Carregando Sonhos: filme emociona professores na Unicamp

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Que valor tem o professor
Que se atreve neste importante fazer?
Carregar tantos sonhos possíveis
E que na educação é preciso ter
Ao trabalhar e sonhar sempre
E com os sonhos poder aprender
Pois quando na escola não se sonha
Fica impossível algo mais querer
Pois é de sonho que vive a educação
Este complexo e importantíssimo saber.
(Trecho do Cordel Carregando Sonhos de Wilson Queiroz).

 

Um toque de timidez comum àqueles que não estão acostumados a lidar com um grande público. A ansiedade

carrefadoras sp 2

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carrefadoras sp 3

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carrefadoras sp 1

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era visível nas quatro mulheres que protagonizaram no cinema suas próprias histórias de luta e resistência para exercer o trabalho de educar. Maraísa, Marta, Rose e Edielma, sonhos em comum perseguidos por caminhos tortuosos e distintos. Do outro lado, a plateia, a expectativa, os diálogos.

Assim teve início o V Seminário Fala Outra Escola promovido pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Continuada – Gepec, na Unicamp/Campinas, intitulado Carregando Sonhos. “Fizemos uma cópia pedagógica”, brinca Ana Aragão coordenação do evento referindo-se a alusão ao documentário produzido pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação – Sintese.
Como bem lembra Ângela Melo, presidenta do Sintese, a intenção da produção é, sobretudo a de provocar debates, discussões, estudos, trocas e lutas que proporcionem futuros avanços na educação pública brasileira, embora traga como cenário o interior sergipano e ainda que as nuances se façam mais grosseiras no nordeste, castigado até os dias de hoje por seus coronéis. Talvez por isso ouviram-se risos, ao que parece de espanto, enquanto a professora Edielma rodava a manivela do mimeógrafo.
As cenas que seguiam tornaram as realidades e as diversidades mais próximas. Não é novidade dizer que temos problemas na educação ou saber que muitas crianças vão à escola para comer o alimento que não chega as suas casas. Mas ainda dói (e é bom que continue a doer) saber que a primeira pergunta feita em sala de aula muitas vezes é: “Pró, qual é a merenda de hoje?”.
Tantas adversidade, tamanha miséria em forma de infância traz à tona a cruel sensação de impotência para aquelas gostariam de serem apenas professoras. Afinal esse é o cargo que ocupam. Muito embora tenham de se travestir de enfermeira, assistente social, mãe. Situações que contribuem para o desenvolvimento de doenças ocupacionais ou no mínimo favorecem a perda estímulo para seguir adiante.

Mas afinal, o que faz andar a estrada?

O questionamento levantado pelos professores tem uma resposta bastante conhecida para os que buscam transformação. Sonhos! São eles uma das poucas molas propulsoras que restam aos tantos educadores espalhados pelo Brasil a fora. 800 quilômetros por semana em cima de duas rodas, horas na estrada entre gente e galinhas n’um perigoso pau de arara são alguns dos obstáculos derrotados diariamente pelas carregadoras de sonhos.

Se o que nos move é o que nos falta, como nos lembra a educadora Rosaura Soligo, não podemos tratar as coisas como impossíveis de mudar, parafraseando Brecht. Portanto, todo esse emaranhado de dificuldades, precarização, negligência do poder público, deve servir para a luta por mudanças sociais.

Esse é o caminho para o qual aponta as atividades de formação que o sindicato realiza constantemente, essa é a razão que motivou a utilização de novos elementos e linguagens como o cinema. Quando a professora Marta nos diz “eu amo o que eu faço, mas não é justo trabalhar desse jeito”. Ela nos aponta também algumas saídas. O caminho não é fácil, mas é preciso trilhá-lo.