Por Evanilson Tavares de França, professor e pedagogo da Rede Estadual de Educação/Sergipe
As razões para as múltiplas violências em escolas são várias. Antes, porém, penso que se faz necessário refletirmos sobre um ponto, embora vários mereçam atenção.
Ao nos referirmos às violências em escolas (como dito, elas são múltiplas), pontuamos, no mais das vezes, aquelas que abraçam o extremo. Mas há violências outras (também perversas) que se acomodam no chão das unidades escolares diuturnamente e se manifestam por meio das numerosas estratégias de silenciamento da professora e do professor, assim como do corpo discente. Em relação às/aos primeiras/os, obsta-se, por exemplo, a participação delas e deles nos processos de tomada de decisão no estabelecimento de ensino; recorre-se a tentativas de isolamento da educadora e do educador, quando esta e este demonstram interesse pelos quefazeres da escola, ou quando elas e eles têm um conhecimento pedagógico sólido.
Quanto às/aos estudantes, busca-se negar-lhes o direito de organização (onde estão os grêmios estudantis?); esconde-se desse segmento a importância de sua participação nos conselhos escolares (o que é feito, por exemplo, não explicando a imprescindibilidade desse colegiado para o andamento dos trabalhos pedagógicos, reduzindo, conscientemente, alunas e alunos a meros concordantes – ou sectários).
Evidentemente, não estamos minimizando a estupidez nazifascista que culminou com o assassinato de uma professora de 71 anos (em São Paulo) e com os homicídios de crianças em Santa Catarina. Incontestavelmente, essas monstruosidades nos afetam e revelam que somos uma sociedade doente (o Brasil está doente!). E esses sintomas não emergiram no século XXI. Eles datam do século XVI, quando portugueses invadiram os territórios indígenas e exterminaram milhões de seres humanos; e se alargaram com a escravização do povo africano e de seus descendentes (somente para o Brasil, vieram quase quatro milhões de negras e negros, arrancados de África, com os mais diversos requintes de crueldade).
Contudo, começamos a enxergar, ainda que ao longe e de forma enublada, uma possibilidade de erguimento de relações étnico-raciais saudáveis. Então, tivemos 2016. E veio 2018, e com ele um recrudescimento das técnicas de silenciamento, de exclusão, de produção de ausências, de alocação de seres humanos reais em zonas do não ser.
Tratando seres humanos reais como coisas, como objetos – desumanizando-os –, abre-se as portas para o engrossamento das violências. Sabemos que a escola sozinha não transforma a sociedade, Freire tinha razão, mas precisamos dela para que as mudanças aconteçam.
Para tanto, necessitamos de democracia nas escolas, de valorização do magistério, de instituições de ensino com uma infraestrutura digna, de uma escola que dialogue com a comunidade, de um currículo que acolha as diferenças e englobe os saberes das/os estudantes, de gestoras/es que conheçam as ciências da Educação (é preciso formá-las/os, urgentemente!), das Artes e dos Esportes. Precisamos de participação. Precisamos de respeito e acolhimento íntegro de todas e de todos que fazem a escola. Precisamos de Esperança e de Paz.