Algo estranho tem acontecido nos últimos tempos: comportamentos incompatíveis com a história das pessoas e das instituições têm aflorado de um modo tal que chega a ser assustador.
Principio por recordar a inesperada troca que as centrais sindicais fizeram com a Presidente Dilma. Permitir que pessoas que ganham menos de 3 (três) salários mínimos paguem Imposto de Renda Retido na Fonte todo mês em troca de poderem nomear representantes nos Conselhos de Administração das empresas estatais.
Trata-se do mais puro e vergonhoso exemplo de peleguismo da história do sindicalismo brasileiro. Uniram-se no abandono aos trabalhadores mais humildes diversas centrais – algumas já com larga experiência em fazer as vontades dos patrões em troca de vantagens pessoais, outras que tinham alguma independência e outras que sempre se postaram firmes na defesa dos interesses do proletariado – e, numa reunião no Planalto, firmaram o acordo.
Fato: os trabalhadores que recebem acima de 2,87 (dois vírgula oitenta e sete) salários mínimos por mês pagam imposto mensalmente, como se isso representasse uma renda que pudesse ser redistribuída – importante dizer que a Defensoria Pública da União os considera pobres e incapazes de pagar quaisquer despesa judiciais sem prejuízo do seu sustento.
Mas as centrais sindicais e o Governo Federal os consideram pessoas abastadas que devem perder parte do que ganham para financiar a máquina pública!
Em Sergipe, outra coisa inusitada também aconteceu: o Governador Marcelo Déda resolveu assumir a postura dos coroneis da velha política e tomou para si o comando do nascente partido que aglutina a direita fujona e adesista.
Cuida-se de um movimento político também inusitado no âmbito da esquerda – talvez simbolize o afastamento definitivo do seu protagonista daquilo que se conhece como esquerda – somente patrocinado pelos coroneis ou pelos velhos caudilhos, que, no poder, passavam a determinar os rumos dos partidos que os apoiavam, determinando quem iria se filiar nessa ou naquela sigla partidária que lhe era alugada.
Na esquerda mais identificada com o socialismo essa prática sempre foi abominada e, no PT, é merecedora de largo registro, pois absolutamente novidadeira.
Na última quinta feira, dia 19 de maio de 2011, finalmente, os trabalhadores em educação buscaram a via institucional – o Poder Judiciário – para solucionar o litígio que envolve o movimento grevista da categoria. Para protocolar a ação judicial, marcaram um ato, ao qual compareceram cerca de 300 professores e várias viaturas policiais repletas de homens vestidos em coletes à prova de balas e armados de metralhadoras.
Estado estranho: a busca do poder público para a solução do conflito reserva aos trabalhadores as boas vindas das armas acintosamente expostas para lhes amedrontar; para lhes incutir a certeza da inacessibilidade.
Mas o mais grave, que julgava impensável nos dias atuais, e inesperado em um governo autonominado de esquerda ainda estava por vir.
Entregue a petição inicial no protocolo, os professores se juntaram a outros trabalhadores do serviço público e aos empregados de empresas de telefonia e assim, juntos, resolveram fazer uma passeata pelo Calçadão da Laranjeiras. Acompanhei-os.
Mas não só eu. Pela primeira vez, desde os tempos do final da Ditadura Militar, seguia-os pelo passeio público uma cândida viatura policial, infestada de policiais armados “até os dentes”, como d’antes.
Senti saudades do velho brado que não imaginei voltaria a cantar: “ão, ão, ão, polícia é prá ladrão”.