Na noite da próxima segunda-feira, dia 19, a partir das 19h, acontece o envento em comemoração aos ‘90 anos de Paulo Freire’, na Assembleia Legislativa, com palestras e uma exposição que remonta parte da história da vida e da obra deste grande educador – uma realização do mandato da deputada Ana Lúcia.
Os baners expostos na Galeria da Assembleia Legislativa também vão percorrer escolas da rede pública de diferentes municípios sergipanos. O objetivo do mandato é trazer para o espaço escolar a história de vida e contribuição teórica de Paulo Freire para a educação brasileira.
A vida e obra do educador brasileiro que marcou para sempre as Ciências Humanas no país e além fronteiras, também será tema de seminário, contando com a palestra da professora Liana Torres (Departamento de Educação – UFS), do Professor Romero Venâncio (Departamento de Filosofia – UFS), do Professor Neilton Diniz (Rede Estadual e Municipal de Aracaju e Direção do Sintese), e da Professora Sandra Beiju (Rede Estadual e Municipal de Aracaju). Na mesma ocasião, será criado o Comitê Estadual em Defesa da Comissão da Verdade.
HISTÓRIA DE VIDA
Poucos educadores de língua portuguesa, quiçá de outros idiomas, conseguiram uma unanimidade em torno da sua importância enquanto formulador de métodos quanto Paulo Reglus Neves Freire, ou simplesmente, Paulo Freire. Nascido em 19 de setembro de 1921, no Recife, Pernambuco, uma das regiões mais pobres do país, ambiente onde viveu na pele as dificuldades de sobrevivência das classes populares, e que acabou por servir-lhe de laboratório para o que mais tarde se transformaria num método de libertação para as classes oprimidas.
Foi alfabetizado pela mãe, que o ensinou a escrever com pequenos galhos de árvore no quintal da casa da família. Com 10 anos de idade, a família mudou para a cidade de Jaboatão.
Na adolescência começou a desenvolver um grande interesse pela língua portuguesa. Com 22 anos de idade, Paulo Freire começa a estudar Direito na Faculdade de Direito do Recife. No ano de 1947 foi contratado para dirigir o departamento de educação e cultura do Sesi, onde entra em contato com a alfabetização de adultos, e no Serviço de Extensão Cultural da Universidade do Recife.
Sua filosofia educacional expressou-se primeiramente em 1958, na sua tese de concurso para a universidade do Recife, e, mais tarde, como professor de História e Filosofia da Educação daquela Universidade, bem como em suas primeiras experiências de alfabetização, como a de Angicos (RN), em 1963.
Em 1958 participa de um congresso educacional na cidade do Rio de Janeiro. Neste congresso, apresenta um trabalho importante sobre educação e princípios de alfabetização. De acordo com suas idéias, a alfabetização de adultos deve estar diretamente relacionada ao cotidiano do trabalhador. Desta forma, o adulto deve conhecer sua realidade para poder inserir-se de forma crítica e atuante na vida social e política.
No começo de 1964, foi convidado pelo presidente João Goulart para coordenar o Programa Nacional de Alfabetização. Logo após o golpe militar, o método de alfabetização de Paulo Freire foi considerado uma ameaça à ordem, pelos militares, e a coragem de pôr em prática um autêntico trabalho de educação que identifica a alfabetização com um processo de conscientização, capacitando o oprimido tanto para a aquisição dos instrumentos de leitura e escrita quanto para a sua libertação fez dele um dos primeiros brasileiros a serem exilados. Viveu no exílio no Chile e na Suíça, onde continuou produzindo conhecimento na área de educação.
Retornou ao Brasil no ano de 1979, após a Lei da Anistia.
Sua principal obra, Pedagogia do Oprimido, foi lançada em 1969. Nela, Paulo Freire detalha seu método de alfabetização de adultos.
O envolvimento de Paulo Freire nos movimentos populares do nordeste, à época anterior ao golpe militar, reforçam sua opção pelas camadas menos privilegiadas da população, os chamados oprimidos.
Grande parte da contribuição teórica de Paulo Freire resultou de suas experiências no nordeste do Brasil e em outros países da América Latina. Entretanto os diversos trabalhos que Paulo Freire exerceu nos países da África também contribuíram enormemente para enriquecer sua prática e sua teoria pedagógica, levando-o a repensar certos métodos e idéias de primeiro momento de um ponto de vista político-pedagógico.
Durante a prefeitura de Luiza Erundina, em São Paulo, exerceu o cargo de secretário municipal da Educação. Depois deste importante cargo, onde realizou um belo trabalho, começou a assessorar projetos culturais na América Latina e África. Morreu na cidade de São Paulo, de infarto, em 2/5/1997.
Como o nordeste de Paulo Freire ainda é o Brasil dos muitos milhões de brasileiros empobrecidos, inclusive de outros Estados, sem direito a uma vida digna, sem acesso à educação, à saúde, à moradia, vivos em uma realidade de sobreviventes, a realidade sofrida evidencia o abandono e comprova que muito ainda há para se fazer para erradicar a fome e a miséria no país. Mas tudo isso passa pela mudança transformadora de uma educação que seja libertadora, como defendia o mestre.