O currículo único esconde o arco íris cultural dos estudantes

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Corinta Geraldi da Unicamp, Luisa Cortesão, da Universidade do Porto – Portugal e José Mário Aleluia da Universidade Federal de Sergipe encerraram a XII Conferência Estadual de Educação com a mesa “Currículo e transversalidade”

Nesta segunda visita a Sergipe, Luisa Cortesão puxou a discussão no trinômio: criança/educação e paz e para ilustrar citou o exemplo de Malala Yousafzai (Prêmio Nobel da Paz) que aos 13 anos (hoje ela tem 15) foi baleada por buscar o direito de estudar. Em sua reflexão disse que os estudantes só poderão ser efetivos cidadãos se a educação for em, e não para, a cidadania.

Ela voltou a ressaltar (tinha feito isso em encontro realizado pelo SINTESE em agosto) que é preciso enxergar o arco íris cultural dos estantes. Para ela o currículo único gera um “daltonismo cultural” onde os estudantes são vistos de forma idêntica.

Na atual conjuntura onde estudantes e professores são submetidos a uma série de violências, não se criam situações para que se tenha uma justiça cognitiva. A escola acaba sendo o local onde se “aprende que não é capaz de aprender”.

“Enquanto não se reconhecer a importância de se aplicar uma justiça cognitiva (que envolve não só questões referentes a Educação, mas também aos Direitos Humanos no geral) o arco íris cultual é transformado em desigualdade.

Mesmo que a modernidade possibilite outras formas de aprendizado, José Mário Aleluia ainda considera a escola como uma instituição fundamental para o processo de ensino/aprendizagem, mas não a escola como é estruturada hoje, com a estruturação de um só currículo único que não “dá possibilidade de compreensão do arco íris cultural dos estudantes”, citando a professora Luisa Cortesão.

Para ele, a transversalidade curricular é uma das possibilidades na construção de uma escola democrática e popular, pois uma prática curricular disciplinadora “não respeita a diversidade cultural”. Trazendo exemplos de escolas em diversas regiões do país, Aleluia mostrou que a escola democrática e popular surge a partir da tomada de consciência daquela comunidade escolar da necessidade de reestruturar seus currículos e consequentemente suas práticas pedagógicas.  “É preciso deixar de apostar no conteudismo, nas relações hierárquicas e nas avaliações como mérito”, apontou.

“O currículo mínimo acaba se transforma em currículo máximo”, ressaltou a professora Corinta Geraldi da Unicamp ao abordar as questões relacionadas ao currículo em ação.  Para ela, os educadores, junto com os demais atores da comunidade escolar, devem tomar as rédeas e construir os seus próprios currículos levando em consideração o cotidiano da escola. “Penso que os educadores podem se organizar em grupos e debaterem quais os temas serão privilegiados naquele período letivo, de acordo com cada contexto de trabalho”, exemplificou.

Também ressaltou experiências realizadas em diversas escolas e lembrou do Fórum de Práticas Pedagógicas realizado pelo SINTESE. Para ela é preciso dar força para as experiências que acontecem nas escolas, pois elas são o pontapé para uma mudança de paradigma no que concerne a questão do currículo.

Ela propôs também que os educadores mobilizados através dos seus sindicatos possam pensar em cursos de especialização para que práticas pedagógicas libertadoras sejam fomentadas para o maior número possível de educadores.