já começaram a ser desapropriadas, começando pela Resina; e no último dia 1º deste foi entregue a fazenda Batateira.

Temos que registrar a atuação corajosa da Equipe do INCRA que, em sintonia com o Ministério Público Federal, e apesar das continuas ameaças, tem atuado incansavelmente.

Louvado seja Deus pela coragem dos pescadores quilombolas de Brejo Grande de todas as idades e gênero que, de cabeça erguida, estão enfrentando os tubarões neste mar da vida, participando ativamente na conquista de dignidade e justiça para todos naquele município: “Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça” (Mateus, 5,6)

 

Propriá(SE), 03 de março de 2010.