O Fórum Social Mundial começou na América Latina – mais particularmente no Brasil, em Porto Alegre -, para onde deve retornar em 2013. A escolha do continente e do país se fizeram para se contrapor ao Fórum Econômico de Davos, que representava, entre outras coisas a vitória do centro do capitalismo sobre a periferia, com a emergência da globalização neoliberal.
A América Latina foi escolhida, por ter abrigado os principais movimentos de resistência popular aos governos neoliberais que proliferavam no continente – dos zapatistas ao MST, dos movimentos indígenas da Bolivia aos do Equador, do movimento camponês peruano aos piqueteiros argentinos. O Brasil foi o país definido como sede, pela presença do PT, do MST, da CUT, dos governos de orçamento participativo, da liderança do Lula. E Porto Alegre, justamente por ter sido pioneira nas experiências de orçamento participativo.
Dez anos depois, após ir à Asia e à Africa, o Forum Social volta à América Latina, única região do mundo onde há governos que buscam construir governos de superação do neoliberalismo. Com matizes diferenciados, esses governos – de que 5 presidentes estiveram no FSM de Belém, em 2009 – privilegiam os processos de integração regional no lugar dos Tratados de Livre Comércio com os EUA, priorizam as politicas sociais e a extensão do mercado interno de consumo popular no lugar da prioridade neoliberal aos ajustes fiscais.
Essas opções permitiram terminar com a diminuição dos Estados às suas proporções mínimas, que promoveram um brutal processo de mercantilização das relações sociais e do próprio Estado. Os processos de privatização foram brecados, assim como as aberturas desenfreadas das economias nacionais ao mercado internacional. Políticas de integração regional foram priorizando os intercâmbios entre os países da região e com os países do Sul do mundo. O poder aquisitivo dos salários foi recuperado sistematicamente, assim como o nível de emprego formal.
Como resultado, os países que priorizam a integração regional e as politicas sociais, diminuíram significativamente as desigualdades sociais, promoveram processos de distribuição de renda e de inclusão social, que fazem do período atual aquele em que esses países mais pudessem avançar naquele aspecto mais dramático da América Latina – o continente mais desigual do mundo.
Diante da crise econômica internacional, nascida no centro do capitalismo, os países que priorizaram a integração regional e o desenvolvimento do mercado interno de consumo popular, puderam reagir muito melhor, demorar mais para entrar na crise e sair dela mais cedo. Enquanto isso, um pais como o México que, na contramão dessa opção, assinou um Tratado de Livre Comércio com os EUA, amarrando seu destino ao vizinho do norte, com quem tem mais de 90% do seu comercio exterior, sofre os duros efeitos da crise profunda e prolongada dos EUA. Da mesma forma, os países europeus, que optaram por pacotes recessivos tipo FMI – de triste memória para nós, no governo FHC – seguem em crise, com níveis recordes de desemprego.
O próximo FSM pode renovar-se, incorporando avanços do realizado em Dacar – quando Evo Morales e Gilberto Carvalho falaram na sua abertura – colocando no seu centro a relação entre os governos progressistas latino-americanos e os movimentos sociais, para discutir as diferenças e articular os pontos em comum para multiplicar a força de todos eles.