1. INTERVALO DA AGONIA
Intervalo
Inter valos
Intervales
Montanhas
De nuvens
Das novas
Do planalto
Do plano alto das elites
Das hélices
Das Alices
Do conto de fadas
De uma classe quase média…
Quase alta…
E agora quase baixa…
Quase toda, quase boba
E agora?
Quem vai repartir,
O bolo neoliberal
Da agonia?
2. A DESPEDIDA DO TER /
O ACENO DO SER
Uma despedida acenou-me
Inteira
Morena
Na avenida da solidão
Entre as brancas espumas
De um copo de cerveja
Um beijo
Contido
Sofrido adeus
Entre a ingenuidade de ser
E a perversidade do ter
Uma menina
Uma alegria
Uma agonia…
… E esse peso quase morto
Esse tido quase lido
Esse fato quase ato…
Uma despedida
Um beijo
Um fato…
Consumado…
3. DE REPENTE
De repente a minha vaidade
Bordada com versos brancos
Se abalou e se deixou ferir…
De repente o meu orgulho
Tirou os sapatos da ilusão
E caminhou pela desolação
Do tempo sem tempo de ser
De repente o relógio
Do meu egocentrismo
Parou no êxtase da minha decepção…
De repente a minha máscara
Foi manchada por uma
Tinta preta…
Uma tinta sem tinta;
Uma tinta sem dor…,
…de repente os meus ouvidos
Enxergam uma verdade real que os meus olhos foscos
Estupidamente se negavam a ver… e sentir…
… de repente um “amigo”…
… depois… uma flor
A você, caro amigo Nobre. (Dedicatória original do poema)
4. CANÇÃO DE UM HOMEM SÓ
Triste
Sozinho
Filosofando
Luas,
Sóis,
Chuvas,
Ventos,
Estrelas…
Sozinho
Triste
Sem cor
Cantando a dor
De rir
De amar
De existir
De ser homem
Vazio
No tempo
Na verdade inexistente
Anda
Pelos quatro cantos
Do existencialismo
Entre duas paredes
Infinitas de concreto armado…
Chora
A dignidade violada
Os deveres sem direitos,
E sangue sem vida…
Olha
Um homem arrastado
(um trapo!)
Baixa a cabeça
Um homem garroteado
Lê nas vitrines
“Os Direitos Universais do Homem”
Poetas de todo o mundo
Não parem suas penas,
Não mudem suas letras,
Não deixem de cantar!
5.SEI, NÃO SEI
Sei não
Pois o céu escurece
Quando meus olhos
Negros encontram-se
Com os raios do sol
E a claridade do ocioso…
Sei não sei,
Quando minhas mãos calejadas
Tocam no arrebol dolente
Do inconsciente das mentes pendentes,
Como se o medo inertizasse
Os cérebros dos corpos escravizados
E manipulados por computadores
Sei não sei
Se soubesse não faria, veria
E se visse não sabia…
Se meu corpo não fosse…
E minha mente fosse simplesmente…,
Eu lhes diria:
SEI / DIGO / VI!….
6. NA HORA, NO DIA…
Na hora,
No dia da minha morte
Que os cantos sublimes
Se homibilizem,
Que os pássaros depenem-se,
Que os buracos abram-se
Que o mundo autodestrua-se;
Que as verdades
Desintegrem os mortos
E os portos;
Que meu cadáver sorria da vida,
Do amor, do ódio!
No dia,
Na hora
Da minha morte
Que eu chore,
Que eu diga,
Que eu…
Aperte a garganta do meu cadáver…!
7. LEIS TROPICALISTAS
O sangue jorra:
Na vida três saltimbancos
Agitam-se a procura
Do tudo,
Fugindo do nada!
A faca brilha:
Um brilho senhorio,
Pueril!
E a carne dilata-se
A espera do oxigênio
Nitrogenado, calcinado,
Carbonatado,
Em latas de conserva,
Para a conservação
Do sagrado engravatado,
Engavetado…
Duas lágrimas
Correm a boca
Suja de um batom
Vermelho-escuro
E ávida por alimentos…
Por alimentos…
E o corpo esmoreceu,
Caiu!!
Morreu na folia
Do frevo da morte!
E tenho dito!
Ah ah ah ah ah ah ah ah………..
8. COISAS DO MEU SERTÃO
Uma casa…
Uma imagem de Padre Cícero…
Um mundo.
Uma estrada,
Um abismo…
Uma fonte…
Uma flor, uma vida;
Um cavalo, um vaqueiro;
Um pasto, um Uirapurú…
Carcará, Asa branca… Aves do meu sertão…
ALEGRIA //////… VIDA //////…. CHUVA ///…
Um dia o verde deixou de ser verde;
A casa foi abandonada;
O mundo acabou…
A estrada empoeirada
Levava consigo a dor e a saudade…
O abismo virou sepultura,
E a fonte secou.
