Revista Paulo Freire nº50 celebra aniversário do SINTESE

50

O poeta Thiago de Mello escreveu que “faz escuro mas eu canto, porque a manhã vai chegar”. Num período tão difícil de nossa história, com o avanço de políticas de direita e de extrema-direita que acatam a vida, as pessoas, o meio ambiente, a escola pública, não podemos nos deixar levar pelo desânimo, pela sensação de terra arrasada, de que tudo está perdido.

Esse sentimento de derrota é político porque ele pode nos paralisar. A edição número 50 da Revista Paulo Freire cumpre a tarefa de dizer que não podemos aceitar o fatalismo e uma parte do ânimo para nossa reação é a memória. O SINTESE está completando neste mês de setembro 47 anos. E pergunto: lá atrás, quando nem sindicato do Magistério Público existia, era mais fácil que agora? É nítido que não.

Quem conta parte dessa história nessa edição é a nossa querida professora Ana Lúcia, que foi uma das lideranças que fundou o SINTESE, foi sua presidenta, foi da direção da CNTE, foi deputada estadual e secretária de Estado. Para as professoras e professores, que no final dos anos 1980 e começo de 1990 estavam na luta, é momento de relembrar. Para os mais jovens é a revelação de um legado de lutas duríssimas, um reanimar a chama de uma história que não terminou.

Além da entrevista especial com a professora Ana Lúcia, também trazemos os ricos depoimentos de lutadoras fundamentais nessa jornada, como os das professoras Maria José, Jailde dos Passos, Bernadette Pinheiro, Sandra Beiju. Por uma questão de espaço e tempo, não foi possível colocar todo mundo aqui.

Nesta edição, além dos 47 anos do SINTESE, também trazemos informações e análises importantes sobre uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre como as escolas devem coibir discriminações machistas, de identidade de gênero e de orientação sexual.

Publicamos ainda uma análise sobre o IDEB, que precisa de correções para priorizar a equidade com qualidade na educação. Além desse artigo, trazemos mais um sobre o “novo” Ensino Médio, mostrando que a Lei 14.945 sancionada e que começa a valer no próximo ano ficou aquém do esperado por professores e alunos, ou seja, não garante qualidade.

Como estamos vivendo no exato momento das eleições de prefeitos e vereadores, publicamos uma carta sobre esse processo, chamando a atenção que a sociedade vote em que ajude a consolidar o sistema público das redes municipais de ensino, com amplo acesso e permanência dos/as estudantes na escola pública; que fortaleça a gestão democrática da educação, com eleições diretas para as direções escolares e valorização dos projetos político-pedagógicos em cada instituição educacional; que consolide na sua cidade o funcionamento livre e pleno dos conselhos, fóruns e demais espaços de participação social, bem como o debate e a construção do Plano Municipal de Educação (PME); entre outras.

Também publicamos um texto excelente da professora Camila Angélica Silvestrini, que é mestre em educação pela Unifesp e atualmente, professora da rede municipal de São Paulo. Ela escreve sobre a educação para a humanização a partir dos desafios e contradições da práxis educativa freiriana. E por falar em Paulo Freire, fechamos a edição com mais um texto dele retirado da obra “Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa” (edição Paz e Terra, 1996).

Bom, como comecei trazendo Thiago de Mello, encerro também com ele e no mesmo poema. Escreve: “Vem ver comigo, companheiro, a cor do mundo mudar. Vale a pena não dormir para esperar a cor do mundo mudar”. É isso, “vale a pena não dormir para esperar”. Sigamos. Está aqui mais uma edição da Revista Paulo Freire, que é um material para professoras, professores, estudantes, pais e para sociedade, uma proposta de leitura, debate e proposições. Assim, leia, repasse, discuta e escreva para a gente.


Roberto Silva
Presidente do SINTESE