Na quinta-feira, dia 4, o jovem negro Mark Duggan é morto pela polícia em Tottenham, um dos bairros mais carentes de Londres. No sábado, jovens iniciam uma onda espontânea de protestos que é violentamente reprimida pelas forças policiais. No domingo, a rebelião se espalha, atingindo o norte e o sul da capital inglesa. Ontem (8), novos confrontos resultam na prisão de 226 pessoas.
A explosão da revolta em Londres, que já contagia outras cidades, desperta o ódio da direita. O primeiro-ministro conservador, David Cameron, suspendeu suas férias e trata a questão social como caso de polícia. “O que está havendo é banditismo”, dispara a ministra Theresa May. A velha mídia, inclusive a colonizada do Brasil, trata os manifestantes como vândalos e criminosos.
Europa em chamas
Na sua cegueira reacionária, a elite finge não ver as causas da rebelião. Não faz sequer conexão entre a explosão em Londres com a “revolução dos indignados” na Espanha e as greves gerais na Grécia ou em Portugal. No caso inglês, a revolta é espontânea; nos outros países, ela é mais organizada. Mas todas têm origem nos graves problemas sociais que afligem o velho continente europeu.
Não é para menos que os saques e os confrontos com a polícia ocorrem nos bairros mais pobres de Londres, que concentram os imigrantes africanos, asiáticos e latinos explorados e humilhados pelo capitalismo inglês. A marginalização e a falta de perspectivas da juventude, inclusive, incentivam a formação de gangues e geram ainda maior violência.
Apertos neoliberais criminosos
Com o agravamento da crise econômica na Europa, os jovens e os imigrantes são os mais atingidos. O desemprego bate recordes. Para salvar os capitalistas, verdadeiros culpados pelo caos, os governos ainda cortam gastos nos programas sociais. O caso inglês é emblemático, é chocante. O conservador David Cameron adotou um plano de “austeridade fiscal” criminoso, irresponsável.
Segundo o jornal britânico The Guardian, as vítimas da crise capitalista estão totalmente desamparadas, o que levou a explosão da panela de pressão. Em algumas cidades, os programas sociais destinados aos jovens sofreram cortes de até 70%. Na subprefeitura de Haringey, onde fica o bairro de Tottenham, os cortes foram 75% e oito dos treze centros de assistência social foram fechados.
“Vai ter rebelião”
Como observa Wilson Sobrinho, correspondente do sítio Carta Maior, “a rebelião, os quebra-quebra e os saques nos arredores de Londres certamente não têm nada de organizado, mas são alguns dos primeiros sintomas a emergir da austeridade, da crise e do desemprego que assola a Grã-Bretanha”. Segundo afirma, a explosão da revolta já era previsível:
“Uma semana antes dos eventos que entram para a história de Londres como as piores rebeliões em quase três décadas, um jovem negro da comunidade de Tottenham alertava, em um vídeo produzido pelo The Guardian, para a grande panela de pressão que tinham se tornado, principalmente, as ruas dos subúrbios londrinos”. Ele terminou o vídeo com um alerta: “Vai ter rebelião”.
A velha Europa afunda na crise capitalista e vive dias de chamas e incertezas.