Sábado, 16/07/2011, logo cedo irei à São Paulo, e à noite, seguirei viagem à Cidade do Cabo, África do Sul. Junto à quatro dirigentes da CNTE ( Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação) participaremos do Congresso da Internacional da Educação, Organização Mundial de Educadores que debate e delibera lutas por políticas de valorização da educação e dos educadores de todo o planeta.
Participar de um evento dessa magnitude, por si só, já é um grande privilégio para um professor, mas estar na África para mim é uma realização de vida, que um dia vi refletida na música dos tribalistas, “você é assim :um sonho pra mim”, “meu riso é tão feliz contigo” . Sonho que se inicia na minha “velha infância”, e assim a decifro nos tenros anos de adolescência, quando pude dar conta dos amores e dissabores da minha negritude.
A África nunca saiu de mim. O meu espelho não me faz esquecê-la, a imagem da minha mãe não me deixa negar, os rostos das minhas filhas me fazem lembrar que elas, ela, e eu somos um só.
No entanto foi a paixão pela literatura que me fez descobrir o gigante continente, e me aproximar daquele que soube bem dizer o que era esse sentimento, Castro Alves :
“Minha terra é lá bem longe,
Das bandas de onde o sol vem;
Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!”
( Canção do Africano )
Castro Alves foi quem também melhor exprimiu o primeiro apartheid:
Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d’amplidão!
Hoje… o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar…
(Navio Negreiro)
Em toda sorte de tempestades, os negros e negras resistiram ao trabalho animal e às taras dos que se embebiam do sangue e da alma do outro, e que compuseram uma herança de mais de quinhentos anos.
E de tantos e tantos vagares sinto-me legitimamente representado pela música – arte suprema- “a música dá a vida quando a vida falta”, de todos os ritmos, de todos os tons, as que nutrem corações apaixonados; as que afloram orações emocionadas, os cérebros criativos, as almas supremas. Mas também da dança. A dança que inebria, faz chover, mostra as infinitas possibilidades do corpo físico.
Mas, sem dúvida, a nossa principal herança é o humano, a informalidade, o riso fácil, a resistência às adversidades, sempre múltiplas, quase sempre injustas.
É na terra de Mandela – “ Diga não ao apartheid ,e libertem Mandela , nosso grande irmão” (Banda Reflexus) – Símbolo de resistência para o mundo, por sua luta contra o mais odiento regime de segregação de um povo, que acontecerá o primeiro congresso internacional de educação desta década, os desafios são gigantescos, o mundo capitalista em crise, o Brasil tentando emergir nesse cenário, e a valorização dos educadores ainda como principal ponto de pauta.
Vou-me, e deixo aqui minha gratidão aos educadores à esquerda desse país, aos que fazem o Sintese, minha grande inspiração, aos companheiros sergipanos e brasileiros que na qualidade de delegados ao congresso da CNTE me reconduziram à direção nacional desta entidade, e que , cada vez mais me aviva a idéia de que sonhos e realizações podem ser sinônimos, quando a luta, a atitude, o despreedimento, a justiça social, e a sensibilidade para o bem comum forem os princípios que alicercem uma sociedade sem apartheid.
Até breve!