Um estanho no ninho estranho

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franklin

De pé, oh vítimas da fome!… De pé, de pé, não mais senhores!

Com esse clamor por libertação, comunistas de todo o franklinmundo convidavam e convidam o proletariado à rebeldia da construção de um sistema econômico que se baseia na propriedade coletiva e não privada dos meios de produção.

O comunismo, também nominado socialismo científico, vivenciado por algumas culturas primitivas, ressurgiu teorizado por grandes estudiosos como Marx, Engels e mais tarde por Rosa Luxemburgo e Lenin – apenas para citar alguns dos seus formuladores – e se caracteriza por sua contraposição ao sistema capitalista de forma mais contundente do que o socialismo utópico de Saint Simon e Charles Fourier, dentre outros.

Para os primeiros, a mudança de uma sociedade fundada nas desigualdades para uma outra em que se vivencie a igualdade plena somente ocorrerá a partir de uma ruptura revolucionária comandada pelos trabalhadores, enquanto os últimos consideravam que tal sociedade poderia ser alcançada pelo convencimento da própria burguesia, daqueles que são os proprietários dos meios de produção, o capital.

Os socialistas utópicos sucumbiram com o correr dos anos e a constatação de que o controle dos meios de produção é poder e “poder não se dá nem se recebe, poder se conquista e se perde”, como costumava repetir o professor Carlos Britto, nos bancos da UFS. Os socialistas científicos remanescem e se dividem diante de dilemas estratégicos e teóricos acerca da forma de alcançar essa sociedade igualitária; do grau de igualdade possível, dentre outras razões.

Esse, um relato aligeirado e, propositadamente, desprovido de profundidade, destina-se apenas a servir de introito ao assunto que, de fato, motiva o artigo.

Já disse em texto anterior que parte da esquerda sergipana é dada às novidades (in Impostos para ricos…). Mas ela não se cansa em surpreender.

A partir da segunda metade do século XX, os comunistas brasileiros passaram a se aliar a setores da elite local, como estratégia de ocupação de poder e de sobrevivência dos seus partidos, sempre vitimados por perseguições.

Recentemente, entretanto, o capitalista convicto que comandou, inclusive, o “Super Forte Rin-Tin-Tin” do capital pátrio, a CNI, Albano do Prado Pimentel Franco, anunciou, nas ondas do rádio, que fora convidado a ingressar nas fileiras do PC do B. Tal assertiva não provocou desmentidos, o que lhe fornece credibilidade inafastável.

Estar-se-ia diante do reaparecimento do socialismo utópico?

Nesse caso, Albano Franco fora convencido (possivelmente por milagre atribuído a São Thomas More) de que é preciso construir uma sociedade de iguais, à custa da distribuição da própria riqueza e os próceres do partido leninista conseguiram captar esse sentimento. Não há sinais de que o empresário tenha abandonado as ideias liberais, contudo.

Parece, mesmo, que o PC do B em Sergipe resolveu radicalizar a aproximação ensaiada por Aldo Rebelo quando da votação do Código Florestal na Câmara de Deputados e, agora concebe que não basta ao proletariado a conquista dos meios de produção, mas é necessário manter junto a si o detentor desses meios, ainda que sem o expropriar.

A nova ideia de conquista dessa espécie de sociedade socialista caricata gestada pela engenharia partidária capitaneada por Edvaldo Nogueira – o qual, pelo visto, divide o seu tempo entre a tarefa de gerir Aracaju e pensar um neo-comunismo das terras de Aperipê – aparentemente restou frustrada, pois o ex-Senador e ex-Governador não topou a empreitada. Não o veremos, pois, cantar, punho cerrado lançado ao alto, o hino da Internacional Socialista.

Em única cartada, perdemos um comunista, mas ganhamos um teórico da nova esquerda.