1° de Maio de 2010 – Oxigênio puro para a militância diária

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Sabe aqueles dias que você acorda sabendo que algo acontecerá de forma diferente? Nada catastrófico ou arrebatador, mas de um simbolismo capaz de abrir sua retina para momentos, que talvez, nunca se repetirão, com tal incidência e capacidade de sensibilização.

Sempre dizem que a intuição faz parte de um calhamaço de percepções da realidade que ficam guardadas no seu inconsciente, pois bem, acreditando nessa afirmação, tentei encarar tudo que estava sentido de uma forma bem pragmática: estava daquele jeito por ser o dia 1° de maio, e para quem, desde a época da faculdade, se forjara na militância a favor da classe trabalhadora, não poderia ser espantoso o sentimento de plenitude que fui invadida nesse último sábado.

No entanto, mesmo tentando entender de forma racional a maneira como o entusiasmo estava tomando conta da minha alma, fui vencida por elementos que a razão até poderia processar, mas não era capaz de mensurar, diluir, de fazer concreto.

Essa elaboração foi resultado de uma experiência que tenho o dever, o direito e a necessidade de compartilhar: a Marcha dos Trabalhadores, organizada pela Central Única dos Trabalhadores de Sergipe, no último sábado, dia 1° de Maio.

No relógio, o ponteiro das horas apontava o número 10, o sol estava inclemente, e a rua vermelha, tomada de trabalhadores e trabalhadoras, do campo e da cidade, que marcaram o passo entre o centro da cidade até o Bairro Industrial, se abria para ver a “banda”passar.

De repente, já perto das 12h30min da manhã, ouço uma fala que foi o começo da materialização do que significava aquele dia:

– Essa data não é comemorativa, essa data precisa ser lembrada por aqueles que perderam a vida nos pátios das fábricas, pelos trabalhadores que perderam o direito de passar os domingos com a família, pelos homens e mulheres, que são explorados com uma jornada de trabalho massacrante, essa é a maneira de lembrar do dia Internacional dos Trabalhadores, na luta, na rua – dizia Rubens Marques, presidente da Central Única dos Trabalhadores de Sergipe.

E com os olhos marejados, depois de ouvir a fala do companheiro, presenciei uma das cenas mais lindas da minha vida; em cima do Rio Sergipe, no meio da ponte que liga Aracaju á Barra dos Coqueiros, uma corrente de pessoas, com as mãos entrelaçadas, começaram um jogral:

– CHE, ZUMBI, Antônio Conselheiro, na luta por justiça somos todos companheiros!

Depois de uma série de repetições, todos ali, percebendo o instante mágico que haviam vivido, começaram a pular, dançar, cantar, como se aquele momento ratificasse todo o empenho, a luta e a caminhada pela construção de uma outra sociedade, uma sociedade de iguais.

Agradeço á vida por ter me dado a permissão de viver uma ocasião como essa, oxigênio puro para os anos de militância que ainda hei de conquistar.