“A Reforma do Ensino Médio acaba com o direito a Educação Básica”, diz Gaudêncio Frigotto

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Para o professor e filósofo Gaudêncio Frigotto que foi o principal debatedor da audiência pública sobre o tema na audiência pública promovida pela Assembleia Legislativa a Reforma do Ensino Médio é “para os pobres e contra os pobres”.

Ele assinala também a Medida Provisória 746 (que reforma o Ensino Médio) vai dificultar a ida do jovem pobre para a universidade, pois ela minimiza a formação daquele que frequentam a escola pública.

Frigotto também critica a propaganda governamental, principalmente no quesito “empregabilidade”. “Quero ver o Ministério da Educação mostrar como o jovem irá ser empregado com o conhecimento proposto pela Reforma do Ensino Médio”, ele questiona também onde serão gerados tantos empregos quando a conjuntura mundial é de desemprego estrutural.

De volta aos anos 40

O professor e filósofo, referência no debate sobre ensino médio e educação e trabalho, também ressaltou o retrocesso que essa reforma trará para a educação pública brasileira. “Querem fazer hoje com que a escola pública retome a parâmetros dos anos 40”. E que a reforma traz de volta uma dualidade que já deveria ter sido superada, que é a divisão educacional por classes sociais. Uma educação mínima para os pobres (só o limite para alfabetizar e poder entrar no mercado de trabalho em postos subalternos ou ficar no subemprego) e outra educação ampla e diversificada para aquele que podem pagar por ela (que enviaram esses jovens para os futuros postos de comando seja no serviço público ou na iniciativa privada). Isso é uma “violência processual contra as famílias que compõem 80% da população brasileira”.

A experiência de outros países

Indagado por um dos veículos de comunicação na entrevista coletiva concedida antes da audiência sobre o fato do Brasil não adotar o Ensino Médio Integral o país não ficaria atrás com relação a outras nações, Frigotto foi categórico ao assinalar que o Brasil tem uma tendência a imitar outros países, mas, no caso da Educação não faz de forma completa. “Gostam de citar a Coréia do Sul como ótimo exemplo educacional, não concordo com método, mas eles investiram anos atrás, 20 vezes mais do que o Brasil investe hoje na Educação”, pontuou.

A Reforma do Ensino Médio não cumprirá o que promete

Gaudêncio também lembrou que apesar da propaganda falar em aumento nos recursos, investimento maior nas escolas, tal situação não prosperará devido a aprovação da PEC 55 (atualmente Emenda Constitucional 93) que congela os investimentos públicos pelos próximos 20 anos.

Escola sem partido

Outra importante questão levantada pelo professor gaúcho diz respeito ao projeto Escola Sem Partido. Para ele a Reforma do Ensino Médio proposta pelo governo Temer é a prática completa do pensamento da escola sem partido, que propõe uma escola esvaziada do pensamento.

Para o SINTESE a Reforma do Ensino Médio vem para mutilar e, consequentemente, destruir a Educação Básica brasileira, pois o Ensino Médio não é o momento de o estudante optar pelo qual conhecimento ele quer ter, mas sim ser garantido todo o conhecimento, todo o saber, para que ele tenha uma formação humana completa, para que ele se forme como trabalhador com um pensamento crítico, com consciência crítica. Mutilar o conhecimento do jovem vai fazer com que ele tenha uma formação mínima, sem os elementos que o faça criticar a sociedade onde vive.

“Por isso momentos como esse possibilitado pela Comissão de Educação e Cultura da Assembleia Legislativa são importantes, pois é necessário debate e reflexão com professores, estudantes, pais e que ele precisa chegar em toda a sociedade para que ocorra a resistência pois essa reforma não pode ser implementada. Ensino Médio não é o momento de opção, mas sim de saber completo para que ele possa ter todas as condições de saber qual profissão ele quer seguir no Ensino Superior”, aponta a presidenta do SINTESE, Ivonete Cruz.