Cerca de 150 profissionais de educação participaram, no último sábado, dia 25 de novembro, do 6º Encontro de Educadores (as) Negros (as) e Indígenas do SINTESE. O foco foi tratar dos desafios de modificar a matriz monocultural da educação brasileira através das leis 10639/2003 e 11645/2008, que tratam da inclusão das culturas negra e indígena na base curricular.
“Este encontro é uma construção forte e potente do nosso povo, que é quem está em sala de aula. É o povo negro e o povo indígena, que forma a maioria da população e que está em sala, tanto como professor, como aluno”, disse Edinalva Mendes (Edi Serigy Tupinambá), diretora do Departamento para Assuntos Educacionais do SINTESE.
A partir disso, esta edição do encontro trouxe à discussão temas, como representação nos livros didáticos.
“Após a criação dessas leis [10639/2003 e 11645/2008], tivemos acréscimos nos conteúdos com relação às temáticas negra e indígena. Estes povos eram apenas representados no período da colonização, por exemplo, como se estes povos tivessem apenas passado, e não presente e futuro”, disse a doutoranda em Antropologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Joelma Cristina de Lima Antunes, que falou sobre a representação de negros e indígenas nos livros didáticos.
“É um processo de ações afirmativas para tornar o ensino uma atividade mais democrática, inclusiva e reparadora. Estas leis ainda não estão 100% implementadas, pois existem vários gargalos que interferem na sua efetivação, pois são 500 anos vivendo dentro desta realidade. Percebemos mudanças, mas graças ao trabalho de várias formiguinhas: um diretor, um professor, pessoas que vão tendo sensibilidade e transformando a realidade”, destacou Irinéia Nascimento, doutora em Química Analítica pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Precisamos ver estas mudanças se concretizarem no chão da escola de maneira efetiva para que possamos ser protagonistas da construção da educação, uma educação inclusiva, que respeita as diferenças e combate preconceitos”, disse José Carlos Tupinambá, doutorando em Antropologia Social pela Universidade de Brasília (UnB).
Dentre os temas de discussão, o encontro também trouxe ferramentas pedagógicas antirracistas, como forma de se trabalhar os diversos saberes e combater a discriminação. Uma delas foi a etnomatemática das tranças africanas. “A etnomatemática é uma área de pesquisa que vai falar das várias matemáticas, a matemática das crianças, dos médicos, de populações indígenas, quilombolas, mostrando que a matemática não é universal, que cada grupo pensa a matemática de acordo com sua cultura”, disse Luane Bento dos Santos, doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
“Durante todo o processo do penteado, você encontra progressão aritmética, adição, subtração, divisão, feixe de paralelas, entre inúmeros conteúdos que podem ser usados em sala de aula”, comentou.
“Os tecidos ganeses tem muitas relações de padronagens, o que permite fazer a educação matemática não apenas a partir dos símbolos e signos eurocêntricos”, afirmou Eliane Costa Santos, doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). “Nós só pensamos a matemática na contagem de base dez. Há outros povos com outras contagens. É importante a gente falar isso para a gente perceber outras formas de pensar o mundo”, acrescentou.
Eventos como estes não ficam apenas no momento de sua realização. “O encontro suscita entre docentes e discentes um processo de reflexão sobre o estar e a situação existencial do povo preto, do povo indígena, fomentando a construção de novas perspectivas do ensino no estado de Sergipe”, disse Roberto Amorim, dirigente sindical e coordenador do Kilomaloca, coletivo de combate ao racismo do SINTESE.
Atividades assim são ferramentas importantes para o fim do preconceito, uma luta diária e de todos e todas, como destaca Roberto Silva, presidente do SINTESE. “Isto é importante porque trazer este debate para o chão da escola, possibilita a professores e professoras argumentos e construções pedagógicas que permitem combater o racismo, o preconceito e a discriminação”, disse Roberto. “Em Sergipe, não há qualquer política de formação que assegure este tipo de conhecimento para educadores e educadoras, acrescentou.