Crescem as análises apontando para os preparativos de uma fase dois dentro do golpe. Algo como um “golpe dentro do golpe”. Estamos prestes a que se confirmem as reais razões do impeachment: a retomada do bloco hegemônico neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, que foi reconfigurado pelos governos do PT. A divergência entre PSDB e PMDB ganhou publicidade quando o primeiro recusou assumir na semana passada uma Secretaria de Governo, reivindicando maior participação nas decisões econômicas, vale dizer, de olho no posto de Meirelles.
Meirelles não é pessoa de confiança de todos – principalmente quando “erra” -, pois até participou do governo Lula. Chegou a ser cotado no governo Dilma para o lugar de Levy, mas Meirelles não aceitava a forma de gestão de Dilma. O PIB do último trimestre ampliou sua queda, na verdade dobrou a queda chegando a 0,8 (antes tinha sido de 0,4), mostrando que as medidas do governo Temer estão ampliando a recessão em direção à estagnação da economia. Não era isso o combinado – diz o “mercado”.
Crescem as análises apontando que Temer e Meirelles já teriam cumprido seu papel de conduzir o golpe inicial e promover a transição de primeira hora. Agora, deveria ocupar o lugar outra equipe mais definida e competente, sem implicações com a Lava-jato. No caso da economia, seria o grupo remanescente de FHC, Armírio Fraga.
Pressionado, Temer acena com novo pacote econômico para estimular a economia e tenta acelerar as reformas da previdência e da CLT, sendo que a primeira será divulgada hoje e a última pode até ser enviada ao Congresso via MP.
Outra não é a situação no Ministério da Educação onde, como vimos na entrevista de Daniel Cara, em outro post, há disputa entre a base do PSDB ali representada por Maria Helena Guimarães Castro e o próprio Ministro, oriundo do DEM. Aqui, o que se esperaria é Maria Helena assumindo o Ministério da Educação.
Com a delação premiada da Odebrecht atingindo até sete ministro de Temer, as manifestações voltando, agora sob a bandeira da “limpeza do Congresso” e o processo de cassação da chapa Dilma-Temer em andamento no TSE e que prevê seu desfecho a partir de janeiro do próximo ano, é possível que estejamos em um processo para que um “golpe dentro do golpe” apoiado no PSDB esteja em curso. As perspectivas são, portanto, de radicalização das teses neoliberais entreguistas.
Para Temer sobrará ter feito o trabalho sujo de primeira hora, inclusive o de comandar a derrocada da presidenta Dilma. Parece que a História está mais rápida e mais implacável em seu trabalho de colocar golpistas em seu devido lugar. Pode ter chegado a hora daqueles que, das proximidades do governo Dilma e Lula, tramaram contra eles, na expectativa de ficar com o espólio. Confesso que não esperava por tal celeridade da História.
Golpes dentro de golpes não são novidade em nossa história: Costa e Silva deu um “golpe” em Castelo Branco para radicalizar a repressão com o Ato Institucional No. 5 em dezembro de 1968, quatro anos depois do golpe militar comandado por Castelo Branco.
No entanto, isso não significa que o PSDB irá assumir o governo sem algum processo de “legitimação”. Fernando Henrique e Nelson Jobim são candidatos nessa nova fase do golpe como mostramos em post anterior. A tese de novas eleições diretas pode ser reavivada se sentirem que Lula e o PT estão destruídos – papel que é reservado à Lava-jato garantir. Caso contrário, podem apoiar a tese da eleição indireta via Congresso, onde o nome de Jobim é melhor posicionado, face às reticências de FHC.
Os procuradores da Lava-jato estão fora de controle institucional, insuflando a insurreição e ameaçando até mesmo o Congresso Nacional, criando as bases para a ampliação das teses neoconservadoras de ultradireita. A grande mídia os acompanha como se viu ontem na cobertura das manifestações de rua a favor da Lava-jato. Parte do empresariado e do mercado é presciente dos riscos e teme pelo pior. Mas o próprio capitalismo neoliberal está acuado por um processo de reestruturação global motivado pela emergência de uma quarta revolução industrial e pela própria crise da financeirização de 2008, a qual ainda persiste.
Um boa síntese do momento brasileiro é feita por Luis Nassif em um artigo que pode ser acessado aqui. Segundo Nassif:
“1. O governo Michel Temer acabou. Trata-se de um político menor e pior do que as piores avaliações sobre ele.
2. A era Henrique Meirelles também acabou.
3. O país está à beira de uma depressão, com convulsão social e com um governo sem diagnóstico e sem condição de comandar a recuperação. Mas o mercado insistirá em uma última tentativa (…). Henrique Meirelles e sua tropa deixarão de ser a equipe brilhante que salvaria a economia. Daqui para a frente, serão colocados no limbo, e a nova equipe brilhante será a do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que é um Meirelles elevado à tríplice potência.”
Para Joaquim Barbosa:
“Para o ex-ministro, que comandou o julgamento do mensalão, o impeachment foi “uma encenação” que fez o país retroceder a um “passado no qual éramos considerados uma República de Bananas”. Barbosa acha que o governo de Michel Temer corre o risco de não chegar ao fim.”
Leia aqui.