Audiência pública para discutir Cultura e Educação como instrumento contra a violência

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“A identidade de um povo se constitui pela cultura. É necessário que se amplie as políticas públicas neste campo, para incentivar e fortalecer a cultura popular, para valorizar os trabalhadores dessa área e para aproximar cultura e educação a fim de tornar a escola espaço de socialização de bens culturais”. Assim defende a deputada estadual Ana Lúcia, ao convidar professores e agentes culturais para participar da audiência pública Políticas Públicas do Ministério da Cultura e o Plano Estadual de Cultura. O evento, realizado pela Assembleia Legislativa de Sergipe, através da Comissão de Educação, Cultura e Desporto, presidida por Ana Lúcia, ocorrerá na próxima sexta-feira, 24, no Plenário da Casa, a partir das 9h.
 
 
A audiência, que será transmitida ao vivo pela TV Alese, terá como debatedores o secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura (MinC), Guilherme Varella e o diretor de Estudos e Monitoramento do MinC, Pedro Vasconcellos, que irão esclarecer e discutir com o público presente as políticas públicas desenvolvidas pelo Ministério da Cultura. Também debate o secretário de Estado da Cultura de Sergipe, Elber Batalha que abordará o processo de implantação do Plano Estadual de Cultura no Estado.
 
 
No período da tarde, as atenções estarão voltadas para o Centro de Cultura e Arte da Universidade Federal de Sergipe (Cultart), onde a partir das 14h30, será realizada uma oficina de orientações para concorrer aos editais do Ministério da Cultura, ministrada por um representante do MinC. As inscrições das oficinas são gratuitas e as vagas limitadas.
 
 
Cultura: Uma “arma” contra a violência
 
 
São muitos os casos de violência contra alunos, professores e funcionários que ocorrem todos os dias nas escolas. Na última quarta-feira, 22, a Escola Estadual Felizbelo Freire, localizada no município de Itaporanga, foi invadida por pessoas que além de roubar equipamentos do colégio, deixaram recados e ameaças de morte a professores da escola. 
 
 
A deputada Ana Lúcia denunciou esse caso e toda a gravidade da situação de violência e abandono das escolas, afirmando que este não é um caso isolado. “Ameaça de morte a professor não é um episódio isolado. Vivemos um caso gravíssimo no ano passado, com o professor Carlos Cristian, e este ano já são vários professores ameaçados. Este de Itaporanga não é o primeiro” destacou, lembrando que mesmo após o professor Carlos Cristian ter sido baleado por um aluno na escola Olga Barreto, a mesma permanece sem nenhuma alteração em relação à segurança.
 
 
Diante da situação de abandono e violência que assola nossas escolas, se faz urgente discutir e implementar politicas que auxiliem na prevenção da violência no ambiente escolar. Neste sentido, a cultura pode ser uma importante ferramenta. Em Sergipe, existem diversas experiências exitosas na prevenção e combate à violência por meio das manifestações artísticas.
 
 
Apenas um dos exemplos de boas práticas pode ser conferido em pleno Conjunto Jardim, em Nossa Senhora do Socorro. O caso da Escola Estadual Julia Teles é emblemático: a unidade escolar que foi alvo de invasão, roubo, depredação e ate mesmo de incêndio criminoso, em 2013, atualmente conta com projetos culturais que tem auxiliado no sentimento de pertencimento da comunidade escolar.
 
 
O Ponto de Cultura Juventude e Cidadania, coordenado pelo professor de História e produtor cultural, Zezito de Oliveira desenvolve oficinas de teatro, dança, informática e audiovisual para estudantes de escolas públicas da região metropolitana de Aracaju, inclusive para os estudantes da escola Júlia Teles. O educador acredita que a atividade cultural desenvolvida por si só não reduz a violência, mas pode dar uma grande contribuição no combate à violência. Segundo Zezito, para obter um resultado mais satisfatório, as políticas culturais precisam estar articuladas com mais investimento em outras políticas públicas como educação, assistência social, comunicação comunitária, esporte, lazer e qualificação profissional para os adolescentes e jovens. “No caso da Escola Júlia Teles e do Conjunto Jardim, os adolescentes envolvidos nas atividades culturais demonstram uma grande melhoria da autoestima e do sentido de pertencimento à escola e à comunidade. Isso é fundamental, porque quem gosta de si mesmo, que se sente acolhido e valorizado, quem é protagonista em ações positivas e do bem, não irá se deixar levar por pessoas e situações negativas para ser acolhido e valorizado”, declara o educador.
 
 
Zezito, porém, ressalta a importância da transversalidade dos temas culturais no ambiente escolar.  Para ele, além de mais políticas públicas para as crianças e jovens, também é necessário que haja uma maior interação entre as atividades culturais desenvolvidas e os temas abordados em sala de aula.
 
 
“Claro que ainda há o que melhorar. Tenho refletido muito com alguns colegas professores e arte-educadores, para além da criação ou fortalecimento de vínculos pessoais e de bem-querer, para a necessidade de fortalecimento dos vínculos ligando as atividades artísticas com os conteúdos programáticos. Por exemplo, como ligar o planejamento dos exercícios e técnicas da dança, com os conteúdos abordados nas aulas de português e matemática? Um desafio que requer mais investimento em formação para o diálogo do mundo das artes com a sala de aula, mas acreditamos no avanço”, destaca o coordenador.