A população de Aracaju poderá ouvir a trajetória política de um grande guerrilheiro comunista, morto pelos órgãos repressores na ditadura militar, contada por quem vivenciou in loco toda a ação revolucionária que perseguia Carlos Mariguela
Dando continuidade as ações em prol da Comissão da Verdade e abertura dos arquivos da ditadura, a Central Única dos Trabalhadores em Sergipe receberá, no dia 28 de março, o filho da grande guerrilheiro comunista Mariguela, cujo nome vem de seu pai, o advogado Carlos Augusto Mariguela, para um debate que trará elementos da história de seu pai, dos bastidores da ditadura militar e da maneira como tudo isso influenciou sua opções enquanto militante no processo de redemocratização do país.
Para Rubens Marques, a Central Única dos Trabalhadores tem um importante papel na discussão sobre os fatos que marcaram um período nefasto da história brasileira, principalmente na defesa da verdade que tornearam as constantes violências e torturas sofridas por aqueles que lutavam pela liberdade.
“ Entendemos que a CUT-SE precisa transcender a discussão salarial, as questões voltadas para o mundo do trabalho. É importante para nós discutirmos a história do Brasil e as marcas deixadas por um processo tão violento quanto vivenciado na ditadura brasileira. Já fizemos três mesas de debates sobre a Ditadura Militar no Brasil e em Sergipe, trouxemos grandes resistentes e reféns da tortura naquele período histórico, como Milton Coelho, Welington Mangueira, Marcélio Bonfim e Goisinho, agora estamos tendo a honra de receber o filho de Mariguela, um grande revolucionário, morto na ditadura, que germinou no seu próprio filho toda sua sede de mudança” afirma Dudu.
CUT-SE e a luta pela abertura dos arquivos da ditadura
O resgate sobre os fatos ocorridos no regime militar sempre fizeram parte das ações da CUT-SE. Em três mesas organizadas entre o final de 2010 e o meio de 2011, a CUT-SE trouxe a tona histórias de resistência, pautadas na dor das ações torturadoras da ditadura.
Histórias como de Milton Coelho, jornalista que ficou cego em uma das sessões de agressão física, dentro do que fora chamado de Operação Cajueiro, responsável pelas prisões de diversos militantes em Sergipe, incluindo Marcélio Bonfim, Goisinho, Welington Mangueira, entre outros tantos perseguidos pelo regime.
Em nível nacional, a CUT baixou uma resolução pela instauração da Comissão da Verdade e punição dos torturadores, apontando a posição clara da entidade pelo reconhecimento da barbárie vivida neste processo ditatorial, pela punição aos torturadores e pelo direito a verdade por parte das famílias e da sociedade brasileira.
Um pouco de tanta história
Marighela foi um grande quadro da esquerda brasileira, era uma grande figura humana, duro sem perder a ternura, presença marcante na história do bravo Partido Comunista do Brasil, um exemplo de militante comunista.
Ele era um estudioso do marxismo e da obra de Lênin, ligado à cultura e as artes, principalmente a dramaturgia, um líder nato era, também, poeta.
Ele ingressou nas fileiras do PCdoB nos anos 30 do século passado, participou ativamente da vida política do país, era consciente de suas responsabilidades como militante comunista, não media sacrifícios para cumprir as tarefas do partido, era um militante disciplinado, tinha uma visão crítica do partido, mesmo seguindo o centralismo democrático, regra fundamental de uma organização revolucionaria.
Quando discordou da linha política do partido, rompeu e procurou forma a sua organização revolucionaria, partindo para a ação armada, montando a Aliança Libertadora Nacional, um forte braço da guerrilha urbana entre as décadas de 60 e 70.
Duramente perseguido pelo DOI-CODI, morreu, assassinado pela repressão, sob as ordens do facínora Fleury, na cidade de São Paulo, em 04 de novembro de 1969.