Em mais uma manobra autoritária e ilegítima, a Secretaria de Estado da Educação (SEED), quer impor ao Colégio Estadual Senador Walter Franco, localizado em Estância, seu modelo excludente de ensino médio em tempo integral. Diante disso, professores, estudantes, mães e funcionários participaram de ato em frente à unidade de ensino nesta quinta-feira, 14.
Na semana passada a comunidade escolar do Walter Franco foi surpreendida com a notícia de que a escola, a partir de 2018, será de ensino médio em tempo integral. A decisão foi tomada em uma reunião a portas fechadas, sem qualquer consulta a comunidade escolar, de forma completamente antidemocrática.
Reunião para poucos e a portas fechadas
Na última terça-feira, 5, o diretor do Colégio Estadual Senador Walter Franco , Oálassi Santana Amorim, se reunião com alguns membros do conselho escolar, que há pouco tempo fora eleitos para tal função e que até ali sequer tinha sido empossados. Durante a reunião, o diretor teve uma breve conversa com os membros do conselho e colocou, sem qualquer debate, sem qualquer prazo para amadurecimento e reflexão, que a partir dali o Colégio Estadual Walter Franco seria um do Centro Experimental de Ensino Médio de Tempo Integral. Para forjar legitimidade o diretor, naquele mesmo dia, empossou o conselho escolar e elegeu um presidente.
No dia seguinte o diretor, Oálassi Santana Amorim, encaminhou a Diretoria Regional de Educação 1 (DRE1), diretoria responsável pelas escolas estaduais de Estância e região, uma ata na qual dizia que a proposta da Secretaria de Estado da Educação, em transformar o Colégio Estadual Senador Walter Franco em Centro Experimental de Ensino Médio de Tempo Integral, havia sido aceita pelo Conselho Escolar.
“Um processo totalmente feito para ludibriar, sem nenhum traço democrático. Uma mãe que participou desta reunião feita pelo diretor, afirmou que sequer houve votação para aprovar a implantação do Centro Experimental de Ensino Médio de Tempo Integral. Essa reunião, essa ata entregue pelo diretor a DRE1, não têm nenhuma legitimidade. A comunidade escolar não foi escutada, ou seja, o destino de nosso Colégio foi decido em uma reunião escondida, a portas fechadas. Por isso, queremos saber do diretor da DRE1 o que aconteceu para haver uma mudança total daquilo que previamente havia sido decidido e acertado com a comunidade escolar? Nós já havíamos dito não ao ensino médio em tempo integral no Walter Franco. Até agora nenhuma satisfação nos foi dada”, conta a professora da unidade de ensino, Elaine Leone dos Santos.
Falta de estrutura e perda de matrículas
No ano passado a SEED já havia feito uma tentativa de implantação do Centro Experimental de Ensino Médio de Tempo Integral, no Colégio Estadual Senador Walter Franco. A comunidade escolar se colocou contrária por entender que o modelo imposto pela SEED exclui, reduz o número de estudantes, não se preocupa com professores e funcionários e ainda não apresenta qualquer proposta que assegure condições físicas e estruturais para manter estudantes durante todo o dia no colégio.
Embora o Colégio Estadual Senador Walter Franco tenha um amplo espaço, o prédio da forma como está hoje, assim como a maioria das unidades de ensino da rede estadual, não tem condição de receber jovens por um dia inteiro em suas dependências.
“O nosso colégio não tem estrutura para ficarmos aqui o dia todo. Não temos banheiros suficientes; não temos espaço para descanso; não temos segurança na escola, o muro do fundo é baixo e o portão da frente está sempre aberto. Sem falar que um dia temos o que comer e o outro não. E muitas vezes a gente lancha broa com suco de caixa. Eles vão nos manter o dia todo aqui sem comida ou comendo só broa?”, indagou a estudante no 9º ano, do ensino fundamental, Maria Eduarda Máximo.
A estudante também do 9º ano, Roquessane Santos Oliveira, aponta uma outra questão muito presente na realidade de boa parte dos estudantes das escolas públicas estaduais de Sergipe. “Muitos colegas não poderão continuar a estudar aqui se realmente o nosso colégio virar de tempo integral, no ano que vem, porque eles trabalham à tarde, outros ajudam os pais, cuidam dos irmãos mais novos. Cada um tem a sua vida fora da escola, suas obrigações e responsabilidades, não dá para simplesmente ignorar isso”, pontua a jovem.
Outro grave problema que o modelo de ensino médio integral imposto pela SEED traz às escolas da rede estadual é o fim do ensino fundamental e sua consequente perca de matrículas. Atualmente, de acordo com dados da SEED, o Colégio Estadual Senador Walter Franco atende 829 estudantes, destes 190 são do ensino fundamental. Com a implantação do ensino médio em tempo integral crianças e jovens que estudam do 6º ao 9º anos no Colégio Estadual Walter Franco terão que buscar outras escolas.
A perda de matrícula será tanto no ensino médio quando no ensino fundamental. Vale ressaltar que as receitas da educação públicas estão diretamente ligadas ao número de estudantes matriculados nas escolas. Ou seja, quanto mais matrículas mais verbas o estado recebe.
Truculência e falta de diálogo
O modo de operar, truculento e antidemocrático, pregados pelo Secretário de Estado da Educação, Jorge Carvalho, com total aval do Governador Jackson Barreto, transformam-se em manobras ilegítimas, que vêm sistematicamente desrespeitando os anseios de comunidades escolares em todo o estado e implantando a qualquer custo um ensino de tempo integral excludente.
“Nós professores e professoras não somos contra o modelo de “Escola em Tempo Integral”, aliás, nós defendemos mesmo antes do governo, porém o que não aceitamos é a enganação e a falta de diálogo com os maiores interessados no assunto: professores, funcionários, pais e estudantes. O SINTESE está estudando formas para abrir o diálogo com o governo na tentativa de encontrar uma saída negociada para o problema, e repudia a truculência do secretário Jorge Carvalho e do governador Jackson Barreto”, coloca Rubens Marque, conhecido como professor Dudu, presidente da CUT e professor no Colégio Estadual Walter Franco.