Educação é o que mais preocupa o Brasil

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DAYANNE SOUSA
da PrimaPagina

A educação é o tema que mais afeta a vida dos brasileiros, na opinião deles mesmos. Essa é a conclusão de um levantamento prévio da campanha do PNUD Brasil Ponto a Ponto, que ouviu até agora cerca de 360 mil pessoas sobre o que elas acreditam que precisa mudar no país. Até agora, um quinto respostas foram analisadas e, nesta amostra, a educação foi o tema mais tratado, correspondendo às mensagens de 20% dos participantes.

Dentro do tema educação, a qualidade do aprendizado lidera as preocupações, representando 25% das respostas. O resultado é uma prévia da análise final e as conclusões definitivas devem ser produzidas até o fim de maio. Espera-se que ao fim da consulta, que continua até dia 15, tenham sido ouvidas 400 mil pessoas. Ainda é possível participar enviando vídeos ou textos ao site da campanha.

O volume de menções à educação é bastante significativo, já que as respostas para a consulta são abertas, ou seja, não há alternativas e as possibilidades são infinitas. Ao final, o resultado será usado para escolha do tema do próximo RDH (Relatório de Desenvolvimento Humano) do Brasil, que deve ser publicado no início de 2010.

Em 2006, uma pesquisa de opinião feita pelo governo federal teve conclusão parecida. Dentre 50 temas de políticas públicas apresentados no Projeto Brasil 3 Tempos, a população que votou pela internet e os acadêmicos consultados colocaram a educação no topo da lista.

A estudante baiana de 16 anos Thaiza Canceglieri foi um dos participantes que mostrou preocupação com o tema. À campanha do PNUD ela afirmou que terá dificuldades para entrar na faculdade, mas se preocupa mais com o ensino dos pequenos. “Ajudaria muito investir na educação, mas eu falo lá do início, naquela fase da infância”, conta Thaiza no texto enviado ao portal da campanha. Ela é um bom exemplo do perfil da maior parte das respostas. Jovens de oito a 18 anos foram a maioria (pelo menos 60%) dos participantes da Brasil Ponto a Ponto, diz Flávio Comim, coordenador do RDH no Brasil. Para ele, isso mostra que os estudantes estão sofrendo o impacto dos problemas da educação. A violência nas escolas foi o segundo tema mais criticado por aqueles que elegeram a educação a maior dificuldade. Foram 20% das respostas sobre o tema.

“O que precisa mudar no Brasil é o brasileiro”

Com cerca de 10% do total de opiniões, a violência nas ruas foi o segundo tema mais mencionado na pesquisa. A preservação do meio ambiente veio atrás, defendida por 6% das pessoas.

O quarto lugar porém, é para Comim um dos mais surpreendentes. Pelo menos 6% das respostas apuradas até agora dizem que mudar o país depende de ações individuais, dos valores de cada pessoa. “Isso surpreende porque sempre houve uma cultura de culpar o governo pelos problemas, essa resposta mostra um amadurecimento”, afirma.

“Não é o Brasil que tem que mudar e sim quem o governa e as pessoas que o habitam. Se todos pensassem mais e fizessem menos besteiras, as coisas não estariam onde estão”, diz um jovem em fórum que o site da MTV lançou para colaborar com a campanha.

A campanha Brasil Ponto a Ponto começou em novembro, com audiências públicas nas principais cidades do país. Passou receber mensagens pela internet, mas também realizou visitas nos dez municípios de pior Índice de Desenvolvimento Humano e coletou opiniões nas escolas de ensino fundamental e médio.


Para brasileiro, futuro depende de ensino
Pesquisa do governo para saber quais são os temas que o brasileiro considera prioritários mostra preocupação com educação

MARÍLIA JUSTE
da PrimaPagina

Se alguém perguntar qual ação é mais importante para o desenvolvimento a longo prazo do Brasil, o que você responderá? Um projeto, que vem sendo desenvolvido desde maio do ano passado, fez a pergunta a acadêmicos, pessoas representativas da sociedade e ao público em geral, pela internet. A maior parte dos três grupos respondeu que a prioridade para o progreso do país é melhorar a qualidade de ensino no Brasil.

Essa foi uma das conclusões preliminares de uma série de pesquisas feitas pelo Brasil 3 Tempos, projeto do governo federal que visa estabelecer objetivos para o desenvolvimento a longo prazo do país.

Inicialmente, em maio de 2005, um questionário foi enviado por correio para 50 mil pessoas consideradas representativas da sociedade brasileira. As perguntas foram elaboradas por 100 especialistas de diversas universidades do país. Esses pesquisadores elegeram 50 temas relacionados com as sete áreas do projeto Brasil 3 Tempos (institucional, econômica, sociocultural, territorial, de conhecimento, ambiental e global). Os respondentes tiveram que escolher, em ordem de importância, os dez temas que acreditavam serem mais relevantes para o futuro do país. Em agosto, esses 50 temas foram reapresentados, dessa vez, para todos os brasileiros interessados, em grandes portais de internet e nos sites das agências do governo. Logo em seguida, o mesmo questionário foi encaminhado para 20 mil estudiosos de universidades.

Agora, seis meses depois do envio da última pesquisa, o NAE (Núcleo de Assuntos Estratégicos) da Presidência da República está avaliando os resultados obtidos.

As escolhas feitas por esses três grupos foram organizadas em um ranking pelo Núcleo. Segundo o chefe de gabinete do NAE, Alberto Fonseca, já é possível tirar conclusões interessantes dos resultados. “Embora sejam respondentes vindos de realidades diferentes — os da internet, por exemplo, em geral podem ser considerados mais estudados e inteirados da realidade do país que os que participaram do primeiro questionário e os acadêmicos, por sua vez, já estudaram a fundo o desenvolvimento do Brasil —, a maioria das três pesquisas escolheram a melhoria da qualidade de ensino como a principal prioridade para o progresso do Brasil”, afirma ele.

Democracia e soberania

Há também outros pontos que estão sendo estudados. A primeira pesquisa foi feita antes de a crise política estourar, enquanto a segunda e a terceira foram feitas em agosto, quando as denúncias contra o governo continuavam a aquecer as discussões em Brasília. “Com isso, nós percebemos pontos muito interessantes. A normalidade democrática, por exemplo, que na primeira pesquisa aparecia como uma das dez principais prioridades, caiu muito nas duas posteriores”, conta Fonseca. “Da mesma maneira e, suspeitamos pelo mesmo motivo, a reforma do sistema político-partidário cresceu bastante no ranking dos temas considerados prioritários na segunda e na terceira pesquisa em relação ao da primeira”, completa.

Outra discussão que chamou a atenção dos coordenadores da pesquisa é o da soberania e da defesa nacionais. “A soberania sobre a Amazônia foi considerada de grande importância em todas as três pesquisas, mas a defesa nacional, não. Ou seja, as pessoas não relacionam uma coisa com a outra”, afirma Fonseca.

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