A flor que era linda murchou,
A vida que era vida se acabou.
O cavalo morreu de sede,
O vaqueiro chorou,
O pasto ardeu,
O Uirapurú, a asa branca, o carcará… se foram…
A alegria a vida a chuva… tambem se foram…
Hoje, olho a casa com a imagem…
O mundo…
A estrada molhada… o abismo… a flor… o cavalo…
O vaqueiro sorrindo… a gente voltando… o verde do pasto…
A alegria voltou, a vida se fez vida, a chuva chegou…
O violeiro cantando cantigas de improviso…
O vaqueiro sorrindo, montado no seu alazão…
Ê boi, ê boi, anda boiadê, ê boi, ê boiiêê á…
Coisas do meu sertão…
9. ENCONTRO
Andava só pela vida
A procura de não sei o que,
A espera de um amanhã belo e sutil.
Andei sobre fogo e sobre pedra;
Olhei por sobre o pedestal de olhos
Escuros
E assentí na mesa amarga do destino
Indestrutível…
Eu andava só pela vida,
E encontrei você!…
O céu pra mim sorriu,
As nuvens o meu rosto acariciaram
E as estrelas só para mim brilharam;
Seu rosto tímido
Dono de uma beleza incandescente
Encostou-se em meu peito
Triste e melancólico;
E seus lábios entreabriram-se
Numa flor aromática e dócil,
E seus cabelos ondulavam
Sutil e livremente
A mercê da fina brisa
Que nos acariciava;
E minha angustia se fez vida,
E se fez paz, e se fez amor…
Em você!… Flor do meu jardim,
Vida do meu mundo!…
10. AS IMAGENS. AS LUZES, A POEIRA
As imagens passam
Diante dos meus olhos
As luzes brilham fortes!
Tão fortes que ofuscam-me
Os desejos!…
A poeira passa
E passa, e passa!…
E repassa, e dói
E grita um grito entorpecido
Pelo amor agastado, reprimido…
E as imagens passam
Diante dos meus olhos
Como se toda a minha vida
Estivesse sendo exibida
Num cinema-mudo
De portas e janelas fechadas.
De alguém que sequer
Olhou ao seu lado!…
As luzes externas brilhantes,
Falsos conceitos,
Complexo de superioridade,
Tradições e antigos tabus!…
A poeira…!
Algo que restou,
Algo que se encontra em nós…
Algo que penetra em nossas narinas,
Em nossas bocas, em nossos olhos,
Em nossos poros,
Nos sufocando,
Nos amaldiçoando
Pela ruptura do elo estreito
A que nos propomos!…
As imagens se atropelam no meu âmago,
E eu já não sei
Se você é um marco, é um anjo,
Ou é algo que passou por mim
Na rua principal!…
11. É VOCÊ
Dois olhos crus
Me olham infantilmente
E temente pela própria cor!
Uma flor refletida
No espelho fosco e objetado
Pelos espinhos,
pelos cortes,
Pelos males esquálidos
Que rondam na volta
Empertigada do nada…!
Do confuso, partem
Setas envenenadas e entrincheiradas
Nos pântanos róseos…;
Do certo, brilham luzes,
Escuras e onipotentes!…
O errado…
Não sei…!
Só sei que desamo
O amo sórdido
Do amor vulgar…
Só sei que amo
E me escondo em você!
Eu me escondo em você!
Ando em você!
Vivo em você!
Amo…
Eu amo você!
12. NO FUNDO DOS MEUS OLHOS HÁ UMA VERDADE QUERENDO SE LIBERTAR
Eu grito!
Eu quero fazer ecoar
Meu brado, sem veto
Pelas avenidas, pelas ruas,
Pelas casas, pelos muros!
Mas…
Todos estão adormecidos
Ou se fazem de desavisados
E deixam meu grito se perder!
Eu grito, eu chamo, eu aviso!
Acordem!
Que ainda é tempo de lutar
E a verdade não mente
Como as estatísticas!
Mas…
Já não posso gritar de plenos pulmões!
Taparam-me a boca e a mente
E luzes inescrupulosas
Estupram meu passado…
Mas não faz mal…
Se morro agora aqui
E se vocês querem assim
Meus gritos não serão em vão
Mais tarde outros gritaram por mim.
13. AINDA HÁ UMA ESPERANÇA
Existe uma luz
Em cada esquina
Existe um sol
Em cada vazio,
Existe um amor em cada ódio!
Existem dias
Noites eternas, Existem olhos
Nos homens cegos!
Existem Homens
Nos zoológicos
De concreto armado
E seres vivos
Nas tumbas
De tijolos e telhas
Ainda!!…
Mesmo que perpassem
Pontiagudas
As carícias da “mãe”
Mesmo que o sol
Não brilhe
Seu brilho aquiescente…
Mesmo que as flores
Tenham de nascer para baixo…
AINDA HÁ UMA ESPERANÇA!