Mais do mesmo?

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luizaraujo

No último dia de 2010 o Portal IG publicou uma entrevista com Fernando Haddad, naquele momento já confirmado por Dilma para permanecer à frente do Ministério da Educação.

Li atentamente para tentar descobrir novidades para o próximo período, mas infelizmente na maior parte da entrevista encontre “mais do mesmo”, ou seja, continuidade do que ele já vem fazendo ou defendendo. Não que isso seja negativo em si, 0mas parece ser uma constante em quem permanece no cargo por mais um período, sejam prefeitos, governadores e ministros: achar que já encontraram o caminho certo e não precisam fazer ajustes.

Selecionei três trechos que me chamaram a atenção. Quando perguntado sobre as prioridades para os próximos anos, o Ministro afirmou que a presidenta “incorporou ao seu discurso a idéia de que temos de atuar da creche à universidade” e criticou “política de foco” que prevaleceu no governo FHC. E listou três prioridades: educação infantil, diversificação do ensino médio e escola de tempo integral.

Sobre a participação financeira da União para que as coisas saiam do papel ele foi bem evasivo, e citando o ProUni afirmou que às vezes a questão não é de recurso e disse que o programa “não custou nada diante do alcance que ele tem”. Ao final minimizou dizendo que “com mais recursos, podemos fazer muito mais”.

Uma parte grande da entrevista tratou da prova nacional de concurso para a carreira docente. Afora anunciar que a mesma deve ser aplicada no início de 2012, chamou minha atenção o trecho que transcrevo abaixo.

“Queremos que os prefeitos e os governadores possam oferecer boas condições de carreira para atrair os melhores profissionais do Brasil. O prefeito tem pouco estímulo para reestruturar a carreira. Estamos dando as condições de eles mudarem o sistema de ensino. Essa prova vai incidir sobre as condições de carreira”.

Do que destaquei posso tecer os seguintes comentários:

1. Espero que a presidenta realmente tenha incorporado ao seu discurso uma atenção universal aos desafios educacionais. A política de focalização não fez nenhum bem a garantia do direito à educação. Mas espero que essa “incorporação” seja também prática e não apenas de discurso.

2. Das três prioridades listadas rapidamente pelo Ministro não tenho discordâncias (e certamente serão listadas outras no decorrer da gestão), mas me preocupa uma contradição entre o desafio de diversificar o ensino médio, que pareceu mais uma preocupação curricular, de formato do ensino médio ofertado e as propostas defendidas pela presidenta no seu discurso de remeter para a iniciativa privada, via ProUni do ensino médio, a expansão do setor.

3. Concordo que são necessários incentivos para que prefeitos invistam na valorização do magistério, mas isso não pode ser resumido à aplicação de uma prova nacional que barateie o ingresso nas esferas municipais. O principal problema para estruturar carreiras atrativas é financeiro. A prova incide lateralmente sobre a carreira, pode melhorar a qualidade dos profissionais que ingressam, mas sem melhores salários e sem garantia de progressão salarial no decorrer do tempo dificilmente a carreira será atrativa.

4. Quando falo que no geral parece “mais do mesmo” é que para o MEC o formato do financiamento já está resolvido, que a contribuição da União já é suficiente. Discordo dessa tese. Na verdade ela está implícita no discurso.

Foi apenas uma primeira entrevista de final de ano, vamos aguardar os posicionamentos futuros para conclusões mais definitivas.